Ele se aproximou e me pediu pra juntar nossas mãos, ele parecia tão apavorado quanto eu, ele começou a contar nossos dedos e pediu que eu acompanhasse. No 7º dedo eu voltei a respirar normalmente e a dor amenizou.
-Você está melhor? - ele me olhava preocupado.
-Estou, isso nunca aconteceu antes, me desculpa.- ele riu.
-Te desculpar por ter uma crise de pânico? Eu não poderia, não é culpa sua. -ele começou a se deitar do meu lado e eu dei espaço, ele passou o braço pela minha cintura, nossos rostos estavam a cm de distância.
-Vai dormir aqui?- eu tentava parecer calma mas assim que notei a falta da sua camiseta eu entrei em pânico.
-Caso você passe mal de novo, vou estar aqui.- eu notei que ele estava sendo sincero. Me aconcheguei na cama e ele colou seu corpo no meu. Voltei a dormir.No dia seguinte...
Acordei com a luz batendo no meu rosto, não queria acordar, assim que abri os olhos notei que estava deitada sobre o peito do Cesar, como naqueles filmes românticos. Rapidamente eu sai de cima dele.
-Tudo bem, eu não mordo.- ele sorria, aparentemente acordado a um tempo.
-Eu só... é...-ele beijou minha testa e se levantou, sem se importar com o que eu ia dizer, ainda bem por que eu não sabia o que dizer. Me levantei atrás dele e o segui até à cozinha.
-O que você come no café?- ele pergunto enquanto encava a geladeira.
-Não como de manhã, me dá enjôo.- eu sabia que essa desculpa sempre funcionava.
-Minha irmã também sente, sabe o que a gente faz? Da coisas mais sólidas pra ela, que tal você comer torradas? Tem um pacote no armário.-ele estava tornando minha vida bem mais difícil, esse era o lado de ruim de ter pessoas próximas de você. Me lembrei do Igor é uma angústia me invadiu, tratei de me livrar dela.
-Tudo bem se eu não comer, estou acostumada. -sorri para que parecesse casual.
-Como achar melhor, gatinha. - ele disse passando por mim com um prato cheio de frutas e leite condensado que ele havia preparado. Fomos os dois para o sofá e ligamos a tv enquanto ele comia.
-Posso te perguntar algo, César?- ele direcionou o olhar pra mim enquanto comia um pedaço de morango. Assentiu com a cabeça e me encarou.
-Como você sabia o que fazer ontem, quando passei mal?- ele relaxou os músculos e sorriu.
-Por conta dos meus pais sempre viajarem muito eu tomo conta das minhas irmãs, e pelo mesmo motivo a uns dois anos a Lívia começou a ter ansiedade e e crises de pânico, como a sua, então eu aprendi a lidar com elas. Por isso dormi com você, isso sempre faz com que ela não tenha duas na mesma noite.- eu não contive o sorriso, beijei-o na bochecha.
-Obrigada.- eu senti que não precisava dizer mais do que isso.
Passamos a manhã toda conversando, o assunto com ele nunca acabava, já era por volta da 12:30 quanto minha vó ligou pelo interfone pedindo que eu subisse, e assim o fiz.
-Oi vovó, como foi a noite?- entrei perguntando.
-Boa querida, e a sua? - ele me encarava com um olhar estranho.
-Boa também.
-Querida, posso lhe fazer uma pergunta?- ela se sentou no sofá e fez sinal para que eu me sentasse também.
-Claro. - me sentei ao seu lado.
- Você é virgem? - eu fiquei vermelha, podia facilmente ser confundida com um tomate.
-Que? Como assim, vovó?- ela riu.
-Vai me dizer que você não sabe o que é transar? Só quero saber se já aconteceu, nada demais. - eu pensei em mentir, mas eu não tinha um relacionamento próximo com ela, mentir só atrapalharia.
-Não...- olhei para o chão tentando disfarçar.
-Foi ontem com o Cesar?- dessa vez eu quem riu.
-Você tá louca vovó? Não!!!- ela riu também.
-Fico feliz que tenha me contado.- eu sorri e fui pro quarto. Tomei um banho e vesti uma camiseta larga e uma calça leg. Voltei para sala e minha vó estava no sofá.
-Posso dar uma saída?- perguntei com medo, meu pai nunca deixaria.
-Claro, leve o celular e se for dormir fora me liga. -eu sorri e sai, nunca foi tão fácil sair de casa. No elevador sei de cara com a Lívia quando passamos pelo andar dela.
-Thina, né? - fiz que sim com a cabeça e a cumprimentei. -Meu irmão estava pensando em chamar você para ir ao shopping. -sorri involuntariamente.
-E onde ele está? -ela me olhou de cima a baixo e saiu do elevador, havíamos chego. Sai atrás dela. Fui para fora do condomínio e encarei a rua, tantas possibilidades, um bairro novo, com pessoas novas, tanta coisa nova. Eu sai andando observando as árvores, andando bem devagar, prestando atenção em cada detalhe, nos muros dos prédios, nos portões das casas, nos vidros das janelas. Eu estava a uns 500 metros da portaria, no mesmo quarteirão quando escutei alguém gritando meu nome, eu não olhei, podia ser outra pessoa, então ouvi novamente, me virei e era o César correndo na minha direção. Tentei não ri mas foi em vão, ele estava muito engraçado, todo desajeitado, quando me alcançou se apoiou sobre seus joelhos e respirava ofegante.
-Está tudo bem? Você parece que correu a maratona mas pra mim parece que eu só andei uns 500 metros do portão pra cá -falei debochando da cara dele.
-Você é muito atrevida, eu corri por que minha irmã disse que você devia estar um tanto longe daqui, fiquei com medo de não te encontrar.-o encarei intrigada.
-Sua irmã te avisou que sai?- ele assentiu com a cabeça enquanto sua respiração se normalizava.
-Ela me ligou e disse que você havia saído do prédio já fazia um tempo, não sei como você ainda está aqui.- eu fiquei ainda mais confusa.
-Ah sim, é que eu gosto de observar os detalhes dos lugares onde eu moro, as cores das paredes, o estilo das janelas, a forma como as folhas colorem o chão de concreto...- parei assim que notei o quão poética eu estava sendo.
-Continua, eu nunca olhei dessa forma, me conta mais sobre como você vê as coisas. - ele me olhava com admiração, pensei em negar, afinal, nunca ninguém se interessou pelo modo como eu vejo as coisas, mas decidi ceder.
-Olha como na mesma arvore existem botões, flores um pouco fechadas, flores abertas e frutos. Quando um fruto cai todo o ciclo começa de novo, mas ao mesmo tempo ele ainda está acontecendo. Entende? -ele riu mas assentiu.
-Não pensei que você fosse tão reflexiva, realmente, não faz o seu estilo, mas eu gostei.- ele sorriu.
-Correr por aí atrás das pessoas também não faz o seu estilo, mas olha só né kkkkk- rimos e ele se sentou na calçada, me sentei ao seu lado.
-O que faz o meu estilo?- ele me perguntou encarando a árvore do outro lado da rua.
-Você tem cara de pegador, aqueles que passa e as garotas babam kkkkk tipo os jogadores de futebol americano nos filmes- ele deu risada.
-As meninas babam por mim, isso é óbvio, mas eu não sou pegador, ter duas irmãs me faz pensar muito antes de ficar com uma garota.- eu sorri ao ouvir a resposta.
-E eu? Qual meu estilo?-perguntei brincando com a corrente em meu pescoço.
-Você é daquelas garotas bonitas, mas não igual às outras, não é uma beleza comum, e mesmo sendo tão linda você se esconde atrás de roupas e ações por que você tem medo da sua beleza.- eu mantenho meu olhar no chão, eu não sei o que dizer. O clima entre nós fica pesado, o silêncio que durava alguns segundos parecia uma eternidade até que foi quebrado. Não por palavras. Ele levantou meu queixo com os dedos e antes que eu pudesse evitar ele me beijou. Foi um beijo calmo, sua mão acariciava meu rosto enquanto a outra segurava minha cintura, o beijo foi se aprofundando e logo a mão dele estava na minha nuca puxando devagar meus cabelos e a outra apertava minha cintura, minhas mãos estavam nos seus cabelos e eu desejava ter todo o ar do mundo para poder continuar sentindo sua língua travar uma batalha com a minha, mas tivemos que respirar.
-Me desculpa... é que... eu... bom...- antes que ele se enrolasse mais com as palavras eu selei nossos lábios novamente. Dessa vez era um beijo eufórico, eu precisava dos lábios dele tanto quanto ele precisava dos meus. Nossas línguas brincavam em perfeita harmonia e nossas mãos iam sempre ao lugar certo, novamente o ar nos venceu. Ele me olhava sorrindo de canto e assim que abriu a boca eu o interrompi.
-Não precisa falar nada, tá tudo bem.- ele sorriu por inteiro e eu retribui o sorriso. Levantamos e continuamos andando, eu estava com os olhos fixados em uma casa com uma coloração meio amarelada, quase bege, com as janelas azuis piscina, no jardim uma árvore pequena de algum fruto que eu não identifiquei, eu estava criando mil histórias com aquela casa quando César me tirou do transe me dando a mão, eu olhei para os nossos dedos entrelaçados e sorri. Andamos até darmos a volta no quarteirão, quando meu celular começou a tocar.Ligação on
-Alô vovó?
-Desculpa atrapalhar seu passeio, minha querida, mas eu tenho uma surpresa que você irá adorar.
-Tudo bem vovó, já estou subindo.Ligação off
Me despedi de César no elevador, ele me roubou um selinho. Eu não sabia o que aquilo queria dizer, mas tentei não me preocupar tanto dessa vez. Assim que entrei em casa minha vó estava sorridente.
-Qual minha surpresa?-ela se posicionou na frente do corredor como se fosse fazer uma grande entrada.
-Você não me falou nada sobre, mas depois conversamos, ouviu mocinha?-ela disse em tom de brincadeira, mas ainda era um enigma pra mim.
-Vamos vovó, sou ansiosa.
-Seu namorado!!!- ela saiu do corredor e atrás dela veio ele...
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Reconstruída
Ficção AdolescenteSobre uma menina, Valenthina, que os 6 anos sofria bullying por ser acima do peso. Aos 8 anos sua mente é completamente destruída, após uma humilhação pública em frente a seus colegas, Val se torna uma menina fria, sozinha e adquire distúrbios alime...