Capítulo 1

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Ferdinand deixou o escritório um pouco depois das nove e quarenta e cinco, com os votos de parabéns de seus colegas ainda ecoando em seus ouvidos.

Havia passado o dia inteiro, mergulhado no trabalho, apresentando ideias para a nova campanha de publicidade que a empresa deveria apresentar para o cliente, dali a um mês e pouco.

Modéstia parte, suas ideias haviam sido realmente muito boas. Mesmo assim, quase caíra da cadeira quando o dono da agência, Marcus Oliver, o chamara e lhe dera uma promoção que jamais sonhou em obter: a chefia do departamento de criação.

Então, ao sair do elevador e deixar o prédio, a sensação de euforia que invadira-lhe a alma dera lugar a um outro tipo de sentimento: o pavor. É que sua agência ainda não havia ganhado a conta e a responsabilidade de obtê-la estava em suas mãos.

Começou a andar pela calçada, tentando convencer-se de que estava mais do que pronto para aquele desafio. Tinha quase trinta anos e estava no ramo da publicidade há cinco, o que era uma vida naquele tipo de trabalho! Além disso, era um homem muito inteligente e capaz que, com certeza...

— Oi, Ferdinand.

Ele estava tão distraído, que nem havia reparado no rapaz loiro que caminhava quase ao seu lado.

— Oi, Antony. Eu nem tinha visto você. Acho que estou com a cabeça no mundo da lua!

Antony Jordan era seu vizinho, além de um grande amigo. Na verdade, havia sido ele o corretor que lhe vendeu o apartamento onde hoje morava. Seu ramo de trabalho agora, porém, era outro. Atualmente, Antony fazia parte da Mudanças Rápidas, uma empresa especializada em organizar a vida de executivos que deixavam suas cidades de origem e vinham morar em São Paulo. Era um bom emprego, o salário era bem razoável e ele parecia feliz e satisfeito.

Provavelmente um dos Homens mais bonitos da cidade, Antony poderia ter qualquer homem que escolhesse. Mas acabara se casando com Pilliph Magnan, um fulano que não valia nada e que fizera de sua vida um verdadeiro inferno.

O divórcio saíra há alguns meses e, desde então, ele não mostrara nenhum interesse por outros rapazes. Ferdinand não achava que tal fato fosse durar para sempre. Seu amigo era muito jovem para abraçar o celibato definitivamente. Os dois sempre saíam juntos para almoçar ou tomar um café.

— Trabalhando até tarde de novo, Ferdinand? Desse jeito você vai acabar tendo uma estafa!

Ferdinand deu um sorriso.

— Olhe só quem fala. Você trabalha tanto quanto eu. Até mais, eu diria!

Antony fez uma careta.

— Sabe de uma coisa? Trabalhar é bem melhor do que ficar em casa olhando pela janela, fazendo pedidos para as estrelas!

— Pedidos para as estrelas? Será que você não estaria se referindo a... um homem? Vamos, Antony, admita. Você não vai querer passar o resto de sua vida sozinho, vai?

Ele deu um suspiro.

— Talvez não. Mas a ideia de me casar de novo é assustadora demais. Na verdade, não tenho o mínimo interesse sequer em conhecer qualquer homem no momento. Eles não valem o que comem. Nem o que bebem. Sabe o que eu queria num homem, Ferdinand? Que ele tivesse sangue correndo nas veias, em vez de cerveja. Um homem que gostasse mais de mim do que do seu carro e de seus amigos!

Ferdinand caiu na risada.

— É, acho que você realmente está querendo demais!

Rindo e conversando, os dois amigos continuaram seu caminho. Moravam num prédio chamado Colinas Del Rey e só Deus sabia o motivo daquele nome. O único verde que se via, vinha dos vasos de flores e plantas que alguns moradores haviam colocado em seus pequenos terraços.

FELIZES PARA SEMPREOnde histórias criam vida. Descubra agora