Capítulo 9

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Apanhou uma toalha, secou ligeiramente os cabelos e abriu a porta do banheiro. Raphael assistia televisão sentado no sofá, uma xícara de café certamente muito doce em suas mãos.

Olhou para ele e deu um sorriso.

— Está melhor?

— Estou, obrigado.

Mas que droga... Ele parecia calmo e relaxado, completamente indiferente ao fato de ele estar nu por baixo do roupão.

— Alguma coisa de interessante na televisão?

— Não sei. Na verdade, nem estava prestando atenção. É que me distraí. Estava pensando...

— Pensando no quê?

— Em levá-lo para a cama. Você ainda me quer?

Ferdinand sentiu que o ar lhe faltava e especulou se estava tendo um infarto. Permaneceu ali, parado, o queixo caído, esperando a hora de se esborrachar no chão. Ele fez um meneio com a cabeça.

— Bem, estou vendo pele expressão de seu rosto que já está bem sóbrio e que não precisa mais dos meus serviços, na cama e fora dela.

Ato contínuo, colocou a xícara de café em cima da mesinha e se levantou.

Ferdinand permaneceu onde estava, sem ainda conseguir respirar. Tentou falar alguma coisa, mas nenhum som saiu de sua garganta.

— Talvez tenha sido melhor assim — continuou ele. — Se você tivesse tido uma reação um pouco mais positiva, acho que não teria conseguido resistir. Bem, já vou indo. Você está tão delicioso e tentador com esse roupão que, se eu ficar aqui por mais dois minutos, não vou conseguir responder por meus atos. Boa noite, Ferdinand. Posso ligar daqui alguns dias para combinar um almoço? Ou um jantar, quem sabe. Olhe, acho que nem vou lhe dar um beijo de despedida. É que você está tão irresistível, que o bom senso manda que eu me mantenha bem afastado. Você compreende, não é?

O que ele compreendia, era que Raphael se dirigia agora para a porta, um estudo de elegância e de perfeição masculina em cima de duas pernas.

Sim. Raphael estava deixando seu apartamento. E ele ia permitir que um absurdo daqueles acontecesse! Dentro de mais um ou dois segundos, o homem mais maravilhoso que conhecera na vida iria ter sumido de sua frente! O que ele dissera? Que ele era delicioso, tentador e irresistível. Ao contrário de Nick. Seu ex odiava vê-lo de cabelos molhados. Dizia que ficava parecendo um gato afogado.

— Espere!

Raphael tinha a mão encostada na maçaneta quando ouviu o chamado de Ferdinand. Lentamente, virou-se para ele.

— Sim?

— Eu... eu... — Até o ato de falar lhe era difícil. — Eu... não quero que você vá embora.

O rosto dele mostrou surpresa e confusão.

— Eu posso saber o que você está querendo dizer com isso?

— O que eu estou querendo dizer é que... é que...

— Vamos, Ferdinand, estou esperando.

— Eu... quero que você fique aqui comigo, Raphael.

— A noite inteira?

Bem, ele não tinha imaginado tanto tempo assim. Mas já que a sugestão havia sido feita, não havia motivo para não aceitá-la.

— Sim. A noite toda.

Ele apertou os olhos.

— Você não está querendo que eu durma aqui no sofá, está?

— N... não.

— Você ainda está bêbado?

— Não!

— Então, por quê?

— Por que o quê?

Raphael voltou a sentar-se no sofá.

— Minha cara Ferdinand, nós nos conhecemos há dez anos. Durante esse tempo todo, você nunca me deu a mínima. Posso saber a troco de que mudou de ideia?

Ele engoliu em seco.

— Eu... eu...

— Vamos, quero que me dê três boas razões peles quais pretende ir para a cama comigo. Mas faço questão de deixar uma coisa bem clara. Se o negócio tiver algo a ver com o casamento de Nick hoje à tarde, saio voando daqui antes que se dê conta do que está acontecendo!

Ferdinand ainda tentou protestar:

— Hei! Mas isso não é justo! E difícil explicar como estou me sentindo agora, depois de tudo que aconteceu no dia de hoje!

— Tente, pelo menos. Estou esperando. Ele jogou-se numa poltrona.

— Olhe, Raphael... gostaria que você me entendesse... estou tão surpreso e confuso quanto você. A única coisa da qual tenho certeza é de que, desde que me beijou naquela recepção, venho tendo pensamentos pecaminosos a seu respeito. Estou morrendo de vontade de que me beije novamente. E, além disso, quero ver se... se...

Ele parou de falar, seu rosto de súbito adquirindo um brilhante tom avermelhado.

— Se o quê? Vamos, continue. Quero que você me diga toda a verdade. Mande a timidez e a vergonha para o inferno, está bem?

— Tudo bem. Você venceu. Eu... eu... quero ver se você é tão maravilhoso na cama como em todas as outras coisas que faz na vida.

Ferdinand o assustou com suas palavras. Aquilo era mais que evidente. Raphael arregalou os olhos e, pele primeira vez na vida, ficou completamente mudo.

Ele então tratou de tirar vantagem daquela situação a fim de satisfazer sua própria curiosidade.

— E você, Raphael? Posso saber por que quer dormir comigo? Você nunca me achou atraente, muito menos irresistível. Agora é a minha vez. Vamos, me dê três razões pele qual está com vontade de me levar para a cama. E vou alertá-lo do seguinte: se tiver alguma coisa a ver com o casamento de Nick, você vai sair daqui voando antes que se dê conta do que está acontecendo, porque eu mesmo terei o máximo prazer em colocá-lo para fora!

Ele riu, mostrando que já tinha se recuperado de seu estado de choque. De qualquer modo, quando abriu a boca, sua voz saiu um pouco amarga:

— O que você está esperando de mim, Ferdinand? Uma declaração de amor?

— Ora, não seja ridículo. Eu só quero a verdade. Por acaso acha que sou tão imbecil assim a ponto de acreditar numa asneira dessas?

— Eu sei que não acreditaria.

— Ótimo. — Ele fez uma pausa. — Bem, será que o gato comeu sua língua? Ou será que não consegue pensar em nenhuma razão convincente? Olhe aqui, Raphael, se você estiver querendo me levar para a cama como uma espécie de ato de caridade, só porque está morrendo de pena de mim, eu... eu...

Ele caiu na risada.

— Não, meu querido. Não estou com pena de você, acredite em mim.

— Então abra a boca e desembuche logo.

— Tudo bem, tudo bem. Eu quero dormir com você porque venho sonhando com isso há algum tempo. Muito tempo, na verdade. — Ele se levantou e aproximou-se dele. — Já perdi a conta das vezes em que sonhei que estava te despindo, que estava beijando seu corpo todo... E agora, gostaria que tudo isso se transformasse em realidade.

Quem pareceu entrar em estado de choque foi o próprio Ferdinand. Mas que história maluca era aquela? Raphael, sonhando em levá-lo para a cama há muito tempo? Não podia ser...

Mas então ele o tomou nos braços e qualquer pensamento coerente sumiu de sua mente como poeira ao vento.

FELIZES PARA SEMPREOnde histórias criam vida. Descubra agora