O PROTETOR

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A beleza de Asgaroth era tão simples que chegava a ser como uma pintura em aquarela minimalista, uma imensidão completamente vazia, coberta pela grama verde, com uma estrada em linha reta que ninguém sabia onde era o início e onde era o fim, mas que todos sabiam para que lado ficava o início e para que lado ficava o fim.

No meio dela ficava uma pousada, que acolhia os viajantes que se aventuravam pela estrada, alguns viajantes entravam e saiam, outros entravam e ficavam, mas iam embora em outro momento.

Mas tinham aqueles que nunca iam embora.

- Baron, quando pretende continuar sua viagem? - Harold, o barman, perguntou a um homem grande e musculoso.

- Planejo ficar mais alguns dias - Ele respondeu.

- Foi o que você disse mês passado!

- Me dê mais tempo, por favor!

- Você precisa continuar sua jornada meu amigo, ficar parado no mesmo lugar não é bom para você! - Baron resmungou alguma coisa - Você não pode morar aqui! Isso aqui é uma pousada, você vem, fica alguns dias e depois vai embora! Têm meses que você está aqui!

- Só mais alguns dias até eu conseguir me organizar.

- Tudo bem.

Harold podia se lembrar do dia que Baron chegou a pousada pela primeira vez. Ele estava desesperado, dizia que não era para ele estar naquele lugar e que ele queria voltar para casa imediatamente pois tinha alguém que precisava dele, Harold disse para ele se acalmar e se organizar, pois o caminho de ida era fácil, mas o caminho da volta era quase impossível de se conseguir.

Baron ficou na pousada desde então, se recusando a sair, se recusando a seguir em frente.

Naquela noite o grande homem foi para seu quarto e deitou na cama, com as mãos na cabeça ele repetiu para si mesmo:

- Eu tenho que voltar... eu preciso voltar...

Ele se virou e viu sua velha mochila, a mesma que estava com ele naquele dia.

Ele a abriu e pegou a foto de um garoto com aproximadamente doze anos, fechou-a e se deitou novamente olhando para a foto dele até o dia amanhecer.

Quando o sol raiou ele desceu novamente até o salão.

Dessa vez ele carregava todas as suas coisas consigo.

- Vai partir?! - Harold disse surpreso.

- Eu pensei muito no que você me disse ontem...

- E?

- Não vou continuar minha viagem, estou decidido a voltar para casa...

- Baron...

- Eu preciso muito que você compreenda Harold! Eu não posso ir...

Baron abriu sua mochila, retirou a foto do garoto de ontem à noite mostrando-a para o barman.

- Quem é esse? - Harold perguntou olhando a foto do garoto gordinho de cabelos castanhos.

- Esse é meu sobrinho...

Harold olhou para os olhos de Baron.

- Bom, ele não é tecnicamente meu sobrinho de sangue, ele é filho de um amigo meu... bem, era filho.

- O que aconteceu?

- A mãe o abandonou logo depois que se recuperou do parto, então só o pai cuidou dele quando era bebê, mas um dia ele estava viajando em uma estrada movimentada e acabou sendo surpreendido por um motorista bêbado, os carros se colidiram e ele acabou morrendo - Baron abaixou a cabeça - Isso aconteceu no aniversário de cinco anos do Enrique, esse é o nome do garoto... eu era muito amigo dele e vi que a criança, que já não tinha mãe, agora também não tinha mais pai, então eu assumi a guarda e passei a cuidar do Enrique como um filho...

Baron já estava derramando lágrimas.

- Você não entende? Eu preciso voltar para casa, O Enrique está lá sozinho, provavelmente com medo, esperando eu voltar! Eu não posso seguir minha viagem agora... ele ainda não sabe cuidar de si, ele já tinha ficado muito triste quando o pai dele partiu, imagina quando ele souber que eu também?

- Mas você precisa compreender que você já começou sua viagem, está na metade do caminho...

- Não! Ainda é muito cedo! Deixe pelo menos Enrique ficar mais velho... deixe ele ao menos ter idade para cuidar de si...

- Não sou eu que decido isso Baron... - Harold falou apertando seu ombro.

- Eu queria pelo menos ter dito a ele que iria partir, eu vim para Asgaroth e nem sequer me despedi dele...

Baron limpou as lagrimas de seu rosto.

- Eu recusei a continuar minha viagem, mas você tem razão, eu não posso ficar aqui para sempre...

O grande homem foi até sua mochila e organizou suas coisas.

- Eu vou encontrar uma maneira de voltar, talvez eu fale com Catrina Ament, eu não sei... mas eu vou voltar... eu preciso proteger Enrique... eu sou tudo que ele tem...

Harold coçou sua barba pensativo.

- Talvez - Ele falou - Se você falar com Catrina com jeitinho ela pode revelar a você o caminho de volta, afinal ela é a boa dama, sempre muito justa...

Baron abriu um sorriso apertou o ombro de Harold.

- Obrigado, por tudo, eu realmente gostaria de retribuir...

- Fale de mim para Enrique, quando chegar o dia dele fazer sua viagem ele provavelmente vai passar por aqui.

- Adeus Harold, eu irei falar, mas espero que ele seja bem mais velho quando isso acontecer.

Baron arrumou suas coisas e saiu pela porta principal, agora, diferente da primeira vez que chegou, estava muito mais determinado a prosseguir com a viagem, mas não a de ida, mas sim a de volta, afinal, ele precisava voltar para Enrique, pois ele era seu protetor.

A pousada de AsgarothOnde histórias criam vida. Descubra agora