O BARMAN

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  No início, Asgaroth não era nada.

Não havia significado para sua existência, os gigantescos campos verdes não passavam de um mero solo barrento sem vida alguma, não existia dia e não existia noite, apenas escuridão, a grande estrada não estava lá, não havia o porquê dela estar.

As pobres almas perdidas apenas vagavam infinitamente para a frente e, uma hora ou outra, elas conseguiam chegar do outro lado.

Pobres almas humanas, vocês estão em um mundo que não compreendem e, ainda assim, percebem a tamanha tristeza de quem o fez.

Esse purgatório é pior do que a morte em si.

Por isso que se chama Asgaroth, o elo entre a vida e a morte.

Todo mundo um dia terá que passar por lá.

Para ter seu tão merecido descanso.

Infelizmente a maioria das pessoas não se dão conta de que estão mortas, mortas e enterradas a sete palmos do chão, mortas e cremadas como as cinzas de uma lareira. É um destino cruel, apesar de ser inevitável.

Naquela época aquilo tudo refletia a dor e o sofrimento da Morte, uma bela e gentil moça, embora muito indesejada e temida, que era soberana do outro lado de Asgaroth, seu nome era mais conhecido como Catrina Ament.

Ela estava tão triste que não se importava mais com as almas vagantes que andavam pelo vazio.

O motivo de tanta tristeza? Ela foi separada da sua amada, a Vida, conhecida como Cibele Qadesh a soberana do lado de cá. A separação ocorreu por motivos óbvios, morte e vida eram opostos, sua união destruiria as duas e, possivelmente o universo, pois não mais existiria vida nem morte.

Para separá-las Asgaroth foi criada e, no fim, quem saiu perdendo foram as almas daqueles que já haviam morrido, que agora precisavam fazer uma longa viagem em um mundo hostil e macabro.

Quem mudou toda essa situação não foi nem a tão poderosa e incompreensível Vida, nem a triste e indesejada Morte, nem mesmo algum ser superior, foi uma alma, uma simples e insignificante alma.

Enquanto vivo essa alma pertencia a um senhor, que já tinha certa idade, seu nome era Harold.

Harold nunca teve uma vida fácil, muito menos feliz, quando completou vinte anos se casou com uma moça, mas ela morreu no parto do seu filho, que também se foi, depois desse dia ele passou a abominar a morte, não aceitava de jeito nenhum que a pessoa que mais amou na vida tivesse partido desse jeito, e até mesmo seu filho, que sempre sonhou em ter, morrer de uma maneira cruel e sem sentido.

Mas esse não foi a única vez que a morte esteve presente na vida de Harold.

O rapaz tinha um amigo de infância, seu nome era Felix, os dois cresceram juntos, basicamente, quando crianças brincavam o dia inteiro e, se seus pais deixassem, viravam a noite sem descansar. Quando adolescentes os dois sempre conversavam sobre mulheres e o que esperavam do futuro e, depois de adultos, eles continuaram se vendo. Felix se casou e teve um filho, tudo que Harold sempre sonhou em ter, Felix sempre ajudou seu amigo a superar esse momento terrível que estava passando, mas a dor no coração dele era maior do que se podia imaginar. Um dia Felix, que voltava para casa com sua mulher, foi abordado por dois assaltantes armados que lhes mandaram entregar o carro, obediente Felix lhes entregou sem resistir, mas os assaltantes ainda assim o fuzilaram, por pura maldade, tanto ele quanto sua mulher, que não tiveram chance alguma de sobreviver.

O filho deles estava na casa de um amigo quando recebeu a notícia de que tinha virado órfão.

Harold ficou desolado com a perda do melhor amigo, sentiu ódio porque a culpa não havia sido de Felix, muito menos de sua mulher. A morte era injusta, a morte era dolorosa.

A pousada de AsgarothOnde histórias criam vida. Descubra agora