Prólogo

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Desde que saí de casa, há mais ou menos cinco anos atrás, eu queria ter um lugar só para mim e minhas coisas, quando você tem uma mãe maluca e controladora, meio que anseia por liberdade. Eu morei todo esse tempo no alojamento da faculdade e mesmo depois de me formar consegui segurar o pequeno apartamento por mais um tempo, mas não teve jeito, precisei procurar outro lugar.

Eu queria um lugar pequeno, barato, confortável e perto da academia. Tamanha foi minha surpresa ao encontrar em um anúncio na internet exatamente isso, só que era também relativamente perto do meu trabalho. Haviam fotos do interior do apartamento e ele não era tão pequeno quanto eu desejava, mas o valor do aluguel era incrível! Eu já estava toda empolgada quando entendi porque era uma quantia tão acessível, era apenas uma vaga naquele apartamento, um quarto. Outra pessoa estava morando lá e queria dividir as despesas com alguém.

-Merda! - Exclamei.

Anotei o número para contato e salvei no celular só para o caso do desespero, não pensei que precisaria ligar e marcar uma entrevista com a moça que morava naquele prédio velho, mas muito bem localizado.

Pensei em minhas outras opções: o apartamento na zona norte da cidade, longe da academia de dança e com um aluguel que eu até poderia pagar, mas não sobraria mais que duzentos reais ao fim do mês; a rua; ou voltar para casa da minha mãe em São Paulo. Essa última estava totalmente fora de cogitação. Pensando nisso e em como o vento frio ali fora estava começando a me incomodar, caminhei para entrar no prédio.

Eu estava prestes a entrar quando escutei um som conhecido vindo da esquina. Suspirei e fechei o casaco ao meu redor indo até o som, agachei e encontrei um pequeno gatinho branco tremendo de frio sob uma caixa de papelão.

-Oh, pequeno! - Exclamei comovida por seus olhinhos tristonhos apavorados. - Venha cá. - Ele recuava conforme aproximava minhas mãos. - Tudo bem, criança. Não vou machucar você. - Eu o peguei e o enfiei dentro do meu casaco. - Você deu sorte, também sou uma sem-teto, mas se eu arranjar um lugar para morar você vem comigo, tá bom? - Falei enquanto caminhava para dentro do prédio velho buscando um pouco de calor. - Justo quando resolvo sair para a entrevista começa a chover uma eternidade!

Noto que há um homem uniformizado dormindo atrás de um balcão, penso em acordá-lo, mas eu sei qual o andar e qual o apartamento, por isso decido seguir para os elevadores.

-Um prédio pré-histórico desses e ainda tem elevador? Espero que a gente não morra aqui, gatinho. - Olho para o animalzinho encolhido dentro do meu casaco e faço um carinho com o indicador em seu nariz. - Você é muito lindinho, sabia? Deve estar com fome, eu não tenho nada pra você comer, gatinho. - Constato tristemente.

Quando o elevador para no andar indicado, eu saio para o corredor e procuro o número da porta, não tenho grandes dificuldades em achar e trato de bater na madeira.

-Já vai! - Grita uma voz feminina do interior da casa.

Segundos depois a porta é aberta por uma moça vários centímetros mais alta que eu, magra, de pele clara bronzeada, cabelos lisos castanhos e olhos da mesma cor. Ela parecia uma modelo, muito bonita e aparentava ter a minha idade, mas o que logo me conquistou nela foi a forma comovida como olhou para o gato encolhido no meu casaco.

-Que lindinho! - Exclamou. - Eu não sabia que você tinha um gato.

-Ah, eu acabei de encontrar ele ali na esquina. Espero que não se importe, está tão frio lá fora. - Expliquei. - Você deve ser a Cristiana, não é? Sou Ana.

-Sou eu. Oi, Ana. - Ela sorri. - Entra, fica à vontade. Vamos arrumar uns panos limpos para aquecer esse bebezinho e algo para ele comer.

Se vocês quiserem me xingar, conversar sobre o livro ou qualquer coisa do tipo, falem comigo no twitter ou no instagram e é isso, espero muito que vocês tenham gostado.

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AnaOnde histórias criam vida. Descubra agora