Pela primeira vez desde criança que estou perdida. Não faço ideia de onde estou, embora não tenha viajado para longe, por isso devo estar ainda na Moldávia. Lembro-me de, aos quatro anos, me ter perdido num mercado movimentado. A minha mãe voltou-se para regatear uns vegetais com uma feirante e eu deambulei sozinha, seduzida por algo bonito e de cores vivas que vi à distância. Desapareci num mar de pernas e, quando me voltei novamente para procurá-la, não a consegui encontrar. Obviamente que comecei a gritar e a chamar por ela. Quando finalmente voltámos a juntar-nos, abracei-a com força e não
queria largá-la nunca mais. Depois disso, segui-a por todo o lado durante semanas para que nunca mais
acontecesse o mesmo.Agora estou perdida e a minha mãe não me pode ajudar. Não há quaisquer choros ou gritos que me
tirem daqui. Já tentei.
Estou ciente do que se passa. Já ouvi as histórias das aldeias próximas, mas nunca pensei que pudesse acontecer comigo. Nunca pensamos, não é?
Confiança. É uma pequena palavra que pode ter um efeito tão grande na nossa vida.Confiei na minha melhor amiga quando esta me contou que o namorado nos podia arranjar um
emprego num casino na Itália. Não tinha qualquer motivo para duvidar dela. Somos amigas desde que
aprendemos a falar. Durante este tempo todo, nunca pensei que me traísse. Será que sou ingénua ou serei simplesmente parva? Tenho a sensação de que irei fazer esta pergunta muitas vezes durante os próximos dias.Não há mais nada a fazer de momento senão sentar-me e pensar numa maneira de sair daqui. Mas, de
algum modo, receio que seja impossível. Decidi manter este diário caso nunca mais saia. Está escondido
na minha mochila, num espaço por baixo do forro, na base. Se eles o encontrarem estarei num grande
sarilho. Talvez escrevê-lo me impeça de enlouquecer e, oxalá, a minha família acabe por saber o que me
aconteceu.Consigo ver a cara enrugada da minha mãe e o sorriso desdentado da minha filha Liliana. A Liliana tem quatro anos e é a minha vida. Preciso de sobreviver por ela, mas disseram-me que, se tentasse escapar, a matariam a ela e à minha mãe. Vi o ódio gélido nos seus olhos enquanto me descreviam detalhadamente o que lhes faria, e sei que não hesitariam em cumprir as suas ameaças.
Devia explicar como me prenderam neste pequeno quarto algures a Moldávia, porque preciso que
saibam que nada disto é culpa minha.
Tenho vinte e dois anos e vivo numa aldeia pobre. A maioria das pessoas vive de parcos recursos talvez com menos de um dólar por dia. A Moldávia tem uma taxa muito elevada de desemprego e dizem
que é um dos países mais pobres da Europa. Houve pessoas na nossa aldeia que venderam os rins no
mercado negro só para conseguirem comprar comida. Conseguem ganhar cerca de $500 por um rim.Podem fazer as contas para verem a fortuna que é. Gostava de saber qual será o valor para uma escrava
sexual.
Houve também quem tivesse vendido os filhos aos gangues de traficantes de escravos. Soube de uma senhora que perdeu o marido, tinha sete filhos e já não conseguia alimentá-los, por isso vendeu três das filhas à mafia do sexo. Sempre tive curiosidade em saber o que aconteceu às suas filhas. Talvez estejam aqui, neste lugar, e eu as voltarei a ver.Como pôde ela fazer isto às próprias filhas? As filhas estariam melhor mortas do que a sofrer as coisas que têm que aguentar. Se estiverem vivas, estão, com certeza, num inferno. Penso da cara inocente da Liliana, do modo como se aconchega a mim para que lhe conte uma história. Ela confia em mim. Como poderia eu colocá-la em perigo? Para salvar os meus outros filhos? Será essa razão suficiente?
Natália, a minha chamada melhor amiga, contou-me que o namorado Andrei tinha conhecimento de uns empregos num casino em Itália, onde os salários rondavam os €500 por mês. Por mês! Imaginem a fortuna! A Natália disse que o casino até nos pagava as passagens.
Tinha tudo planeado. A Liliana podia ficar com a minha mãe durante um mês, só até eu ter tudo organizado em Itália. Encontraria um pequeno apartamento com o meu salário e traria ambas para viverem comigo. Seria perfeito. Era uma oportunidade para sair deste país em direção a todo um mundo de oportunidades.
Foi uma despedida muito emotiva com a Liliana e a minha mãe. A Liliana agarrou-se às minhas
pernas e não queria largá-las. Fartámo-nos todas de chorar. Prometi-lhes que mal encontrasse um apartamento, mandava buscá-las e ficaríamos novamente juntas. Não faltava muito, um mês no máximo.
Combinei encontrar-me com a Natália na paragem de autocarro, na cidade. Quem nos iria buscar era um amigo do Andrei, que nos levaria de carro até Itália. Mas quando me encontrei com a Natália, ela disse-me que havia um problema com o seu passaporte e que não podia ir até que tudo estivesse resolvido. Convenceu-me a ir sem ela.Vou ter contigo mais ou menos daqui a uma semana’, disse-me. ‘Não te preocupes, o Andrei e o amigo tomam conta de ti’. Sorriu e deu-me um abraço.
E eu confiei nela.
O amigo do Andrei não me levou até à Itália. Ainda estou algures na Moldávia. Vendaram-me os olhos, prenderam-me com algemas e fizeram-me ameaças de morte no carro no caminho para aqui, com o
meu raptor. Se eu não fizesse o que eles mandavam, disseram que fariam coisas horrendas à Liliana e à minha mãe antes de as matarem. Não posso colocar a vida delas em risco, por isso tenho de fazer o que eles me mandam.Estou numa casa no campo, acho eu. Aqui não existe o barulho da cidade, apenas os pássaros a chilrear. Nunca pensei ter inveja dos pássaros, mas tenho. São livres de voar daqui. Imagino que sou um pardal ou uma coruja, lançando-me pelas janelas da liberdade. Mas existem grades nas janelas e os estores estão fechados, por isso não tenho como escapar. Tentei abrir a porta, mas está trancada à chave e presa com ferrolhos na parte de fora. Está escuro na minha cela e acho que estou aqui há umas oito horas, por isso já deve ser noite agora. Estou num quarto branco com cerca de dois metros quadrados e estou deitada, com as mãos e os pés acorrentados, num colchão velho que tresanda a urina e imundice. Há aqui um balde para ir à casa de banho. Mas não há papel e só de pensar que não me posso limpar, fico enojada.
Aqui também há outras raparigas. Consigo ouvi-las através das paredes a chorar e a gritar. Quero falar com elas, só para me sentir reconfortada em saber que estamos nisto juntas, mas não me atrevo. Se os meus raptores me ouvirem falar podem passar-se. Um pouco antes tinha ouvido uma porta escancarar-se ali perto e uma voz de homem a gritar com uma das raparigas para que se calasse. Ouvi estalos e murros e os gritos estridentes da rapariga atravessavam o meu cérebro, embora estivesse a tapar os ouvidos com força. Agora só a ouço a soluçar baixinho.
Sei o que aconteceu, porque também consegui ouvir.
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ESCRAVA 🔞 (Concluído)
Ficción históricaHá cerca de cinco anos assisti a uma minissérie sobre raparigas da Europa de Leste que tinham sido traficadas. Isto assombrou-me durante muito tempo e, gradualmente, foi desvanecendo da minha mente e consegui seguir com a minha vida. Depois, há pouc...