Dia 107

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A minha nova casa fica num abrigo para mulheres vítimas de violência. Aqui existem muitas mulheres como eu. Eu sei! Consigo vê-lo nos seus olhos. Embora todas aqui sejam simpáticas, a maioria ainda acha cedo demais para contar como veio cá parar. Estamos todas na mesma situação: a ajustar as nossas vidas na esperança de conseguir curar-nos e ficarmos bem novamente.

As crianças adaptam-se rapidamente a tudo. Quem me dera também poder. A Liliana ainda não mencionou o orfanato e eu não quero pressioná-la a falar sobre isso, caso isso a faça sentir medo ou triste. Aperta o Ivan contra o peito e segue-me para todo o lado, falando constantemente como se tivesse sido privada de falar desde a última vez que a vi. Faz-me perguntas sobre este novo país...

‘Vou conhecer a Rainha?’. ‘Porque estamos aqui?’. ‘Quem são as outras senhoras aqui?’. ‘Porque te está a cair o cabelo?’

Ela parece feliz e satisfeita só por estar novamente comigo, mas fica triste quando falamos sobre a
minha mãe.

Tenho saudades dela e a Liliana também. Quero visitar a campa dela e despedir-me como deve de ser, mas não posso ir lá. E se o Violador e os outros me encontram e me levam de volta? Não sei e alguma vez poderei voltar à Moldávia. Por isso, em vez disso, a minha mãe irá viver para sempre no meu coração e nas minhas memórias. Tal como o meu pai e o Stefan.

Embora o abrigo fique num local secreto, eu não saio sozinha. O Paul ainda está detido, mas preocupo-me que envie alguém para nos encontrar. É assim que a minha vida será a partir de agora. Estou livre, mas será que alguma vez irei viver como alguém realmente livre?

Não durmo bem. Os barulhos como o bater das portas dos carros ou os gritos lá fora a altas horas da noite assustam-me. Acordo com o coração aos saltos, ameaçando explodir-me no peito. A Liliana dorme nos meus braços, na pequena cama que dividimos. Não tenho muito, mas chega.

Estamos juntas e é isso que interessa.

ESCRAVA 🔞 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora