Seis Meses Depois (Fim)

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Estou a viver um dia de cada vez, mas pelo menos estou a viver.

A Liliana e eu temos agora um visto britânico para ficar cá e eu vivo num pequeno T2 com segurança à entrada. Tem uma varanda com vista para um parque. Adoro ficar na segurança da varanda e ver o exterior. Aprecio a sensação do sol na cara enquanto dou tragos bem fundos de ar fresco. São estas pequenas coisas que aprendi a dar valor.

Ainda tenho medo, todos os dias. Sempre que saio, ando sempre a olhar por cima do ombro e, enquanto uma mão pega com força na da Liliana, a outra está a segurar firmemente uma lata de gás pimenta que trago no bolso. Tenho pesadelos todas as noites. Ainda estou a ser perseguida e há pessoas que querem matar-me. Quando acordo, demoro imenso tempo a voltar a adormecer, mesmo sentindo o toque tranquilizador da faca por baixo da minha almofada. Embora tenhamos dois quartos, a Liliana e eu dormimos juntas no mesmo, abraçadas, como eu costumava dormir com o Stefan. Não quero soltá-la. Ela tem um sono profundo o suficiente para não ouvir os meus pesadelos, mas queixa-se de que eu nunca a perco de vista.

Agora trabalho como voluntária. Trabalho com outras mulheres que foram traficadas e tento ajudá-las.

Penso que também irá ajudar ao meu processo de cura. Lembro-me todos os dias das palavras do meu pai. Segreda-me ao ouvido que deveria fazer algo especial com a minha vida em Inglaterra. Penso que ficaria orgulhoso de mim.

Vejo o Jamie várias vezes por semana. Levamos a Liliana ao parque ou ao cinema, ou ficamos apenas sentados a conversar. A Liliana está apaixonada pelo Bigodes. O Jamie é o meu melhor amigo e eu prezo essa amizade. Talvez um dia se transforme em algo mais, mas agora não consigo pensar nisso. A pouco e pouco, segundo a segundo, estou a melhorar. Com o tempo, espero bem que as cicatrizes internas e externas desvaneçam, embora saiba que nunca irão desaparecer.

Ofereceram-me acompanhamento


psicológico, mas não quero falar sobre o que aconteceu com alguém que nunca poderá compreender


como aquilo é. A melhor terapia para mim é tentar ajudar as outras.

Agora tenho fé no futuro e, para tal, tenho de agradecer ao Jamie e à Katya.

Ainda tenho uma cópia do vídeo, que é a minha segurança neste novo mundo onde vivo.

O julgamento começará em breve. Os advogados disseram-me que o Paul será preso e que a polícia italiana e moldava estava a trabalhar em conjunto com a britânica para acusar o Violador, a Natália, o Andrei, a Angelina e o resto do gangue. Mas e todos os outros traficantes espalhados pelo mundo?

Sou uma das poucas sortudas que conseguiu escapar. Existem milhares por aí que não conseguiram.

ESCRAVA 🔞 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora