Quando os dois são teimosos feito mulas

567 105 10
                                    


Assim que despertou, Stiles percebeu estar deitado de lado na cama e diante dele estava um Derek carrancudo sentado numa cadeira, aparentemente o observando dormir.

— Você me desmaiou! — acusou o jovem apontando para o lobisomem que estava de camisa trocada. — Como ousa fazer isso?!

A expressão de Derek perdeu a carranca e ficou até um pouco surpresa depois dessa acusação. Qual era o problema de Stiles?

— A culpa é toda sua se desmaia ao ver um pouco de sangue. Você deve ser o pior caçador que já tive o desprazer de encontrar.

Stiles sentou-se colocando a mão no peito, mostrando-se ofendido.

— Um pouco de sangue? Sua camisa estava encharcada! — olhou pro tecido limpo da nova camisa de modo desconfiado.

Ele tinha visto certo, não era? Só pra ter certeza foi até Derek rapidamente e puxou a camisa dele pra cima antes que ele pudesse entender seu objetivo. Stiles, que sempre tinha uma resposta na ponta da língua, ficou mudo ao ver as longas faixas que recobriam longitudinalmente seu abdômen, com um pouco de cataplasma escapando em alguns pontos. Se havia uma ferida grande o suficiente para precisar ser recoberta com aquelas longas faixas, certamente esse era um ferimento bem feio.

— Você... O que aconteceu com você?

O lobisomem resmungou algo inaudível e por fim bufou.

— Depois que te deixei na caverna continuei atrás do vampiro e o alcancei numa clareira no dia seguinte. Lutamos, mas fomos interrompidos por um segundo vampiro, que me causou isso. — puxou a barra da camisa das mãos de Stiles e a abaixou de novo. — Entendeu porque não pode ir atrás dele? Eu resolvo isso sozinho.

Ignorando a tentativa de lhe colocar algum juízo, Stiles continuou com seu interrogatório.

— Mas você é lobisomem! Não devia ter algum tipo de cura rápida ou pele dura como metal? Aliás, você realmente não sabe ler? Sabe, isso é um pouco engraçado porque sua mãe era professora na vila e...

— Cala a boca, Stiles! — Derek levantou-se exibindo os dentes, quase dando a entender que estava com vontade de separar a cabeça do corpo numa única dentada.

— Certo, entendi. Você está de mau humor e não gosta de tocar nesse assunto. Mas porque não está se curando rápido?

Derek esfregou a mão no rosto em desistência. Era impossível aquele caçador ficar quieto.

— É lua nova e isso deixa minhas habilidades fracas. Por esse motivo acabei perdendo o rastro dele e vindo parar aqui.

— Onde na verdade tem um wendigo.

— Sim, um maldito wendigo. — resmungou impaciente. Por quanto tempo aquele assunto duraria? — Agora vá embora enquanto pode.

Stiles fez ar de pensativo, cruzou os braços e andou um pouco pelo espaço do quarto, que agora percebia não ser o seu. Esse era mais sóbrio, com os móveis num tom mais escuro e uma decoração bem simples, mas era tão bom quanto o que estava hospedado. Por fim, quando julgou ser tempo o suficiente para causar inquietamento no lobisomem, Stiles voltou a parar na frente com um sorriso esperto.

— Eu não irei.

— Eu não estava te dando uma opção. Estou ordenando que vá embora antes que me atrapalhe.

— Do meu ponto de vista, é você que está atrapalhando minha caçada. Então vou ter que pedir para que se retire, Derek.

Derek ficou em pé com o semblante fechado. E mesmo Stiles sabendo que debaixo daquela camisa limpa havia um ferimento feio e que o lobisomem estava enfraquecido pelo período da lua nova, quase não conseguiu evitar um estremecimento diante a presença predatória dele. Mas antes que algo acontecesse, uma batida ritmada veio da porta.

— Estão prontos para começar a busca do wendigo? — era a voz do senhorzinho líder da vila, soando mais animado que no dia anterior, se é que era possível.

Aliviado pela interrupção, o jovem caçador foi até a porta e a abriu. O líder da vida, que estava com vestes limpas e com a barba longa e grisalha escovada, deu seu sorriso banguela convidando-os a acompanhá-lo numa caminhada. Stiles e Derek — esse último indo com uma má vontade visível ­— o seguiram até o lado de fora, onde havia uma considerável acumulação de pessoas suadas debaixo do sol das 10 horas da manhã. Uma mulher com um vestido marrom que era do tipo de qualidade que usado para eventos e feriados, caminhou até eles fazendo uma mesura quando chegou mais perto.

— Essa, senhores, é a minha querida filha, Micaela. — trocou um rápido olhar com a filha antes de continuar. — Será ela quem lhe dirá os detalhes e os guiara até o caminho do wendigo.

A mulher sorriu (Stiles teve a impressão que foi só para Derek), começando a andar na direção da parte da cidade que ficava mais perto da floresta.

— Diz a lenda que há muitos anos uma bruxa desejou ter juventude eterna e para isso tentou alcançar seu objetivo de diversas formas, mas nada dava o resultado desejado. — ela contou, vez ou outra dando um olhar lateral para Derek. Stiles não a julgava, ele mesmo se flagrou dando essas mesmas olhadas para o lobisomem carrancudo. — Quando as rugas começaram a se tornar mais visíveis, o desespero foi ficando maior e ela fez o inimaginável: devorou as suas duas filhas. Dizem que depois disso ela foi castigada por Deus e foi transformada no que chamamos de wendigo, o comedor de gente.

Os três pararam ao lado de uma placa que dizia "TERRITÓRIO DE WENDIGO" e logo abaixo uma seta apontava para as árvores depois de uma cerca baixa. Stiles franziu o cenho.

— Só tem uma coisa que ainda não entendi.

Micaela olhou verdadeiramente para Stiles pela primeira vez.

— O que não entendeu, senhor Van Helsing?

— Porque que toda essa gente está nos acompanhando? — apontou para a multidão curiosa que os acompanhavam de uma certa distância desde que saíram da estalagem.

— Ah, não se preocupe. Daqui eles não passarão. — disse simplesmente e caminhou até sumir no meio da multidão que conversava animadamente.

Stiles piscou confuso.

— Quê? Eu ainda não entendi.

— E nem queira entender. — resmungou Derek já indo para a floresta.

Um Helsing no encalçoOnde histórias criam vida. Descubra agora