Quando beber só te encrenca

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Num movimento rápido ele segurou a mão de Derek e o puxou na direção da égua que aguardava ansiosa. Stiles não sabia como ela tinha escapado de um estábulo outra vez, mas isso não importava no momento. Entendendo a mensagem, Derek montou no animal primeiro (ele era mais ágil), esperando Stiles subir também para então incitar a égua a correr.

Quando perceberam que a dupla estava em fuga já era tarde demais. As pessoas gritaram impropérios, jogaram raivosamente na direção deles tudo o que as mãos alcançavam, mas eles já estavam longe demais para serem incomodados. E assim acabou o sistema de apostas daquele lugar.

Sentado no balcão e com uma caneca de cerveja pela metade na sua frente, Derek observava o outro contar toda sua "sofrida história" para o taverneiro que parecia bem acostumado a narrações similares. Ele devia ter ido embora depois de ter deixado Stiles na segurança de uma cidade a uma distância segura do lugar do wendigo, mas não conseguiu simplesmente partir. Primeiro, por ainda ser o penúltimo dia do período da lua nova e, portanto, não conseguiria fazer muito sobre a caça ao vampiro. Segundo, Stiles tinha resolvido afogar sua frustração quanto aos recentes acontecimentos na bebida e sabe-se lá que tipo de enrascada aquele Helsing conseguiria se meter estando bêbado. Terceiro, talvez — e só talvez — Derek também tivesse achado que eles tinham formado uma dupla até razoável na luta contra o wendigo e já não achasse a ideia de trabalharem juntos tão ruim assim.

— Eles estavam praticamente alimentando o monstro, entende? Eram loucos! — Stiles gesticulava para dar ênfase em suas palavras. O taverneiro assentiu sem realmente prestar atenção, mais interessado em esfregar um pano cinzento em um copo não muito limpo.

Derek vagueou o olhar desinteressado pelas bancadas cheias de garrafas de bebidas por trás do balcão, se perguntando até quando iria bancar o protetor da sua paixão de infância. Já estava beirando o ridículo todo aquele cuidado, ele sabia disso e se envergonhava um pouco. Suspirou, tomando o resto do conteúdo da caneca. De qualquer modo era melhor deixar Stiles perto de si, já que o caçador era teimoso o suficiente para continuar perseguindo-o por aí e tendo mais chances de realmente atrapalha-lo ou pior, acabar se matando.

Fechou os olhos por um momento, imaginando a reação de sua família quando descobrissem que estava sendo acompanhado por um Van Helsing. Sua mãe provavelmente daria um voto de confiança, pois ela gostava de apostar no melhor das pessoas, mas suas irmãs... Era mais fácil elas quererem atacar primeiro e perguntar depois.

Ouviu Stiles pedir para encher sua caneca pela sexta vez e falar pro taverneiro que voltaria logo.

— Por que você está de olhos fechados? — a voz ébria alcançou seus ouvidos, assim como o cheiro de cerveja chegou ao seu nariz com mais intensidade. — É um pecado esses lindos olhos verdes não estarem à vista...

Derek abriu os olhos e mirou o outro com uma leve surpresa.

— Então você acha meus olhos lindos? — ele perguntou com um sorriso divertido, virando-se um pouco mais para o lado para encará-lo melhor.

Stiles ficou de boca aberta por um tempo antes de largar a caneca sobre o balcão e se inclinar para ver o rosto do outro mais de perto.

— Você sorriu! — acabou sorrindo bobo em resposta. Se estando sério Derek já era bonito, sorrindo, então, era pra lá de encantador. — É a primeira vez que vejo isso desde que nos reencontramos!

A proximidade deles somada a expressão contente de Stiles foi demais para Derek suportar que, nem tentando resistir, segurou o queixo dele e o puxou para um beijo. Apesar de Stiles estar levemente alterado pela bebida e Derek estar desejando fazer isso desde que o percebera em seu encalço, o contato dos lábios foi tranquilo e leve.

Quando se afastaram trocaram um olhar longo que só foi quebrado por um pigarro do taverneiro que os julgava de longe. Derek fechou a cara e olhou ao redor. Nenhuma outra pessoa, no entanto, parecia ter prestado atenção ao ato que acabara de acontecer, sendo esse considerado obsceno e inaceitável para grande parte da população religiosa.

Estava se recriminando internamente por sua falha — afinal, tinha fraquejado em público! —, quando percebeu que Stiles tinha se afastado e agora se curvava sobre o balcão, balançando a caneca e derramando a bebida, enquanto começava uma discussão como dono da taverna.

— Por que está me olhando assim, seu careca? Eu achei que depois de trocarmos histórias fossemos amigos!

— Eu nunca seria amigo de um maldito sodomita como você. — o homem disse numa careta de asco, agarrando a gola de Stiles como se fosse agredi-lo somente por ele ter ousado se aproximar.

Movido pelo instinto outra vez Derek puxou Stiles para trás antes que sofresse a pancada e desferiu ele mesmo um soco em cheio no rosto do taverneiro. O homem alto e sem fios na cabeça caiu pesadamente, mas se ergueu num pulo e, ignorando o sangue que escorrida da boca, jogou-se para dar um soco em Derek. Só foi preciso essa movimentação para que o restante das pessoas alteradas e bêbadas, se animassem e começassem uma briga geral, onde não havia lado certo ou errado.

Foi socos, chutes e móveis quebrados para todos os lados. E quando uma candeia acesa caiu sobre o balcão e o fogo começou a se espalhar com ajuda do álcool derramado, Derek aproveitou para agarrar Stiles pelo braço e sair do lugar. Do lado de fora encontrou a égua que, parecendo sempre saber a hora perfeita de surgir, batia o casco no chão e agitava a cabeça, incomodada com o cheiro de queimado que se alastrava no ar rapidamente.

Colocando Stiles de barriga pra baixo em cima da égua, Derek montou logo em seguida e agitou as rédeas para ela começar a correr. Partiram deixando para trás uma taverna em chamas.

E aquela seria a segunda cidade onde teriam cartazes com seus rostos com os seguintes dizeres embaixo: banidos dentro e nos arredores desta cidade. 

Um Helsing no encalçoOnde histórias criam vida. Descubra agora