Stiles começou a considerar a possibilidade da suposta ajuda que Derek falou que estava dando ser real quando ficou mais de três horas — isso pelos seus cálculos da posição do sol — procurando por indícios que o colocassem de novo no rastro do lobisomem e, consequentemente, do vampiro também. Porém, como não estava encontrando nenhum sinal que o ajudasse, começou também a duvidar de sua recente melhora de desempenho como caçador. Será que todos os arranhões e pegadas que viera encontrando ao longo do caminho foram deixados intencionalmente para serem achados? E todas aquelas vezes que surgira ladrões desmaiados pela estrada ou quando achou uma fogueira acessa numa noite especialmente fria? Bem que ele devia ter desconfiado quando encontrava — em uma frequência suspeita — animais prontos para serem assados...
Mas deveria Stiles acreditar em tudo que o outro dissera? Afinal, Derek era um lobisomem, uma das criaturas mais caçadas pela ordem. Não havia motivos para acreditar numa palavra sequer. Contudo, entretanto, todavia... Com os pés doendo de tanto pisar em raízes e pedras irregulares, dar de cara em galhos e sem saber a direção certa, Stiles assobiou da maneira que treinara para chamar sua égua. Uma parte sua não achava que ela fosse realmente aparecer, mas pouco tempo depois viu a égua de crina e cauda escura surgir timidamente de detrás de umas árvores folhosas.
— Genoveva! — correu até o animal, quase soltando umas lágrimas de tão emocionado que ficou ao rever sua bela companheira de viagem. — Espere, você não devia estar na segurança daquele estábulo em Turda?
A égua bateu um dos cascos no chão e agitou a cabeça para cima como se estivesse reclamando por ter sido abandonada. Stiles fez carinho no pescoço dela, dando um sorriso. Tinha deixado ela na última cidade maiorzinha por onde tinha passado para evitar que Genoveva se machucasse na sua caçada. Só não imaginava que ela conseguisse escapar e o seguisse até ali.
Ah, como ele era amado por aquela égua! Porém, seu lindo momento de reencontro foi interrompido pela sua barriga que roncou alto.
— Bem, acho melhor procuramos algo para comer antes de voltar a procurar Derek, não é? — Genoveva relinchou animadamente. — Mas então... Você sabe que lado sai da floresta?
É, seu orgulho de caçador estava morto e enterrado, então pedir auxílio ao seu cavalo não soava mais tão terrível assim. Pelo menos ali não havia testemunhas.
*
Somente depois de três dias de esforços infrutíferos foi que Stiles ouviu por casualidade alguns homens conversando sobre um caso de morte numa cidade vizinha. Sentindo que isso poderia estar sendo causado pelo vampiro que procurava, seguiu seu instinto e partiu com Genoveva para a tal cidade. Entretanto, mal chegara a rua principal quando viu o nome "wendigo" escrito em alguns cartazes colados como alertas nas paredes de casas e estabelecimentos.
Pelo visto seu instinto errara feio, pois a criatura que atormentava os moradores daquela cidade não se tratava de um lobisomem, muito menos de um vampiro. Mesmo assim, como caçador que prezava pelo bem-estar de todos, não podia simplesmente ignorar a situação daquelas pessoas oprimidas.
— Então você é Van Helsing? — o senhorzinho que era o líder do povoado o examinava dos pés a cabeça com o olhar estreito de incredulidade. — Você está um pouco diferente das descrições que ouvi por aí... É menor, menos forte e sem a cara de homem que lutou muitas batalhas...
Stiles quase se arrependeu de ter se apresentado assim para ele. O que precisava para ter mais cara de homem? Ele já tinha vinte e três anos!
— Err, esse era meu pai. Mas não se preocupe, eu resolverei seus problemas!
O ancião abriu um sorrisão banguela.
— Se você é filho dele deve ser tão bom quanto o pai! Estamos salvos! Deve estar cansado da viagem, porque não descansa hoje à noite e amanhã mando alguém pra te explicar tudo? — sugeriu enquanto o empurrava em direção da melhor estalagem de um total de cinco, todas muito grandes e estranhamente lotadas.
Sua égua foi levada para um estábulo espaçoso e Stiles foi instalado num dos melhores quartos do lugar. Estava gostando de ser bem tratado dessa forma, mas tanta amabilidade era um tanto que suspeito. Também era suspeito o líder da vila ter aceitado tão rápido que ele era um descendente de Van Helsing. Porém, Stiles não desperdiçaria uma oportunidade dessas e logo desceu para ver o que tinha disponível para comer.
No salão principal, onde se realizava as refeições, Stiles percebeu que o lugar estava mesmo muito lotado e que deveria ser um milagre ter conseguido um quarto tão bom. Vários homens e mulheres ocupavam grande partes das mesas, o som de conversa era alto e achou ter ouvido alguém falar sobre apostas, mas ignorou. Seu interesse era uma das moças que carregava uma bandeja com um belo prato de ensopado. Mas antes que a alcançasse, seus olhos bateram numa figura de costas que lhe pareceu familiar.
— Derek?
O homem se virou de súbito e ao bater o olhar nele, andou rápido até Stiles e o arrastou até uma minúscula despensa cheia de lençóis e panos limpos.
— O que está fazendo aqui? — perguntou num rosnado, deixando Stiles contra a parede.
— Nossa, nem um "Olá, Stiles, que bom te ver"? — Derek deu outro rosnado e Stiles engoliu em seco. — Eu cheguei aqui com meus próprios esforços se é o que quer saber. Achei que tinha encontrado uma pista do vampiro, mas me deparei com um wendigo.
— Um wendigo? Como assim?
Stiles o encarou, perplexo. Como que ele não tinha visto os inúmeros cartazes pela cidade? Tinha até uma faixa enorme na entrada dizendo que ali tinha risco de wendigo! A não ser que...
— Derek, você sabe ler?
Derek afastou-se parecendo desconcertado e um pouco irritado também.
— E o que isso importa?
Stiles não aguentou e desatou a rir do lobisomem que ficava cada vez mais encabulado. No entanto, suas risadas não duraram muito assim que viu o estado da camisa dele.
— Isso é... sangue? — e caiu pesadamente nos braços do outro.
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Um Helsing no encalço
FanficStiles só queria mostrar que era um caçador tão bom quanto os outros, mas isso era um pouco difícil de acreditar, principalmente quando suas maiores habilidades eram tropeçar nos próprios pés e falar o suficiente uma comunidade inteira. Ao menos não...