Stiles tomou toda a água que tinham lhe oferecido e depois pressionou os dedos nas laterais da testa. Estava com uma dor de cabeça infernal.
— Por que mudamos de estalagem? — perguntou, abaixando o rosto na mesa e colocando os braços ao redor para evitar a luz excessiva do ambiente. Por que o sol tinha que ser tão claro?
Do outro lado da mesa Derek cruzou os braços.
— Saímos da cidade. Não lembra do que aconteceu ontem?
Stiles murmurou um "não" arrastado, nem se importando em levantar o rosto.
— Você começou uma briga na taverna e causou um incêndio lá. Disse que achava meus olhos lindos...
— O quê? Isso é mentira! Impossível eu ter feito isso... — disse sem muita convicção, principalmente por algumas inconvenientes memórias estarem voltando a sua mente. Uma entre elas era de uma curiosa cena de beijo entre ele e Derek... Mas não tinha como aquilo ter sido real, não é? — Não me perturbe agora. Estou sofrendo e preciso de paz e silêncio pra me recuperar.
— Tão fraco... — zombou o lobisomem que quase riu ao ouvir uma imitação de rosnado vir de Stiles. — E quando estará bom o suficiente para conversarmos sobre a procura por Deucalion?
— Já disse que não pert... — ergueu a cabeça de súbito, esquecendo momentaneamente suas dores e com os olhos brilhando de expectativa. — Você disse Deucalion? Esse é o nome do vampiro que esteve caçando até agora?
— Sim, ele...
— Então isso quer dizer que vai mesmo me deixar trabalhar com você?
— Sim, mas...
— Deucalion... Acho que já ouvi esse nome antes... Me parece familiar. Devo ter ouvido alguém falar sobre ele lá na Ordem dos cavaleiros sagrados... — olhou para o lobisomem que estava com o semblante bastante insatisfeito. — Ah, você queria falar algo?
Derek quase se arrependeu de ter aceitado a companhia de Stiles pelo resto da caçada.
Foi no terceiro livro de anotações que levava sempre consigo que Stiles achou o nome Deucalion numa das páginas. As anotações sobre ele eram poucas. Apenas que era tido como muito discreto e esperto, pois sempre sumia sem deixar sinal e nenhum caçador tinha conseguido rastreá-lo por muito tempo. Havia algumas suposições sobre o tamanho de seu clã e sobre a possibilidade dele ter algum parentesco com Drácula. Nada que realmente fosse útil.
O lobisomem, até então sem suas forças totais, já começava a sentir-se melhor. Era o último dia de lua nova, portanto, a influência dela começava a diminuir com o passar das horas. Andou até a única janela do quarto e apoiou o ombro ali.
— Depois da morte de Drácula a balança de poder entre as criaturas começou a mudar. Antes, com o domínio dos vampiros, outras raças eram consideradas inferiores e escravizadas; principalmente os lobisomens como deve saber. — desviou o olhar de Stiles, que começara a folhear outro livro, e olhou pela janela para a estrada pouco movimentada.
O caçador começou a andar de um lado para o outro deixando a mente tentar relacionar as coisas que Derek mencionava com algumas outras informações que já possuía.
— Há alguns meses houve uma reunião com membros de várias raças para discutir isso e tentar evitar que guerras desnecessárias acontecessem. Deucalion foi nessa reunião e como demonstração de suas intenções de paz ele levou sua família junto. — viu Stiles parar ao seu lado e também olhar para a estrada onde passava uma carroça cheia de frutas. — Mas alguém tinha deixado a informação chegar até a Ordem e poucos foram os sobreviventes que escaparam.
— E Deucalion foi um deles.
— Sim, mas ninguém de sua família sobreviveu.
Stiles colocou a mão no queixo, pensativo. Era essa a informação que interligava tudo.
— Foi depois disso ele começou a matar aleatoriamente?
— Ele passou um tempo desaparecido e quando voltou, começou a caçar os descendentes de famílias de raças antigas, já que não sabia quem tinha sido o traidor. Mas ele não parece estar muito são, pois agora está torturando pessoas normais também.
Stiles o observou de soslaio, distraindo-se ao admirar o tom esverdeado que suas íris ficavam na luz do sol.
— E por que você está atrás dele? — lembrou-se de perguntar quando o outro percebeu o olhar.
Derek apenas cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha como se a resposta fosse óbvia. E realmente era se parasse pra pensar.
— Entendi. Ele deve ter pego algum familiar seu. — coçou a nuca, sentindo-se desconfortável por provavelmente tê-lo feito ter lembranças ruins. — Então como vamos achá-lo? Deucalion já deve estar longe depois de todos esses dias.
Um sorriso feral brotou nos lábios do lobisomem, chamando a atenção de Stiles.
— Não tão longe. Desconheço o motivo, mas ao que parece ele não tem estado se alimentando de suas vítimas e o deixei bastante ferido antes do outro vampiro interferir.
— Então ele deve estar escondido em algum lugar próximo... — o caçador voltou para perto da cama, onde seus livros estavam jogados, e começou a abrir alguns dos mapas que possuía. — Onde você o viu pela última vez?
Derek se aproximou da cama também, observando com certa curiosidade o que Stiles vasculhava. Pra que ele andava com tanto papel mesmo?
— Era perto de uma cidade pequena chamada Piatre.
Com um sorriso animado Stiles achou o mapa que precisava e apontou para o lugar onde aproximadamente ficava a tal cidade.
— Acho que já sei onde eles estão escondidos. — voltou-se para Derek quase sugerindo que partissem depressa, mas logo lembrou-se de um detalhe. — Podemos ir daqui alguns dias...
Derek franziu a testa.
— E por que não hoje?
— Porque é melhor irmos quando você ficar curado e—
Precisou interromper-se naquele momento, pois um Derek desprovido de vergonha retirou a camisa que vestia, exibindo o abdômen que já não tinha ferida alguma. Apenas havia uma linha avermelhada que logo sumiria.
E que abdômen, hein!
— Sairemos agora. — ditou firme, não deixando brecha para uma resposta contrária.
No entanto, precisou estalar os dedos diante o rosto de Stiles para que este saísse do transe e tirasse os olhos de seu peito. Ele tinha ficado tão chocado assim ao ver o ferimento recuperado?
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Um Helsing no encalço
FanficStiles só queria mostrar que era um caçador tão bom quanto os outros, mas isso era um pouco difícil de acreditar, principalmente quando suas maiores habilidades eram tropeçar nos próprios pés e falar o suficiente uma comunidade inteira. Ao menos não...