— Existe, ou existia no caso, nessa região aqui — ele disse apontando no mapa para a parte leste depois da cidade. — um castelo de um conde chamado Stoker que, segundo as más línguas, era praticante de bruxaria. Ele e todos os seus criados morreram de um jeito estranho e depois disso ninguém tentou se aproximar do lugar. Entende por que aqui seria o lugar perfeito para Deucalion e o outro vampiro se esconderem?
Derek apenas franziu as sobrancelhas, sem entender a lógica do humano.
— Sério? É um castelo antigo, com uma história horripilante por trás e apesar de estar abandonado ainda deve ter alguma elegância. Todo mundo sabe que vampiros adoram lugares assim!
A ideia era ridícula, Derek nem sabia o porque de ter seguido o que Stiles chamou de "sexto sentido". Contudo, depois de escapar de alguns membros da Ordem que estavam atrás do descendente de Van Helsing, eles chegaram ao território que pertencera ao tal conde. Estava tudo com ar de abandonado, com árvores crescidas e espalhadas sem controle e um matagal crescendo desordenado onde outrora tinham sido campos de plantio. Não havia muralhas, fossos, nem postos de vigília naquele castelo. Ao que tudo indicava o falecido conde não considerava isso importante ou, no mínimo, não precisava desse tipo de proteção.
Passaram cuidadosamente por um trecho tomado por roseiras espinhosas, ouvindo com mais clareza o som de um rio que cruzava o território bem próximo ao castelo. O pôr do sol progredia, tornando a tarefa de avançar de maneira cautelosa mais difícil ainda.
— Acho que bati numa urtiga. — reclamou Stiles coçando a bochecha.
Já era a sexta reclamação vinda dele desde que começaram a se embrenhar na mata, mas era um pouco justificável. Era tanto mato alto e galhos esparsos que era impossível escapar de tudo. Contudo, Derek virou-se, pois ele ia na frente, com um olhar alerta.
— Quer fazer o favor de ficar em silêncio?! — sussurrou irritado. Ele também tinha batido em algumas urtigas pelo caminho, mas não reclamara em momento algum.
— Eu não estou fazendo barulho.
— Certamente que não. Estou imaginando tudo isso. Devo estar ficando maluco...
— Shh! Silêncio, Derek. Acabamos de chegar na entrada principal. Quer que descubram que estamos aqui? — reclamou Stiles passando pelo lobisomem, ignorando a cara de descrente que ele fez.
Derek rangeu os dentes. Aquilo só podia ser um teste divino, só podia! Respirou fundo para se recompor e quando ia sugerir que tentassem entrar por alguma passagem lateral, viu o outro empurrando um lado da imensa porta-dupla da entrada. Ainda se precipitou em sua direção a fim de impedi-lo, mas já era tarde demais. A porta esquerda abriu para o lado de dentro fazendo um barulho nem um pouco discreto por causa da falta de uso, que devia ter alertado até o mais surdo dos animais.
Stiles comprimiu os lábios, claramente sem jeito.
— Err... Pelo menos está aberta agora...
Derek preferiu nem desperdiçar energia ao repreendê-lo, pois ao ter a porta aberta permitindo uma melhor passagem de ar frio da noite, percebeu de imediato o cheiro daquele que vinha caçando dia após dia.
— Deucalion está realmente aqui. — informou ao passar pelo humano e entrar. — Tenha cuidado.
Antes de entrar também, o caçador puxou a besta automática das costas, verificando se estava devidamente carregada, e aproveitou deixar o odre de água benta pendurado no pescoço para facilitar seu manuseio futuro. Também mascou uns dentes de alho e enrolou colar de cruz na mão só para prevenir.
— Estou me sentindo tão caçador agora!
— Pretende vir ainda hoje? — a voz de Derek ecoou de dentro do castelo e Stiles se apressou para seguir seus passos.
Avistou Derek, ou melhor, enxergou seu contorno parado perto de uma escadaria ampla que levava ao andar superior e foi ao seu encontro. O lobisomem farejava o ar tentando descobrir de que direção o cheiro do vampiro vinha.
Stiles fez um estalo com a língua.
— Eu devia ter trazido uma tocha. Está tão escuro agora que anoiteceu...
— Não seja por isso. — respondeu uma voz feminina e de repente várias tochas nas paredes, e também as velas de um lustre caído no chão, se acenderam.
Com o ambiente iluminado era possível ver que apesar de empoeirado num geral, de estar com teias de aranhas pelos móveis e de ter algumas folhas secas pelo chão, aquele lugar tinha sido, de fato, um bonito castelo. Algumas provas disso eram o belo lustre caído, os quadros pomposos pelas paredes e a armadura em posição de guarda que devia ter sido lustrosa algum dia.
"Esse Bram Stoker tinha um estilo bem vampiresco mesmo...", o caçador concluiu, admirando a armadura enferrujada.
Ao lado do humano, Derek soltou um rosnado ao encarar o topo da escada e ver as duas pessoas que estavam ali. Era uma mulher morena com expressão de escárnio e um homem vestido todo de preto que transmitia no olhar o peso de sua idade. No entanto, o que chamava a atenção eram as três longas linhas avermelhadas, similares aquela que estivera no abdômen do lobisomem, que cruzavam seu rosto e o fato de seus olhos estarem opacos, significando que ele não tinha se recuperado totalmente da última luta.
— Derek Hale. — dessa vez foi o homem quem falou com a voz tranquila, sem encará-los um momento sequer. — Faz décadas desde a última vez que encontrei um lobisomem que sobrevivesse a uma luta comigo e tivesse a coragem de aparecer outra vez na minha frente. E o parabenizo por isso.
O rosnado baixo de ameaça vindo de Derek foi abafado pela risada alta que a mulher deu logo em seguida.
— Kali. — disse Deucalion num tom de censura, mas a mulher pouco se importou com isso.
— Se ele é tão forte assim por que trouxe um humano junto? — sorriu viperina. — Se queria ajuda podia pelo menos ter trazido um mais forte do que esse, não é?
Diante tal afronta Stiles não conseguiu mais permanecer quieto e se adiantou um passo, empinando o queixo.
— Pois saiba que esse mero humano aqui é um legítimo Van Helsing!
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Um Helsing no encalço
FanfictionStiles só queria mostrar que era um caçador tão bom quanto os outros, mas isso era um pouco difícil de acreditar, principalmente quando suas maiores habilidades eram tropeçar nos próprios pés e falar o suficiente uma comunidade inteira. Ao menos não...