Quando seu nome é Helsing. Stiles Van Helsing.

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A floresta, com suas árvores torcidas e cinzentas, estava se tornando cada vez mais escura a medida o sol ia sumindo do céu. As sombras iam crescendo e cobrindo tudo, e os sons dos animais noturnos, acordando e começando a agir, começavam a preencher o ar. Não que esses detalhes tivessem feito o jovem caçador de monstros sequer pensar em desistir. Ou talvez fosse melhor dizer que ele até pensou nas camas macias de um vilarejo que tinha passado há algumas horas, mas ao lembrar que nesse mesmo vilarejo tinha encontrado outras três vítimas com o pescoço destroçado, a determinação pra continuar agachado na floresta retornava. E também não era como se a noite fosse dar medo nele. Não tanto assim.

Seu nome era Stiles Van Helsing, afinal.

O caçador sorriu quando avistou uma pegada quase imperceptível um pouco mais a frente e alguns arranhões numa árvore próxima, mas ao dar um passo na direção — cheio de ânimo pra dar e vender — ele tropeçou num galho oculto nas folhas secas e caiu de cara no chão. Não levou nem meio minuto para levantar-se num pulo assustado, esfregando as mãos no rosto para tirar qualquer prova do que acontecera. Ainda olhou ao redor como se temesse a aparição súbita de alguma testemunha, mas ao só ter retorno dos sons de insetos e aves noturnas, suspirou aliviado.

Certo, Stiles ainda precisava admitir pra si mesmo que talvez não tivesse a agilidade quase sobrenatural que os outros tantos filhos bastardos de Gabriel Van Helsing pareciam ter. Lembrava-se bem de quando reuniram seus muitos meios-irmãos, e também ele próprio, nos subsolos de uma catedral em Londres e os convidaram a participar de uma Ordem secreta. Antes, claro, eles foram testados para ver se tinham a aptidão necessária e Stiles não teve lá um bom desempenho. Felizmente ainda assim o acharam razoável, mas ele queria provar seu valor para seus superiores para que fosse, enfim, designado para alguma missão importante.

Por isso, analisando casos não resolvidos, ele achou um caso sobre pessoas mortas com o rosto desfigurado e a garganta destruída que ainda não tinha sido descoberto o responsável e viu ali a chance que precisava para mostrar ser tão qualificado quanto Malia, a melhor caçadora dentre seus irmãos. Então, quando não tinha gente olhando, pegou emprestado todo o arquivo sobre essas mortes e saiu para fazer suas investigações.

Não levou muito tempo para descobrir que em todas as mortes alguma testemunha ouvira um uivo ou vira um imenso lobo negro pelas redondezas. Também descobriu que as pessoas assassinadas eram, inicialmente, todas descendentes de antigas linhagens da Europa. Depois do sexto caso, no entanto, o assassino parecia não estar mais preocupado com linhagens ou coisas assim, pois passara a matar pessoas comuns em vilarejos significantes ou não. Foi um pouco antes disso que Stiles conseguiu encontrar o rastro do enorme lobo e se pôs a segui-lo, indo de Paris a Romênia numa caçada incessante.

Em alguns momentos se perdera, principalmente quando ocorria de passar de um país para outro, mas com algum esforço reencontrava os tais rastros e retomava o caminho. O que ele ainda não conseguia entender mesmo depois de todo aquele tempo de perseguição, era o porquê de um lobisomem estar agindo daquela forma. Sim, ele sabia se tratar de um lobisomem desde que avistou o lobo ao longe. E também sabia que não era nem um pouco costumeiro deixar suas vítimas deformadas — como se tivessem sido cruelmente torturadas — como aquele lobisomem estava deixando. Seu sexto sentido (ele gostava muito de dizer que tinha um) lhe dizia que tinha mais naquela história do que apenas uma série de assassinatos sem sentido, mas fosse lá qual fosse o motivo, Stiles iria interrompê-lo.

— Hm, talvez "impedi-lo" seja uma palavra melhor... — jogou as palavras ao vento e puxou um pouco mais a gola para perto quando uma brisa fria o cumprimentou. — Que frio...

Sua voz não passava de um sussurro, pois apenas conversava consigo mesmo. Vinha fazendo muito isso nos últimos meses, já que sentia que enlouqueceria caso não exprimisse qualquer frase que fosse. Falar era uma das coisas que mais gostava e sabia fazer bem, então passar tanto tempo em silêncio o perturbava. Aliás, era um grande feito ainda estar completamente são.

— Ah... Aquela taberna parecia ter camas realmente quentinhas... — pôs em palavras o pensamento que lhe ocorrera ao menos umas cinco vezes desde que a noite chegara. — Eu realmente devia ter feito Scott ter vindo comigo, ele saberia montar um acampamento bom e saberia cozinhar algo decente. Mas nãão! Ele precisava treinar suas habilidades de ferreiro! — resmungou, chutando uma pedra pequena.

Ao sentir as primeiras gotas de chuva, Stiles olhou para cima e viu o céu coberto de nuvens escuras parecendo estarem ali só para reforçar a ideia sobre a taberna de seu desejo. Mas evitando se lamentar mais do que o necessário, continuou andando num passo regular entre as árvores, que agora tinham uma aparência bem mais amedrontadoras graças a escuridão.

Mudou os pensamentos para coisas felizes para ignorar os calafrios que aquela floresta lhe causava. Pensou então em seus amigos no seu pequeno vilarejo de origem e na sua mãe sorridente. Ela, caso ainda fosse viva e estivesse ali, teria ficado pasma ao vê-lo todo trajado com as vestes de um autêntico caçador e andando destemido atrás de uma besta sanguinária que...

Nesse momento Stiles pisou de mal jeito numapedra lisa que não percebera estar ali e caiu de costas, batendo a cabeça notronco de uma das árvores sinistras. Ficou meio torto no chão com os braços epernas largados em posições engraçadas, sentindo o raciocínio nublado por longosminutos. E enquanto a chuva tornava-se cada vez mais forte, a letargia tomavapouco a pouco o que lhe restava de consciência. Contudo, ainda sentiu quandomãos o examinaram a procura de sinais vitais e também sentiu quando foi erguidocom certa facilidade do chão, sendo colocado num ombro como um saco de batatas.Só depois disso caiu pesadamente na inconsciência    

Um Helsing no encalçoOnde histórias criam vida. Descubra agora