Capítulo 7 - parte 3 (não revisado)

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– Alteza – pediu o primeiro-ministro quando todos se levantaram e retiraram. – Dá-me apenas uns minutos em particular?

– Claro, excelência.

Na sala particular o homem olhou para o Daniel.

– Agradeço a Deus por estar vivo – disse, aliviado.

– Soube que a sua cara quase virou carimbo – disse Daniel, rindo com gentileza.

– Eu tive uma culpa parcial, Alteza, mas não entendi por que ele ficou tão irritado. Nem por que ele disse que não era como vossa Majestade.

– É por isso que me pediu a audiência?

– Sinceramente, sim – respondeu ele, encolhendo os ombros.

– Meu amigo, o senhor pede que eu lhe fale sobre um segredo da minha família. Estou disposto a revelá-lo, desde que jure segredo.

– Juro-o solenemente.

– Bem, isso não será suficiente – continuou o jovem. – O que sabe sobre reencarnação?

– Bem, Alteza, eu sou budista. Acredito nela com toda a força do meu coração.

– Pois bem – disse Daniel, espantado porque não imaginava isso. – Eu vou lhe contar.

O imperador parou por quase um minuto, até que começou a falar:

– Nem o meu bisavô nem a minha bisavó morreram. Eles "desligaram." Quando foram encontrados, os corpos não haviam deteriorado. Além disso, uma profecia de uma vidente chinesa dizia que eles retornariam.

– Bem, há muitas profecias...

– Mas essa aqui, meu amigo, está comprovada em vídeo – interrompeu Daniel. – A Jéssica Helena, sobrinha do imperador Sturnino, era a reencarnação da minha bisavó, a mãe do governador de Vega XII.

– Não pode ser!

– Eu sou o pai dele e lembro-me de muitas coisas da minha vida, mas, ao mesmo tempo, sou eu com a minha identidade atual. É difícil de explicar, como se fosse duas pessoas em uma só. Quando fui dado como morto, o meu avô beirou o desespero. Para ele, acabara de perder o neto e o pai renascido. Sem falar que perdera a mãe recentemente. Isso foi pesado demais. Mas a minha ex-mulher, a mãe dele, apareceu para ele e disse que eu estava vivo.

– O senhor há de convir que isso é difícil de engolir!

– Sim, para quem não sabe o segredo da família – explicou Daniel, tirando o computador do bolso, o mesmo que foi da falecida esposa. – Olhe este vídeo.

Quando o primeiro-ministro começou a ver e ouvir a história da morte da Jéssica, até porque os microfones das câmeras de segurança eram sensíveis o suficiente para captarem tudo, ficou estarrecido.

– Meu Deus! – exclamou.

– Ela já apareceu para mim várias vezes, mas ele não tinha como provar para vocês.

– Acho que devo desculpas ao governador – disse o homem, muito impressionado.

– Deixe para lá que ele já esqueceu e não é homem de guardar rancores.

– Mas por que ele disse que não era igual a Vossa Alteza?

– Ele tem o sangue mais quente – respondeu, Daniel. – O poder que eu trago em mim dá-me tanto medo de ferir alguém que eu sou mais calmo.

– Esse argumento não é adequado – argumentou o primeiro ministro. – Ele, apesar de ter um poder inferior, pode ferir tanto quanto Vossa Majestade.

– Tem razão, mas o que vou dizer pode parecer um pouco de arrogância.

– De certo que não acharei isso, Alteza.

– Ele queria dizer que jamais teria perdoado o imperador Saturnino pela morte que causou. Ele quis eliminar o imperador e isso só não aconteceu porque eu não o permiti. E também perdoei-o. Demorou, mas perdoei.

– Entendo, Alteza. Foi no dia que o senhor voltou de Terra-Nova.

– Não – disse o imperador, abandando a cabeça. – Perdoei muito antes, mas só deixei que ele soubesse nesse dia.

– Obrigado por me esclarecer, Alteza. Acha que ele teria me rebentado a cara?

– Duvido muito. – Daniel riu. – Ele é demasiado bondoso, embora impulsivo, mas poderia ter ido para os finalmentes. O senhor ficaria um ou dois dias cheio de dores, mas sem danos. Afinal o senhor chamou-o de louco, sei que não foram essas palavras, mas para ele, soou assim. Bem, precisa de saber mais alguma coisa?

– Pretende abdicar?

– Não – respondeu, taxativo. – Eu fiz uma promessa ao povo e jamais falto com a minha palavra, mas não ficarei muito tempo. Vou-lhe contar mais um segredo. A Jéssica apareceu para mim e a Daniela. O nosso filho será o futuro imperador e unificará a Galáxia. Também disse que será o Saturnino renascido. Nós temos de prepará-lo para que não cometa os mesmos erros da vida anterior. Quando estiver pronto, abdicarei e farei o que sempre quis que é explorar o universo.

– Obrigado por me confidenciar isso, Majestade. Eu confesso que só acredito porque vi esse vídeo.

– Devias confiar mais no teu imperador, rapazinho – disse uma voz que deixou o homem assustado, uma vez que estavam sozinhos. O primeiro ministro olhou para o lado, procurando descobrir quem disse isso e o chamou de rapazinho a ele, um homem centenário. Ao ver quem era, ficou estático.

– Meu Deus!

– Acredita sempre nele porque o Daniel jamais mente, assim como o avô dele. Afinal, o governador foi meu filho e conheço-o como a palma da mão. Honra o teu imperador pois ele salvou a humanidade e fará isso mais umas quantas vezes. O futuro não é fixo, mas vejo muitas coisas. O que o meu filho quis dizer em não ser igual ao teu imperador, é que o Daniel é extremamente bondoso, mas o meu Dan é humilde demais para se comparar ao avô.

– Jessy, quase que o matas de susto – disse Daniel, rindo.

– Ele é forte – respondeu a falecida. – Adeus, meu amor, espero por vocês. Será muito longa, esta espera, mas valerá a pena. Adeus excelência.

Dizendo isso, a aparição desaparece, como sempre, envolta em um facho de luz muito intensa.

– E agora, amigo? – perguntou o Daniel. – Se o chamassem de louco não ficaria irritado?

– T... t... tem razão.

– Ótimo, encerremos este assunto. Estou com fome, se me permite...

– Permitir!? – exclamou ele. – Que é isso... de novo!

Pegando a mão da Daniela, saltaram para casa. Os cães fizeram a maior algazarra ao verem os donos, mas, para azar deles, o casal só fez uns carinhos neles e, de mãos dadas, foi para a garagem pegar o carro que ambos tanto gostam.

– Sabes, tenho que reformar aquela Ferrari – disse Daniel, apontando com o dedo. – Quando o bebê nascer, não haverá espaço aqui.

– Será que foi por isso que o teu bisavô a comprou?

– Não. Quando a Daniela Chang dele morreu, ficou arrasado e este carro lembrava-a tanto que comprou outro. Só depois que encontrou a Jéssica Silverstone é que ele voltou a usá-la.

– Caramba. Não sabia que tinhas tantas lembranças assim!

– Nem sempre tenho, mas algumas vêm à tona após comentários como o teu.

– Bem, em vez de carros, nós podemos usar planadores como a grande maioria das pessoas faz hoje.

– Mas eu adoro carros... – disse, sorrindo sonhador.

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DB II - Ep15 - Os Mortos ErrantesOnde histórias criam vida. Descubra agora