Keane Johnson

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Eu estava chegando do trabalho em uma sexta feira. O dia tinha sido logo e eu só queria descansar.

— Papai! - gritou Jessie pulando em meus braços.

Eu ri.

— Oi meu amor. - eu disse dando um beijo em seu rosto. - Onde está sua mãe?

— Na cozinha. Ela esta fazendo almôndegas!

Eu a coloquei no chão e fui até a cozinha.

— Que cheiro maravilhoso é esse? - eu perguntei entrando na cozinha.

Amanda se virou e sorriu para mim.

— Estou fazendo almôndegas, suas preferidas. - ela disse e depois se calou.

Eu a olhei confuso.

— O que houve? - eu perguntei a abracando por trás.

Ela se virou para me encarar.

— Quem é Lucille Parker? - ela perguntou estudando meus olhos.

Eu me lembrei na hora rindo.

— A esquentadinha. Ela foi minha vizinha na infância. - eu disse - Nossos pais eram muito próximos mas não a vejo desde o ensino médio, ela se mudou. A Lucy. Você se lembra dela, sabe, cabelos e olhos castanhos, muito explosiva e briguenta. Perecia um cão com raiva.

Ela riu.

— Verdade. Ela era legal, sómuito violenta. - ela disse.

— Mas por que a pergunta?

Ela tirou um envelope do bolso.

— Ela lhe escreveu. - ela disse me dando o envelope.

— Quem ainda escreve cartas? - eu perguntei virando o envelope em minha mão.

— Ela, aparentemente. - disse Amanda se virando para as almôndegas.

Eu me sentei na mesa e abri a carta.

Caro Keane,

Em primeiro lugar, oi. Você não deve ouvir o meu nome há anos e deve estar surpreso com a minha inesperada carta, mas tenho que fazer isso.

Em segundo lugar, você não será o único à receber uma carta dessas de mim, mas vamos ao que interessa.

Natal de 1995, eu tinha sete anos, você tinha dez. Você jogou molho doce no meu vestido. Naquela noite eu o odiei, e muito, e esse "ódio" me acompanhou até os dez, mas na verdade não era ódio.

Eu gostava de você, Keane. Você, o meu vizinho que enterrava brinquedos no jardim (até hoje eu não sei o porque você fazia isso) , foi a minha primeira paixão.

Eu gostava de observar você dar banho no Rex (um nome muito criativo) e era divertido brigar com você por tudo. Eu achava bonitinho o jeito como os seus cabelos ruivos sempre estavam despenteados, mas sempre achei seu rosto muito redondo. Como uma bola, pra falar a verdade. E eu lembro do dia em que eu parei de gostar de você.

Eu tinha dez, você treze. Você sempre foi um idiota, isso é verdade, mas naquele dia você foi cruel com a Amanda.

— Sua baleia imbecil! - você gritou - Vai quebrar o balanço.

Todos os seus amigos riram do seu comentário maldoso, menos o Tommy, enquanto a Amanda corria para chorar.

— Você que é o imbecil, Keane! - eu gritei - Ela também quer brincar e o balanço é público.

— É mas se ela brincar, ninguém mais vai poder, porque vai estar quebrado.

Eu bufei e lhe dei um soco no nariz, o pegando de surpresa, nunca tinha me sentido tão bem antes.

— Então fique com o balanço, mas vou te contar uma coisa. - eu disse o puxando pela blusa - Ele não vai durar para sempre.

E corri atrás dela. Nesse mesmo dia eu comecei a gostar do Tommy, porque ele foi o único a ir atrás de nós para ver como ela estava.

Ouvi dizer que vocês se casaram. Não sei se você que é muito sortudo ou ela que é muito azarada, mas não me importa. Espero que seja feliz com ela e que a faça feliz.

Não precisa me responder, sempre pensei nessas cartas como algo qie nunca voltaria. Você pode pensar o que quiser da carta, que foi um desperdício de tempo, que não tem nenhuma lógica mandar algo assim, mas para mim tem.

Espero que isso te lembre de alguma coisa, e que sempre valorize a Amanda, ela sempre foi linda por dentro, mas por algum motivo você só reparou quando o seu exterior começou a espelhar o interior.

Com amor,

Lucy

Eu dobrei o papel da carta e o encarei por alguns minutos. Eu havia me esquecido completamente disso.

— O que a carta dizia? - Amanda perguntou.

Eu me virei para ela e me levantei.

— Lucy. - eu disse - Você a conhecia. Ela quebrou o meu nariz quando eu tinha treze e ela dez.

Ela me olhou confusa enquanto eu a abraçava.

— Por que ela faria isso? - ela perguntou.

— Porque eu fui cruel com você, querida. - eu disse com o semblante triste - Ela me lembrou de que eu não te mereço. Nem um terço de você.

Ela sorriu tocando meu rosto.

— É claro que ela não quis dizer isso. - ela disse - Me lembro desse dia agora, e eu já o perdoei a muito tempo.

Ela beijou a minha testa.

— Vamos jantar? - perguntou Jessie entrando correndo na cozinha.

Eu sorri olhando para o rosto dela.

— Redondo como uma bola. - eu disse pegando ela no colo.

— O que? - ela perguntou tocando no meu nariz.

— Nada, meu amor.

Love, LucyOnde histórias criam vida. Descubra agora