Thomas Craig

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Eu acordei cedo para correr, era sexta feira o que quer dizer que hoje eu vou sair para beber com o Keane e os caras.

Quando voltei o correio já tinha passado me deixando várias contas, como sempre, e uma carta.

Lucille Parker?

Lucille, Lucille, Lucille. Eu repeti o nome tentando me lembrar o porque de ele ser familiar. A vizinha gata do Keane se chamava Lucy.

Eu abri o envelope.

Caro, Thomas

Você, provavelmente, não se lembra de mim. Faz realmente muito tempo mas vou tentar refrescar a sua memória.

Verão de 98. Eu quebrei o nariz de Keane Johnson por ele ter implicado com a Amanda.

Foi naquele dia que eu passei a gostar de você.

Gostar mesmo. Você foi tão gentil e atencioso conosco. Me ajudou a enfaixar a minha mão machucada pelo soco que eu dei em Keane, disse coisas legais a Amanda. Sempre pensei que seu eu tivesse ficado na cidade, talvez acabasse me casando com você.

Bom, tudo era lindo. Eu o observava jogar beisebol com os garotos e sempre gostei dos seus olhos, de uma castanho tão bonito, e as suas covinhas tão doces.

Até o verão de 2001.

Eu tinha treze e você, quinze. Você nunca foi bom de briga. Pelo menos não bem quanto eu. Então, em um "amistoso", Daniel Lone, depois do jogo, veio gritar com você, frustrado por ter perdido.

— Seu merdinha! - ele gritou - Você é o capitão?

Você ergueu os braços, as palmas para  cima pedindo calma.

— Se acalme, Daniel. - você disse - Sim, sou eu.

Então ele lhe deu um soco e eu entrei entre você o empurrando.

— Você perdeu, idiota! - eu gritei - Quer perder um dente também!?

Ele riu.

— Olha só, a nanica tem raiva. - ele disse.

Eu o soquei no rosto o mais forte que eu consegui antes de você me segurar. Ele cuspiu sangue.

— Precisa da namorada para brigar, Tom? - ele disse sorrindo - Não duvido que o gancho de direita dela seja mais forte que o seu.

— Posso garantir que o dela é mais forte. - disse Keane rindo ao nosso lado - Não vai querer levar outro, vai?

— Ela não é minha namorada, é minha amiga. Quase uma irmãzinha. - você disse, quebrando o meu coração frágil de uma garota de treze anos.

Ele sorriu se aproximando de mim.

— Então ela está disponível? - ele perguntou passando o dedo pelo meu maxilar enquanto você ainda me segurava.

Eu ameacei morder o dedo dele.

— Não para você, babaca. A menos que queira um enterro de caixão fechado. - eu disse me soltando dos seus braços.

Ele riu.

— Mantenha sua amiguinha na coleira, ela pode lhe causar problemas. - ele disse se afastando.

Eu ameacei ir atrás dele mas você e Keane me seguraram.

— Não vale a pena, Lucy. - disse você. - Ele é um babaca.

Eu bufei e me soltei de seus braços.

— Então ele não é tão diferente de nenhum de vocês! - eu gritei me afastando.

— Para onde você vai? - ouvi você perguntar ao longe.

— Para longe!

Eu costumava pensar que você seria o primeiro. Meu primeiro beijo, minha primeira vez, mas você se tornou apenas outro rosto que me decepcionou. Não o culpo, éramos apenas crianças e faz muito tempo, mas se você se lembra disso deve se lembrar do que veio depois.

Fico imaginando, será que se você não tivesse dito aquilo, eu ainda teria ido ao baile com o Daniel? A resposta é não, eu não iria, porque eu só embarquei nesse "relacionamento" excepcional abusivo para duas crianças, para lhe ciúmes porque você o odiava.

Bom, nunca teve o resultado esperado.

Mas não se sinta mal, tudo acabou bem.

Ouvi dizer que agora você se tornou o babaca que você tanto criticava no ensino médio. Ainda me lembro dos seus comentários sobre o seu irmão. Sai todas as noites, provavelmente dorme com uma garota diferente todo dia, mas isso não me importa.

Tomara que você se sinta bem sendo esse novo Thomas, porque o Thomas que eu conheci queria uma família. Uma bela mulher, filhos. Espero que esteja feliz assim.

Com amor,

Lucy

Eu peguei o celular e liguei para o Keane.

— E aí, cara? Tudo certo para essa noite? - ele perguntou com o tom de voz brincalhão.

— Lucille Parker me enviou uma carta. - eu disse ignorando sua pergunta.

Ele ficou em silêncio por um tempo.

— Então ela vai enviar uma para todos os seus antigo amores. - ele disse do outro lado da linha de maneira reflexiva.

— O que? Ela te mandou uma também?

— É, eu recebi uma na semana passada. - ele disse.

Eu me levantei.

— O que ela dizia? - eu perguntei.

— Como ela se sentia naquela época e no final algo reflexivo, para me fazer pensar no quanto eu era sortudo por ter a Amanda. - ele disse - Por que?

Eu respirei fundo.

— Acha que ela vai manda para todos?

— Eu tinha essa teoria mas só teria certeza se você recebesse uma carta. - ele disse e consegui ouvir a Jessie rindo ao fundo.

— Eu? Por que?

— Seu nome é citado na minha carta. - ele disse - Ela cita alguém na sua carta?

— Daniel Lone. - eu disse - Acha que ele vai receber uma carta?

— Na sexta que vem. - ele disse - Se lembra onde ele mora?

Eu suspirei.

— Lembro. - eu disse - É no centro.

— Semana que vem vamos à casa dele. - ele disse - Tenho que desligar. Te vejo a noite.

E desligou. Eu subi as escadas ainda com a carta em mãos. Eu sempre gostei da Lucy, mas naquele dia eu fiquei envergonhado por ele achar que éramos um casal, achei que ela não gostaria do mal entendido. Pelo jeito eu era um péssimo observador.

Eu fui até o banheiro tomar um banho e me olhei no espelho, encarando os olhos que um dia Lucy achou tão bonitos.

— Você gosta do que vê no espelho? - eu perguntei me encarando.

Lucy fez parte de toda a minha infância e adolescência, era impossível se esquecer dela. Da sua intensidade, das suas explosões, dos seus socos poderosos.

— Por que está nos escrevendo, Lucy? Essa não parece você.

Love, LucyOnde histórias criam vida. Descubra agora