A verdade raramente é pura e jamais é simples.

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Sinto meu corpo mole, como se eu não tivesse controle sobre ele.

Novamente a escuridão me pega e não vejo nem escuto mais nada. Acordo sem saber o que está acontecendo ouço pessoas falando ao meu redor, não consigo discernir o que estão falando e nem quero entender. Me lembro vagamente do Paulo com um canivete enfiando na minha barriga, lembro também dos olhos do Pedro apavorados com o sangue em minhas mãos. Meu Deus eu vou morrer, fui esfaqueada dentro de um bar por um psicopata racista. Deus e os meus filhos o que vai ser deles agora também sem a mãe.

- Meus filhos. – Tento dizer.

- Por favor não tente se levantar a ambulância já está vindo. – Abro os olhos e vejo Pedro me olhando com sofrimento, como se ele também estivesse sofrendo.

A queimação na minha barriga parece tomar todo meu corpo mesmo que eu quisesse não consigo sair dos braços dele.

- Está doendo tanto. – Digo olhando para ele, que passa as pontas dos dedos em meu rosto.

- Você está gelada, por favor, se mantenha acordada. – Assinto com um menear de cabeça. Mas parece tão difícil me manter de olhos abertos, seria tão mais fácil só desistir. No entanto, não posso meus filhos dependem de mim.

- Meus filhos Pedro. – Falo para ele.

- Calma vai ficar tudo bem, não se preocupe com isso agora. Só fique acordada, está bem?

- Vou tentar. – Falo num suspiro. Mas não sei como. A escuridão me pega novamente e não escuto nem vejo mais nada.

Sinto mãos me envolvendo pela cintura quando sou erguida e levada para o lado de fora, acredito ser o lado de fora, sinto o vento gelado na minha pele e um arrepio perpassar meu corpo, apesar do calor das mãos que me seguram sinto uma vontade imensa de me entregar ao frio. Meu corpo não me responde por mais que eu tente não consigo me comunicar, porém minha inércia não me impede de tentar com mais voracidade. Consigo estabelecer um padrão ao meu redor sei que estão segurando a minha mão.

- Karla por favor querida fique acordada, procure não fechar os olhos. – Leandro me fala ao pé do ouvido, quando tento responde escuto sirenes.

- Ela está gelada, o que vamos fazer? Por que eles não vêm mais rápido.

-Vamos mante a calma! Ela vai ficar bem. Alguém chamou a polícia para o cara que estava ao lado dela? Alguém sabe o nome daquele animal? – essa com certeza é a voz do Pedro e rezo agradecendo por ele ter aparecido, apesar de eu estar nessa situação.

- Boa noite, fomo chamados! O que aconteceu? – não reconheço essa voz, entretanto só pode ser dos socorristas.

- Ela foi esfaqueada. – A voz de Pedro é um misto de raiva e medo.

- Certo, o senhor não deveria tê-la tirado do local. Onde fica a lesão?

- Aqui desse lado. – Pedro fala – estou pressionando, mas o sangramento não para.

- Senhor se acalme por favor. – O socorrista pede – coloque ela na ambulância que vamos leva-la rapidamente para o hospital.

- Eu vou com ela. – Escuto Pedro falando e não dando margens para discussão e sinceramente. Hoje, nesta noite, ele está sendo meu anjo particular.

Em um ato de estrema força consigo abrir meus olhos e encaro aquele que de certa forma nesta noite foi meu salvador.

- Anjo.

- Sempre que você quiser serei seu anjo minha doce e linda Karla.

E com essa frase eu apago e não consigo mais diferenciar os sons ao meu redor, muito barulho e depois muito silencio, só escuto alguns bips insistentes que não sei de onde vem.

A pura luxuriaOnde histórias criam vida. Descubra agora