Capítulo 2

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- Alô? Quem está falando? - uma voz suave diz do outro lado da linha e eu pressiono os lábios, pronta para explicar o que aconteceu.

- Oi, meu nome é Isabella. Encontrei esse celular na cafeteria de manhã e guardei para devolver ao dono – digo tentando não transparecer meu nervosismo. Não gostava de falar no telefone, principalmente com estranhos.

- Eu sou o dono do celular, usei o telefone de um amigo para ligar. Você poderia me encontrar para devolver o celular? Ainda está na faculdade?

- Estou sim, podemos nos encontrar na mesma cafeteria - sugiro.

- Pode ser, te vejo em 10 minutos.

Antes que eu possa responder, ele encerra a chamada. Continuo encarando o celular até começar a escutar a voz de Bianca me enchendo de perguntas.

- Por que ficou com o celular? Não era mais fácil deixar com um funcionário do café? Agora vai ter que ir encontrar o dono – ela diz e eu não consigo esconder o sorriso. Essa era exatamente a intenção. – Espera aí, você conhece o dono do celular?

- Eu o vi mais cedo no café – dou de ombros como se não fosse nada demais, mas Bianca já parece ter sacado todo o meu plano.

- Ele é bonito, não é? Por isso ficou com o celular para devolver e ter a chance de falar com ele – ela deduz e eu reviro os olhos.

- Não dá para esconder nada de você – reclamo enquanto pego minha bolsa para sair.

- Nem tente – ela sorri vitoriosa e eu balanço a cabeça.

- Estou indo, me deseje sorte – digo ficando em pé.

- Boa sorte. Tente ser sútil, não deixe na cara que fez tudo isso para encontrar o cara. Ele vai se achar – Bianca aconselha e eu sorrio antes de dar as costas.

- Pode deixar.

O caminho até a cafeteria só levava alguns minutos, então em pouco tempo eu já me encontrava no local. Respiro fundo antes de passar pela porta e procurar o garoto, o avistando rapidamente. Ele estava sentado na mesma mesa ao lado da janela que eu tinha escolhido hoje de manhã, distraído olhando através do vidro.

Ando lentamente até onde ele estava e paro ao seu lado, finalmente chamando sua atenção. Os olhos dele sobem até encontrar meu rosto, me encarando curioso.

- Isabella? – pergunta e eu assinto.

- Eu mesma, e você deve ser o dono do celular, certo? – digo e ele confirma com a cabeça, em seguida apontando para o assento livre em sua frente. Me sento e tiro o celular dele da minha bolsa, o devolvendo.

- Muito obrigado por ter guardado, fiquei desesperado quando não consegui encontrar – ele diz parecendo aliviado olhando para o próprio celular. Aproveito a oportunidade para observar melhor seu rosto. Ele tinha o cabelo bem escuro, quase preto, e lindos olhos verdes, que contrastavam com a sua pele pálida.

- Posso imaginar seu desespero, se eu perdesse meu celular provavelmente surtaria – respondo e ele ergue a cabeça para me olhar, depositando o celular na mesa. Seus olhos analisam meu rosto por alguns segundos, me deixando seu graça. Torço internamente para que ele não se lembre de hoje de manhã. Não quero ser conhecida como a garota que ficou o encarando como uma maluca.

- Eu acho que te conheço – ele diz sem perder o contato visual. Eu dou um sorriso amarelo.

- Talvez você tenha me visto hoje de manhã aqui – digo e ele levanta as sobrancelhas, parecendo se lembrar.

- Claro! Você era a garota da mesa bagunçada – diz, por fim, e eu franzo a testa. Mesa bagunçada? Tinha algumas coisas espalhadas sim, mas isso foi tudo que eu conseguiu prestar atenção?

- Parece que sim – dou um sorriso falso e vejo que ele aperta os olhos em minha direção, assim como a Bianca faz quando desconfia de algo que eu digo.

- Espera, você sabia que eu era o dono do celular?

- Sabia – digo a verdade. Não tinha para onde fugir, ele se lembrava de mim. Só me restava distorcer os fatos para camuflar meu real interesse, assim como a Bianca aconselhou. – Notei mais cedo que a sua capinha era igual a minha, por isso deduzi que você era o dono – digo e pego meu celular da bolsa, balançando o aparelho na sua frente para que ele comprasse a minha explicação. Teoricamente, foi isso mesmo que aconteceu.

- Entendi. Parece que prestou muita atenção – ele bebe um gole do seu suco e eu franzo a testa diante do seu comentário insinuante.

- Eu presto atenção em tudo – me defendo no caso dele estar dizendo que ele era o alvo da minha atenção. Isso o faz sorrir de forma divertida.

- Tem certeza? - ele apoia os cotovelos na mesa e joga seu corpo para frente, se aproximando de mim. Pressiono minhas costas no encosto do bando, como se, de alguma forma, isso fosse me afastar dele. - Pelo o que eu vi, você faz mais o tipo distraída.

- Falou o cara que esqueceu o celular – retruco e ele desvia os olhos, sorrindo de lado.

- Tudo bem, me pegou – ele se rende e eu rio sem humor.

- Por que você apenas não me agradece e para de insinuar coisas? – digo e ele franze a testa, quase surpreso com a minha pergunta.

- Insinuar? Então você não pegou o celular só para poder falar comigo? – ele diz e eu reviro os olhos. Bianca estava certa sobre ele se achar se soubesse a verdade.

- Claro que não!

- Negação exagerada, está mentindo – ele diz me encarando desacreditado, o que me deixa mais irritada.

- Eu só fiz a primeira coisa que pensei, mas você pode acreditar no que quiser para alimentar o seu ego – respondo já sem paciência. Ele parece se divertir com a minha reação, pois sorri diante da minha resposta.

Pego meu celular da mesa e guardo na bolsa. Precisava sair dali, antes que eu me entregasse ainda mais e fizesse papel de boba. Ele sabia que era bonito, e estava fazendo aquilo para me deixar sem graça e se divertir as minhas custas.

- Já que não tenho mais nada para fazer aqui, acho que está na hora de ir embora – digo me levantando e ele imita minha ação, ficando parado na minha frente, sem tirar aquele sorrisinho do rosto que estava começando a me irritar.

- Obrigado novamente por ter guardado meu celular. Á proposito, meu nome é Benjamin – ele estende a mão e eu encaro, hesitando em apertar. - Seja educada e aperte a minha mão, Bella – ele frisa meu apelido e eu o encaro com a sobrancelha arqueada.

- Não pode me chamar assim – digo grossa.

- É seu nome, não é? – retruca de forma dissimulada e eu respiro fundo.

- Meu nome é Isabella. Bella é meu apelido – explico sem muita paciência e ele cruza os braços, me observando com divertimento.

- Por que não posso usar seu apelido?

- Porque acabou de me conhecer.

- Algo me diz que vamos nos encontrar novamente – Benjamin responde de forma misteriosa, como se soubesse de algo que eu não sei. Resolvo não perguntar nada para não prolongar aquela conversa. Queria sair logo dali.

- Então...tchau – me despeço e ele acena com a cabeça, ainda me olhando de forma enigmática. Dou as costas e caminho até a porta, sentindo que finalmente posso respirar de novo.

Benjamin não era exatamente o que eu esperava. Talvez eu tivesse imaginado alguém mais gentil, e com certeza menos arrogante. Era isso que eu ganhava por idealizar as pessoas. 

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