Capítulo 10

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Não coloquei os pés para fora do apartamento desde sábado. Primeiro porque estava com medo de ver o Nicolas, segundo porque passei o final de semana inteiro ajudando Lucas com a mudança. Foi cansativo, mas muito bom para me distrair das lembranças negativas que insistiam em me atormentar.

Bianca não parou de reclamar sobre ter que carregar as caixas pesadas do Lucas, mas apesar disso, acho que eles estão se dando bem. A convivência que eles tiveram foi muito pouca, as vezes almoçamos juntos na faculdade e ele vinha em casa para fazermos algum trabalho, mas compartilhar a mesma casa é outra coisa. Eu realmente espero que dê tudo certo.

Quando a noite chegou e a casa ficou em silêncio, não consegui impedir que meu cérebro me levasse de volta para o estacionamento daquele restaurante. Era quase como se eu pudesse sentir o toque dele pelo meu corpo, o coração quase saindo pela boca enquanto eu fugia, o medo que eu senti. Eu mal consegui dormir, toda vez que fechava os olhos o rosto de Nicolas aparecia.

Acordei péssima, como o previsto, e bem antes do horário. Decidi que iria mais cedo para a faculdade, se Bianca acordasse e visse meu estado iria de preocupar. Além disso, teria menos chance de encontrar o Nicolas no elevador.

Quando chego na faculdade decido ir comprar um café, talvez me ajudasse a acordar.

- Um café, por favor. O mais forte que você tiver - peço ao atendente que assente. Enquanto isso procuro minha carteira na bolsa.

- Noite difícil? - alguém dia atrás de mim e eu me viro, encontrando Benjamin.

- Você nem imagina - rio sem humor e ele me analisa sem dizer nada. - Não está um pouco cedo para você estar aqui?

- Você também está aqui - ele balança os ombros e eu reviro os olhos.

- Não respondeu minha pergunta - digo e ele sorri. Meu café fica pronto e eu pago, parando ao lado de Benjamin.

- Vim mais cedo para falar com um professor - diz. - E você?

- Acordei adiantada e resolvi vir antes - digo omitindo a parte em que eu mal dormi a noite, mesmo que estivesse estampado "desânimo" na minha cara.

Benjamin paga seu café e se volta para mim.

- Já que estamos aqui, não quer ficar e conversar uma pouco? - ele propõe e eu assinto, seguindo ele até uma mesa no canto da cafeteria. Não tinha muito gente aqui ainda, geralmente lotava depois das nove.

Me sento e bebo meu café em silêncio, sentindo o olhar dele sobre mim.

- Você está melhor? - ele quebra o gelo e eu o encaro. Eu sabia do que ele estava dizendo, podia ver que ele estava preocupado.

Dizer que eu estava bem seria uma grande mentira e, por algum motivo, eu quero falar a verdade para ele. Benjamin não era meu amigo, mas também não era um completo estranho.

Bianca me contou algo que me deixou surpresa nesse fim de semana, Benjamin fazia psicologia. Ela o conhecia de longe e inclusive já teve algumas aulas com ele. De certa forma fazia algum sentido, quer dizer, Benjamin tinha esse olhar de quem estava sempre analisando tudo a sua volta. Ele sempre tinha todas as respostas e talvez eu precisasse disso.

- Não consegui dormir, sinto que estou em estado de alerta desde o que aconteceu - suspiro e deixo meus ombros caírem.

- Talvez você precise falar com um profissional, conversar sobre o que aconteceu e tirar esse peso das costas - ele responde com calma.

Eu pensei em falar com a Bianca, afinal, ela também fazia psicológia. Mas ela me disse que estava envolvida demais no assunto e eu precisava falar com outra pessoa. Talvez ela tivesse razão, Bianca podia me dar alguns conselhos aleatórios as vezes mas dessa vez era diferente.

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