Capítulo 7

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Eu tinha ficado preocupada que ficássemos sem assunto no carro e um silêncio constrangedor tomasse conta do lugar, mas Nicolas não parou de falar o caminho inteiro. Acabei descobrindo que ele tem vinte e cinco anos, é formado em administração e morava em Curitiba mas se mudou para São Paulo porque recebeu uma proposta para trabalhar em uma dessas empresas importantes.

Eu cometi o erro de elogiar o carro dele, o que deu início a um monólogo interminável sobre carros e marcas que eu não conhecia. Eu fingia estar interessada e de vez em quando soltava um "aham", "concordo". Graças a Deus chegamos no restaurante e ele deu fim àquele assunto.

O restaurante que ele tinha me trazido era bem bonito e parecia caro. Logo que entramos, notei que as pessoas que frequentavam aquele lugar pareciam importantes e elegantes. De repente não estava mais tão confiante com a minha escolha de roupas.

- Então, ainda não sei muito sobre você. Me conta um pouco sobre a sua vida, o que você faz - Nicolas se ajeita na cadeira e me encara atento. 

- Bom, eu tenho vinte e três anos. Me mudei para cá para fazer faculdade - digo sem saber exatamente o que contar sobre mim. Minha vida não era muito interessante.

- Então você também não é daqui - ele conclui e eu assinto com a cabeça. - Faz faculdade de que?

- Medicina, estou no quarto ano - conto de forma inocente e vejo sua expressão cair. Parece que ele não estava esperando por isso. - Você parece surpreso.

- Um pouco - ele ri fraco e bebe um gole do vinho que pediu.

- Por que? - pergunto sem esperar o que vai sair da boca dele em seguida.

- Sempre achei que garotas bonitas não poderiam ser tão inteligentes - diz e eu seguro e riso na garganta. Aquilo só poderia ser uma piada. 

- Bom, você está enganado - digo juntando toda a minha paciência. - Uma mulher pode ser bonita e inteligente, mas não posso dizer a mesma coisa dos homens - alfineto e ele pigarra, sem graça por eu ter respondido dessa forma. 

- Mas onde você faz? Alguma faculdade particular? - ele volta a perguntar e sorrio orgulhosa. 

- Na verdade, eu faço na USP. Passei em segundo lugar. Também passei em outras cinco federais mas encolhi estudar aqui. Sabe como é, dizem que é a melhor - respondo com deboche e os olhos dele se arregalam, mas ele trata de se recompor logo. 

- Impressionante.

Depois disso, ele voltou o foco da conversa para a sua vida novamente. Me contou mais um monte de coisas que eu não prestei atenção porque, sinceramente, depois daquele diálogo ridículo eu tinha perdida qualquer interesse por ele. Além de tudo, ele bebeu muito vinho e já estava dando sinais de que estava meio bêbado.

Eu não lidava muito bem com álcool. Na verdade, sempre evitava lugares onde havia pessoas bêbadas por conta dos traumas causados pelo meu pai. Eu nunca bebi e não pretendia.

Antes de ir embora, falei que precisava usar o banheiro para ter um momento de paz antes de entrar no carro com ele de novo.

Enquanto me olhava no espelho, eu só conseguia pensar em como isso tinha sido um erro. Eu me arrumei, criei expectativas e foi tudo para o lixo. Quantos caras inúteis teriam que cruzar o meu caminho até eu encontrar o certo?

"Pelo menos você comeu de graça", era o que a Bianca diria para me consolar quando eu voltasse. Não via a hora de chegar em casa.

Nicolas não deixou o carro no estacionamento alegando que o preço era um roubo, além de tudo era mão de vaca. Por isso, estacionou na rua sem saída atrás do restaurante. Não tinha uma alma viva ali e o lugar era pouco iluminado, o que por algum motivo me deu uma sensação muito ruim. 

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