Capítulo 23

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Estou correndo e está escuro, alguém me chama e eu sinto o medo percorrer o meu corpo. Não sei quem é mas o som da sua voz me faz estremecer. Tropeço e caio no chão, atrás de mim há um penhasco e eu fico na beirada. A pessoa que me chamava se aproxima, vejo um homem, mas seu rosto é um borrão. Ele caminha na minha direção e, sem saída, me viro e salto do penhasco. Sinto o vento no meu rosto e grito. Quando estou quase atingindo o chão, acordo assustada.

Odeio esses sonhos em que estamos caindo, é muito desesperador. Agora perdi o sono. Olho no celular e ainda são duas e meia. Escuto o barulho forte da chuva e estremeço, tinha esfriado bastante. Espio Benjamin, ele está encolhido na fina coberta que eu tinha dado. O chão certamente é mais gelado que a minha cama, ele deve estar com bastante frio.

- Benjamin. - Sussuro mas ele não se mexe. - Benjamin, acorda. - Chamo um pouco mais alto e ele abre os olhos.

- O que foi? - Ele resmunga.

- Vem dormir na cama, está muito frio aí. - Eu digo e ele me encara surpreso.

- Tem certeza? - Pergunta duvidoso.

- Sim. - Afirmo e ele levanta e se deita ao meu lado, mantendo uma certa distância.

- Por que você está acordada? - Ele diz se virando para me olhar e eu faço o mesmo.

- Tive um pesadelo. - Eu digo.

- Quer falar sobre? - Pergunta. Vejo que ele está com sono, seus olhos parecem cansados e estão quase se fechando.

- Talvez amanhã. Agora descanse, hoje vai ser um longo dia. - Eu sorrio.

- Tudo bem. - Ele assente e fecha os olhos.

Eu demoro para dormir. Fico observando seu rosto, assim de pertinho ele fica ainda mais bonito. Além de tudo, é muito fofo dormindo.

- Bella, acorda. Seu mãe já está nos chamando para tomar café. - Escuto Benjamin dizer mas não abro os olhos. Sinto que tinha dormido só cinco minutos.

- Que horas são? - Resmungo.

- Nove. - Abro os olhos e me levanto ainda meio sonolenta. Benjamin já está vestido e parece muito disposto.

- Há quanto tempo está acordado? - Pergunto.

- Uma hora. Dormi melhor essa noite. - Ele pisca e eu rio.

- Foi só dessa vez. Eu tive piedade de você porque estava frio. - Ele revira os olhos.

Entro no banheiro e tomo um banho. Me arrumo e saio. Benjamin não está mais ali então eu desço para a cozinha.

- Onde está a minha mãe e a Camila? - Pergunto para minha tia quando noto que nenhuma das duas está presente.

- Sua mãe foi levar o café da manhã para ela. Hoje é o dia da noiva. - Ela diz animada. Deve estar pensando em como nosso dia vai ser empolgante. Maquiadores e cabeleireiros viriam nos produzir para o casamento e, confesso, eu também estava animada.

- Acho que vou subir para falar um pouco com elas. - Eu digo assim que termino o meu café.

Caminho até o quarto - que eu achava que era - da Camila. Quando entro, encontro ela jogada na cama chorando enquanto minha mãe tentava acalmá-la.

- Meu deus, o que está acontecendo aqui? - Pergunto preocupada. Nesse estado, qualquer um pensaria que ou o casamento foi cancelado ou alguém morreu.

- Você pode tentar acalmar a sua irmã? Tenho que resolver algumas coisas agora. - Ela vem até mim e sussurra. - Tenha paciência, ela está surtando.

Ótimo, sobrou para mim. Olho para o estado deplorável da minha irmã e digo:

- Me conta o que está te deixando nesse estado. - Me sento do seu lado na cama.

- Isso! - Ela aponta para janela e eu finalmente entendo. É claro. Continua chovendo desde madrugada e o casamento é na praia. Que catástrofe.

- Fica tranquila, o casamento é só no final da tarde, até lá a chuva terá passado. - Tento ser otimista. Eu não acreditava muito nisso mas esperava que realmente tudo desse certo. Seriam meses de planejamento jogados no lixo.

- Mas e se não parar? - Ela funga.

- Alugamos uma tenda, ainda dá tempo. - Digo. - Agora relaxe, eu vou cuidar de tudo e você não precisa se preocupar. Hoje é o dia do seu casamento, tem que ser especial.
- Falo animada.

- Espero que você esteja certa, se não, eu cancelo o casamento e vai todo mundo embora. - Ela diz rápido e eu solto uma risada.

- Você é maluca. - Digo me levantando. - Vou indo porque tenho várias coisas para resolver e você coma essa comida que a nossa mãe te trouxe. Não quer desmaiar hoje, quer? - Ela revira os olhos.

Volto para o quarto e fico no telefone por um longo tempo. Não achei nenhum lugar que alugasse as tendas, ao que parece, as pessoas não costumam ligar tão em cima da hora.

- Mas vocês não podem abrir uma exceção hoje? Por favor, é muito importante. - Apelo. Benjamin entra no quarto e eu faço sinal que estou no celular.

- Desculpe, senhora, mas os clientes costumam ligar com antecedência. - A mulher diz e eu suspiro.

- Vocês podem me cobrar mais caro.

- Veremos o que podemos fazer e te retornamos mais tarde.

- Moça, você não está entendendo, eu não tenho temp... - Ela desliga e eu bufo irritada.

Encaro o nada enquanto penso em como resolver isso. Se eu não alugar essa maldita tenda o casamento não acontece, não com essa chuva.

- Parece preocupada. - Benjamin diz e se senta do meu lado.

- Estou. Não consigo alugar a tenda para o casamento e não para de chover. Deveríamos ter previsto que isso poderia acontecer. - Suspiro e me jogo para trás de forma dramática. - Mas não quero falar disso, como foi o ontem? - Pergunto.

Ontem foi a "despedida de solteiro" do Gabriel e da Camila. Ele e os homens saíram juntos e as mulheres optaram por ficar em casa. Foi divertido, assistimos vários filmes e minhas tias reclamaram dos maridos.

- Foi bem legal. - Ele responde.

- Tinha stripers? - Ele solta uma gargalhada.

- Stripers? Sabia que seu primo de 10 anos estava lá? - Ele diz e eu rio.

- Não me julgue, nós filmes sempre tem stripers nas despedidas de solteiro, eu só queria saber. - Eu digo.

- E o que vocês fizeram? - Ele pergunta.

- Nada demais. Só jogamos conversa fora enquanto assistíamos alguns filmes.

- Empolgante. - Ele ironiza.

- Sabe, todo mundo gostou de você aqui. - Eu digo.

- Não posso evitar ser tão popular. - Ele diz e eu arqueio as sobrancelhas.

- Você acabou de citar Meninas Malvadas? Ganhou meu coração.
- Digo dramática, eu amo esse filme.

- Se eu soubesse teria feito antes. - Ele sorri e eu o encaro sem saber o que dizer.

- Bella, vem aqui um pouquinho? Preciso da sua ajuda. - Minha mãe surge na porta e eu me levanto. - Não consegui a tenda. Por favor, me diga que você teve mais sorte.

- Também não, mãe. Mas olha - aponto para janela - já não está chovendo tanto, provavelmente vai parar até a hora do casamento.

- Espero que esteja certa. Os decoradores logo vão chegar para organizar tudo. - Ela suspira.

- Fica calma, vai sair tudo como planejamos.

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