copycat ;; ksg

rosé wine

A lesão em meu braço não foi tão grave, mas também não foi tão leve. Uma luxação, em 2 semanas de completo descanso eu já estaria melhor. Precisei ver a final do campeonato através da quadra, e SeulGi tomou a posição que anteriormente pertencia a mim. Sua aparência estava impecável e era como se ela estivesse acostumada aos holofotes e ao palco. Foi bela ver a forma como o time de nosso colégio conquistou a taça, e como Lucas a ergueu logo depois que Victoria o beijou, confete caindo sobre todos eles. Uma bela cena da qual nem ao menos pude fazer parte.

A tala em meu braço o incomoda todos os dias. Hoje já é o 6° dia em que a proteção que isola meu membro superior esquerdo estampa suas cores azuis quando olho para o espelho, mas SeulGi me é de uma ajuda imprescindível. Todas as minhas matérias tem sido copiadas por sua letra desenhada e delicada, com sua caneta de aromas florais. Ela copia para si e para mim, além de me explicar tudo aquilo que me é difícil de entender. Como se não bastasse isso tudo, ela me auxilia a comer, a amarrar os laços de meus cadarços, e até mesmo recorda-me de ingerir meus remédios caso eu ocasionalmente os esqueça.

- É para isso que serve um amigo - é o que ela me diz a cada vez em que agradeço. Se eu tivesse vários amigos, o valor dessas ações seria dividido para vários e talvez se tornasse algo corriqueiro e não tão importante. Tendo apenas uma pessoa para contar, porém, vejo o quanto cada pequeno ato é necessário. É só assim que damos valor às coisas.

Apesar disso, nunca me senti tão sozinha quanto atualmente. Perturbada, a cabeça pesada, os olhos tristes, os ombros estalando, a dor física e mental forte e que não quer se curar sozinha. Sinto-me atacada por alguns lados e abandonada por outros. Quero correr e esconder-me em algum lugar, mas os vícios da carne gritam por mim todos os dias, e eu sucumbo aos seus chamados no momento em que jogo um xale cinza sobre minhas roupas monocromáticas e apáticas, descendo as escadas e lutando para acender um cigarro quando chego do lado de fora. Não posso dirigir, logo, preciso pegar um táxi para que seja levada ao centro de Londres, para o encontro de perdição que os jovens desiludidos criaram juntos para, quem sabe, sanar suas dores em um coletivo. Respiro fundo, apertando o frasco de analgésicos no bolso. Tiro-o de lá e tomo algumas pílulas. Está doendo demais, não posso nem acreditar que restam apenas 8 dias para que eu me veja livre dessa maldição, uma vez que a lesão não parece nem mesmo próxima de sarar.

Quando chego ao clube, ele tem luzes fortes e pessoas felizes ao extremo. Se estão fingindo, se estão drogados, se realmente estão felizes, não cabe a mim saber ou julgar. Quero desaparecer no meio deles como já tenho desaparecido para todos por onde eu vou. Sei a forma como fazer isso, e isso é fácil. Preciso misturar-me entre eles e agir como eles, e é assim que paro frente ao balcão do bar, vejo um bartender entre jovem e meia idade chacoalhando um coquetel.

- O que quer, mocinha? - questiona.

Olho para as garrafas atrás dele, e todas as bebidas são desconhecidas para mim. Passo um tempo excepcionalmente constrangedor tentando fingir localizar algo do qual realmente gosto, e vejo uma garrafa brilhante de vinho rosé exposta em uma prateleira, e apesar de eu não fazer ideia do que isso é exatamente, vejo a cor rosa e ela me lembra SeulGi. Minha amiga nem ao menos tem ciência de que estou aqui hoje, e a razão para qual vim sozinha é apenas uma: ela não precisa ser tragada por minha tristeza e desilusão. SeulGi não tem culpa de nada, e nem tem a obrigação de tomar para si um fardo que é meu.

- Uma taça de vinho rosé, por favor - faço o pedido como que experiente. O bartender retorce suas expressões em um misto de dúvida e absoluta e inegável certeza.
- Não parece maior de idade.
- Eu posso ser.
- Com essa cara? Vamos lá, volte daqui a 2 anos. Não se pode vender bebida para crianças.
- Ei, escute aqui - tento negociar. - Não é como se eu lhe pedisse para beber absinto ou algo do tipo. E, à propósito, em pouco tempo terei 18 anos. Não vai ser demitido por isso.