teen pregnancy

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Minha cabeça doía pela manhã, assim como meu corpo também. Meu braço latejava, e eu sentia frio por ter deixado a janela aberta. Como raios parei aqui? Só então recordei-me de que fora Lucas quem me deixara em minha cama, confortavelmente. Tirara meus sapatos, além de ter posto minha carteira e meu frasco de remédios sobre a mesa de cabeceira. Pedir para que ele lembrasse de fechar a janela era exagerar de sua boa vontade, e eu senti meu coração batendo forte lembrando da forma como ele cuidou de mim da forma como eu sonhava que ele fizesse. Suspirei e olhei para o relógio. Ainda faltava alguns minutos para o despertador por fim tocar, mas sabia que devanear sobre Lucas tomaria muito de meu tempo.

Vi em meu celular uma quantidade um pouco exagerada de mensagens de SeulGi, e senti-me mal por tê-las ignorado mesmo que essa não fosse minha intenção. Logo que tomei banho e vestí-me para ir ao colégio, sentei em minha cama e disse que logo a encontraria no colégio, e que explicaria o que acontecera durante minha noite.

SeulGi Kang [6h38]: encontre-me do lado de fora do colégio quando sair
SeulGi Kang [6h38]: não irei, hoje

Suas palavras me preocuparam e eu quis saber o por quê. Ela disse que tinha alguns compromissos pessoais, mas que logo estaria bem. Disse-lhe que tudo bem, e foi isso. Não quis me estender no assunto e invadir sua privacidade.

Logo, minha mãe, Desirée, apareceu para me levar à escola, e a ausência de suas palavras em boa parte do trajeto só me fez reafirmar o óbvio: ela não podia ligar menos para mim.

- Quando é que tira essa merda do braço? Eu poderia estar trabalhando ao invés de te levando para o colégio - foram as poucas palavras que ouvi de seu francês carregado, e escolhi repousar minha cabeça na janela do carro como que dormindo, ignorando suas palavras que faziam todo o acidente parecer premeditado por mim.

É nisso em que penso enquanto mordo meu lápis, nervosa, sentindo meus poros arrepiando-se e minhas mãos tremendo. Algo de ruim está prestes a acontecer, e eu sinto isso. Pego mais pílulas de analgésicos e enfio em minha boca, engolindo sem utilizar de água. Estou viciada nessa merda e meu corpo parece pedir por mais todos os dias, e eu acato os pedidos como se isso realmente fosse ser positivo. Foda-se, de qualquer forma. Não há muito que eu possa mudar.

O sinal toca e todos saem da sala como se estar nos corredores do colégio fosse o nível máximo de liberdade a lhes ser oferecido. Sem SeulGi aqui e sentindo dor, cansada e de ressaca, guardo meus materiais com lentidão e ponho minha bolsa sobre o braço saudável, levantando sem vontade. Tudo em minha vida tem dado muito errado, e eu tenho tido uma vontade cada dia mais gritante de desistir de tudo o que me rodeia. A única que me ajuda, e que me prende no lugar onde estou, é SeulGi, mas o dia está sendo excepcionalmente uma merda sem ela aqui. Estou sozinha. Completamente sozinha, e isso dói.

Escuto burburinhos nos corredores, e expressões chocadas também vêm dele. Estranho, porém, quando ouço meu nome sendo proferido por algumas pessoas. Sei se retratar de mim pois sou a única pessoa nomeada Louise em todo o ensino médio, mas tudo fica ainda mais estranho quando escuto o nome de Lucas também sendo dito no meio de toda a confusão. Acelero meus passos para o lado de fora, e vejo pares de olhos arregalados olhando para mim, a movimentação e vozes aumentam consideravelmente ao me verem. Então, finalmente entendo a razão para todo o escândalo fervoroso entre os adolescentes que correm e gritam, julgando.

Parabéns ao casal do ano, Louise Dèschamps e Lucas Wong, pela gravidez!

Essa é a frase estampada em folhas que decoram portas de vários armários diferentes, e eu juro que demoro muito tempo até permitir com que ela faça sentido em minha cabeça. Meu nome está ali, o de Lucas também, e a palavra gravidez está envolvida. Como e por quê? Eu e ele nem ao menos transamos, nem nos encontramos por alguma outra vez. Como raios eu poderia estar grávida dele?

Ninguém acreditaria em mim mesmo que eu dissesse a verdade, mas eu não tenho muito tempo de pensar em como me esconder ou como me explicar antes que eu possa ver alguns pares de olhos pertencentes à 300-A perambulando pelos corredores. Um par de olhos, em específico, encara o meu enquanto estou estática no meio da passagem, e ela não quer saber se tenho como dizer algo para defender-me. Ela só quer saber do fato de eu não ter respeitado a distância que ela me obrigou a tomar de Lucas, e é nisso que ela foca quando vem em minha direção. As vozes altas no corredor continuam, e eu não tenho condições de me defender. O que eles querem é isso, sangue. E contanto que o tenham, eles vão continuar torcendo e deixando o espetáculo acontecer.

- O que eu disse para você, vagabunda? - Victoria questiona, as mãos já entre meus cabelos.
- Pediu para eu ficar longe - respondo-lhe, e ela confirma com a cabeça, um sorriso satírico em seu rosto. - Por favor, deixe-me explicar.
- Explicar o quê? Eu só vou dizer uma vez: você vai pagar por não ter obedecido.

Então, com um único soco forte em minha mandíbula, Victoria derruba-me ao chão, e as pessoas ao redor abrem espaço para que uma guerra solitária comece. Solitária, pois Victoria é a única que reagirá. Eu vou apenas aceitar a fúria que ela tem para si.

Sinto vários pontapés sendo depositados em meu abdômen, como se sua intenção fosse matar o filho que nem ao menos existe em meu ventre. No 5° deles, sinto sangue subindo por minha garganta, e forço-o a sair para que ele não me engasgue. Victoria toma meus cabelos entre as mãos e bate com minha cabeça no chão, e minha visão fica extremamente turva, a cabeça dolorida e tonta.

Em algum ponto disso, ela me deita de costas no chão e seus punhos sempre lotados de anéis destroem meu rosto com socos fortíssimos, que detém toda sua raiva e inundam-se de sangue. Vejo-o espalhado pelo chão, tento virar minha cabeça para cuspí-lo mas isso parece irritá-la ainda mais. Logo, ela arremessa minha cabeça mais uma vez no chão, pondo-se de pé e pisando sobre minha barriga por uma vez. Mesmo que veja que conseguiu derrubar-me como queria, para ela não é o suficiente. Dessa forma, arrancando a tala de meu braço, ela o posiciona sobre o chão enquanto eu imploro dificultosamente para que ela não o fira ainda mais, mas o som que sai de minha garganta é gutural como se eu já estivesse agonizando, os olhos fechando, o sangue acumulando-se em minhas vias aéreas. Sinto o salto de seus coturnos esmagando meu braço contra o chão, e consigo externar um grito logo que ouço vir dele um estalo, indicando que ela o quebrou.

Escuto gritos em meus ouvidos que parecem imersos em água, e meu corpo inteiro grita pedindo pela morte. Dói demais, eu não consigo mais. Nem ao menos tento abrir os olhos, pois sei que não consigo. Tudo o que me resta fazer é virar para o lado meu rosto, deixando escorrer sangue de minha boca, para que eu possa respirar.

- Você está louca? - escuto uma voz familiar e masculina vindo dos ares.
- Eu avisei o que aconteceria se ela não saísse de perto de você! - Victoria berra de volta.
- Acabou, Victoria, acabou! Olhe só o que você fez, sua puta louca!

Então, vozes mais adultas misturam-se pelo ambiente, algumas parecem chocadas, e os gritos de Victoria enchem meus ouvidos mais uma vez enquanto acredito que ela esteja sendo contida de sua própria raiva. Um tempo bem mais do que longo depois, ouço sirenes ecoando longe, e decido não continuar. Se a morte chegou para mim de forma tão falsa e ridícula, no corredor de um colégio em Londres, é isso o que posso segurar. É nisso onde vou me agarrar. A dor vai sufocando-me até que eu desista de me manter acordada, e a inconsciência toma conta de mim enquanto as vozes de todos parecem distar quilômetros de mim.

copycat ;; ksgOnde histórias criam vida. Descubra agora