love will tear us apart

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Não pude mais permanecer no colégio quando aquele não era meu lugar. Minhas mãos suavam dentro do táxi até o hospital, toda e qualquer palavra dita por ele, e por mim, parecia vívida e brilhante em minha cabeça. Ele me dissera que me amava mas eu nem mesmo lembrava se tinha dito o mesmo. Se eu não tivesse dito, não poderia mais dizer. Lucas não poderia me ouvir, não enquanto estivesse em una cama, imóvel, sem ao menos poder abrir os olhos. A culpa, tão crua e dolorida, é minha. Odeio ter afetado tantos com minha simples existência, odeio ter trazido Lucas para perto de mim quando tudo o que se achega a mim morre. Foi assim com Victoria, está sendo assim com quem eu mais amo na minha vida. Eu não tenho como voltar.

Com a cabeça cheia e pesada, analgésicos lutando para ter minha consciência tomada, sigo pelo corredor branco e com o piso liso e escorregadio, enquanto busco pelo quarto de número 1106. É o quarto onde a vida do amor da minha vida se esvai, batalhando por mais um suspiro. Se eu não vivesse essa situação, qualquer respirar a mais me seria insignificante, tolo, torpe. Com a corda amarrada em meu pescoço, e no dele, vejo a importância de cada momento. De cada olhar, abraço, toque, beijo, sorriso. Eu não o tenho mais.

Paro frente ao quarto, que possui uma enorme janela de vidro. Suas persianas estão fechadas, porém, e tento preparar minha cabeça para ver a única pessoa que me importa ferida, inerte, incapaz de me oferecer as respostas que sei precisar. Eu só o queria de volta. Aqui, comigo. Eu só queria voltar ao tempo, em nossa última noite juntos, em que eu deitava em seu peito e escutava seu coração bater. Tínhamos todos os planos da Terra para nós dois. Fugiríamos, encontraríamos uma estrela cadente e viveríamos apenas nós nela, eu, ele e nosso amor. Não podemos, porém; eu estraguei sua vida. Eu o arruinei, mesmo quando tudo o que ele fez foi me salvar.

- Conhece senhor Wong? - ouço uma voz que, de início, me espanta.

Sua presença alta e inesperada ao meu lado demora a fazer sentido em minha cabeça, e eu juro que os remédios estão tonteando-me o suficiente para tentar apagar qualquer resquício de vida de meu caminho. Eu estou perdida, fraca, anestesiada.

- Eu sou sua amiga.

Não, eu não sou sua amiga. Talvez devesse ter continuado sendo.

- Quer dizer, sou sua namorada. É algo recente.

O médico, cabelos escorridos e tingidos de castanho claro, rosto com proporções impecáveis e braços fortes que cruzam-se sobre o peito me olha, depois para meu braço quebrado, e suspira. Ninguém deseja ver jovens tendo seus sonhos brutalmente assassinados frente a si. Ninguém quer ver alguém inocente partir. Ninguém quer ver os estragos que a dor causa. Ninguém quer lembrar da dor.

- Sou JaeHyun Jung. Tenho cuidado de Lucas desde que chegou.

Ele diz, e estende-me a mão. A minha, trêmula, segue a dele e a aperta, não forte como deveria, mas não que meu corpo consiga. Sei que doutor Jung desconfia da razão para minha condição, e ele sabe que não é apenas por tristeza e sonhos partidos. Ele não vai perguntar, no entanto, e eu agradeço por isso.

- Meu nome é Louise Dèschamps.
- Prazer em conhecê-la.
- Quero saber o que houve.

Seu rosto escurece, mas ele não ousaria mentir para mim. Algo me parece errado desde o início, e se confirma para mim quando olho em seus olhos e vejo que há neles medo e dúvida. Questionamento e incerteza. Algo está tremendamente obscuro.

- Lucas sofreu um gravíssimo acidente de carro. Capotou várias vezes até ser atirado fora do veículo. Há múltiplas escoriações em seu corpo, mas nada que seja tão grave quanto os outros traumas. Quando chegou aqui, perdia uma quantidade de sangue absurda, principalmente se consideramos o lado interno. E, em decorrência dos violentos choques ocorridos no acidente, seu cérebro foi severamente afetado. Estava em coma quando chegou, seu corpo ainda precisaria lutar por meses até acordar, o que não é certo de se acontecer.
- Quantos porcento de chance ele tem? - questiono, a cabeça tonta e os olhos a segundos de explodir, o estômago revirando, a dor vindo de todos os lados e me deixando estática.
- Eu não posso precisar isso, senhorita Dèschamps.
- Dê-me a porra de um número - peço, as unhas arranhando as coxas por cima dos jeans, o desespero cada vez chegando mais, e mais, e mais perto. JaeHyun suspira fundo.
- 15% para menos.

copycat ;; ksgOnde histórias criam vida. Descubra agora