Capítulo Dois

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JAMES AARON COLLINS

           

"Não devo perguntar o porquê de você saber usar essa cafeteira, não é?" a aluna no curso de História a minha frente indagou "Quer dizer, ninguém nunca conseguiu mexer nisso ai."

Ela me achava um mariquinha e não se preocupou em esconder seu descontentamento. Impaciência e euforia exalavam dela como o perfume forte que usava em excesso. Ela estava arrumada e dando seu melhor para manter a postura a maior parte do tempo, como se alguém fosse entrar e repreendê-la por estar curvada enquanto senta em um banco sem encosto. Vai entender os franceses, não é?

E o cabelo, claro, miseramente calculado numa posição que valorizava seus olhos verdes e os atrapalhava às vezes. Podia dizer que ela tinha um tique em arrumar o cabelo e que devido à estratégia com os fios, ela estava limitada em mexer sem tirar tudo do lugar. Eu tentei instiga-la, mostrar que o reflexo das janelas poderia ser um bom espelho improvisado. Ela não se importou e provavelmente colocou na lista de coisas mariquinhas.

"Eu trabalhei no Starbucks durante o ensino médio, Baguete." Expliquei frisando o apelido que ela parecia odiar "Sou um mestre das cafeteiras e coisas do tipo."

Valentine balançou a cabeça negativamente. A maior hater que o beisebol poderia ter, fez sua cara de descontentamento pela milésima vez em duas horas.

"Então é por isso que você não ouve nomes direito?" Ela estava de novo entrando no caminho sem volta da troca de farpas com James Collins. Eu tinha de três irmãs mais velhas, sabia como deixar uma mulher de cabelo em pé. Ela estava perdida.

Terminei de preparar o Café Latte que Valentine disse preferir. O desenho foi limitado pela quantidade de leite presente, mas nunca havia errado um coração no leite, então não estava tão ruim quanto podia estar. Tá bom, estava horrendo. Quase fingi que cai ou derramei para não ter que entregar aquele coração que mais pareci dois feijões manchados e colados um no outro. Ou dois rins. Um pêssego. Merda! Estava pior a cada vez que eu olhava, não podia perder mais tempo com essa mancha de leite metamorfa. Caramba, eu era muito mariquinha.

"BAGUETE?!" gritei e fingi ler o nome no copo de isopor.

"Non, on prononce 'Benatti'." Ela tinha falado francês? Eu não tinha como competir com uma farpada estrangeira de sotaque impecável. Havia frequentado algumas aulas de francês no Ensino Médio e passado as férias em Montreal, mas nada que me tornasse fluente no assunto a ponto de responder.

Eu era de Ottawa, então não tínhamos um inglês tão presente como em Montreal. Meus pais sempre falaram sobre a importância da fluência na língua francesa e como seria de extrema necessidade quando fosse a Montreal. Obviamente não dei ouvidos. Algumas boas faculdades ficam em Montreal e com meus pais trabalhando lá, a ideia era que eu fosse também. Mas eu nunca tive a pretensão de ir.

Não gostaria de 'morar' com eles sem minhas irmãs. Eles trabalham lecionando em algumas Universidades em Montreal, então ficam fora de casa cinco ou seis dias por semana. Eu e minhas irmãs crescemos cuidando de nós mesmos desde que eu tinha cinco e Hannah, minha irmã mais velha, quinze anos. De todos os Collins, eu era o que menos tive participação parental. Por isso, morar em Montreal com dois estranhos que não fizeram nada além de pagar minhas contas a vida toda, não pareceu atrativo.

Não aprender francês só ajudou a ter certeza de minhas escolhas quando a carta de Prince chegou. Maldito francês.

"Benatti." Devolvi com o melhor dos olhares e um sorriso que sempre me livrou do inesperado. As bochechas avermelhadas entregaram a melhor das respostas, ela estava sem palavras e me encarando bem nos lábios. Ótimo. Ponto pra mim.

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