Capítulo Vinte e Quatro

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JAMES AARON COLLINS

"Você está bonita" comentei, tentando controlar os meus lábios que tremiam para o lado. Eles estavam com um repuxar involuntário para a direita. Eu não conseguia parar de sorrir.

Tinha acabado de entrar no banheiro quando ouvi a voz de Valentine na cozinha. Eu tentei ser rápido, mas precisei de um tempo para me barbear. Ao menos me dei o trabalho de colocar uma camisa ou enxugar o cabelo direito. Coloquei uma calça e sai atrás da minha doce Valentine.

Lá estava ela. Linda. Calças de corrida pretas, o all star branco encardido e minha camisa do Red Sox quase como um vestido. Era seu pijama, durante a semana em que ficamos na sua casa. Um sorriso se formou em meu rosto quando pensei nela dormindo agarrada com a blusa, como se uma parte de nós estivesse viva durante todo o tempo.

"Está falando que estou bonita porque estou usando suas roupas, não é?" ela perguntou segurando o cabelo enquanto sentava. O cabelo longo estava embolado no topo da cabeça, me deixando com a visão privilegiada do maxilar marcado.

Valentine era linda sem se esforçar. Já tinha visto a garota de tantas formas e aquela era a minha favorita. Quando ela estava simplesmente livre para sentar e conversar, sem esforços. Linda.

"Para de me olhar assim" ela pediu cobrindo o rosto com as mãos "Parece que vai me devorar."

"Ah, eu devia." Provoquei e me preparei para o soco no braço.

Encostamos à árvore e adiamos a conversa, apenas olhando para o quintal. Talvez lembrando tudo. Onde estudamos juntos no deck, dançamos na chuva, tivemos nosso primeiro encontro, guerras com bexigas e derrotamos Levi no beer pong. No canto afastado, a flecha. Era um quintal carregando o nosso começo.

Agora, sob a árvore, me peguei pensando se esse momento seria um dos quais eu iria olhar para o quintal e me lembrar. Quando o presente fosse passado, no futuro, esperava conseguir sorrir ao lembrar tudo.

"Devíamos conversar." Valentine disse distante. Sua voz parecia machucada, preocupada. Não sabia como agir, se podia abraça-la.

Era como se eu temesse uma amnésia. Ela lembra o que eu disse na sala de embarque? Os e-mails? A carta? Ela lembra que eu a amo? Não faço ideia.

Assenti e bufei, tentando relaxar o corpo que ficava duro só de pensar em ter que explicar o que estava entalado. Eu não queria ter que falar sobre o olhar das minhas irmãs ao perceberem que eu estava sozinho. Também não queria falar sobre como a esperei até meu último dia no Canadá. Eu realmente achei que ela viria me buscar.

A vida não era uma comédia romântica e restava aceitar.

Ela estava de volta. Isso bastava.

"Eu vou começar, então." Valentine tomou a iniciativa e se desencostou da árvore. Eu não me movi, esperando que o sermão começasse. Ela se sentou no meu colo e soltou um gritinho que me roubou um riso, tirando a expressão pensativa do meu rosto. "Você conhece roupas íntimas, James?"

"Nada que você não tenha visto." Dei de ombros e apertei o corpo contra o meu. Ah, sentia tanta falta. "Você tem que falar algo muito importante ou eu posso apenas te abraçar um pouco em silêncio?"

"Você é tão meloso que me faz vomitar, James Collins." O som de vômito que escapou da sua garganta me provocou tremores, mas soube que estava brincando quando Valentine não desvinculou meus braços do seu corpo.

Era a rabugenta de sempre, mas tinha um meio termo que eu conseguia encarar com facilidade. Conseguia ser o piegas sabendo que ela ia reclamar, mas ia ceder. Sem me chamar de apressado ou atirar tudo no último segundo. Não precisava me conter. Eu era brega, um escritor fajuto e era isso.

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