VALENTINE AIMÉE BENATTI
"Você tem certeza que não tem problema, Docinho?" James perguntou pela milésima vez, quando passamos a placa que anunciava a chegada à Hartford.
Estávamos na estrada desde o almoço e tenho certeza que James considerou me deixar na beira da pista pelo menos três vezes. Todas as vezes que minha mãe resolveu ligar e perguntar se estávamos chegando, ou se meu amigo gostava de frutos do mar. E mais uma vez, se estávamos chegando.
Quando meu pai ligou no FaceTime pude ver James pular de susto no banco, como se estivesse sendo assistido. Como era a quarta ligação em menos de três horas, resolvi não atender e deixar James relaxar um pouco. Aumentei o som do rádio e tentei fazê-lo cantar uma música do Bieber, seu irmão canadense. Posso jurar que ele ficou tão distraído que ao menos se lembrou de onde íamos, até ver a placa na entrada da cidade.
"Claro que não! Você vai ficar uma semana, não vai morar com a gente" respondi, enquanto checava meu celular com mais três mensagens de Gio questionando sobre meu amigo secreto.
Ao que parece, minha mãe já tinha anunciado para todos que eu traria um amigo para passar as férias em casa. Alguns irmãos do meu pai viriam com os filhos para o feriado americano com a família mais estrangeira do continente. Então a primeira coisa que fizeram foi anunciar para todos que teríamos um convidado. A decepção da descoberta que James não é americano será instantânea, mas irei me divertir com isso.
"Então" começou, batendo os dedos no volante "O que vocês fazem no quatro de julho?"
Definitivamente o feriado mais vergonhoso da família Benatti. "Considerando que esse ano terá a presença ilustre de sete italianos, uma francesa e um canadense... Vamos torcer para que eu e Gio possamos nos lembrar do hino nacional".
De fato, era a casa com mais estrangeiros em Hartford. Donald Trump ficaria louco de entrar na sala e ver as bandeiras que a enfeitavam.
"Eu sei cantar o hino" James se gabou, como se realmente tivesse se esforçado para isso "Ó, dizei, podeis veeer..."
O tom um tanto desafinado me provocou uma gargalhada alta. "Você não quis cantar nenhuma música do seu irmão canadense e vem estragando o hino da minha nação?"
"Tudo bem, eu fico com o solo de violão".
Seguindo o endereço do GPS, pude ter certeza que havíamos chegado antes mesmo de olhar o número das casas. James também teve certeza, quando viu três homens enormes vestindo roupas que completavam a bandeira estadunidense.
E lá estavam, os Benatti. Comemorando quatro de julho desde o dia dois.
Abri a janela correndo e coloquei a cabeça para a fora, movimentada pelo desejo de abraçar o mais alto deles. Meu pai.
"PAPÀ!"
Meu pai abre um sorriso como se acabasse de ver um filho dar os primeiros passos. Os olhos brilhantes de Lorenzo Benatti me acompanham com um brilho que eu podia jurar, se estivesse mais perto, serem lágrimas de alegria. Sua mão pesada espalma meus tios em aviso, agitando uma movimentação de pessoas para o jardim da casa.
"Uau" ouço James chiar "Sua família é enorme".
Aquilo não era nem metade. Nem um terço. Apenas dois dos cinco irmãos do meu pai apareceram para o feriado com seus filhos. Meus primos moravam na Itália e assim como meus tios, não eram fluentes em inglês. Eu nunca havia saído do país para visitar meus parentes, mas eles sempre vinham comemorar os feriados americanos em casa. Eu quase chorei quando passei meu primeiro Halloween longe de casa. As festas eram realmente boas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ajuda Mútua
Romance#1 PRINCE SERIES Quando dois jovens se comprometem em ajudar um ao outro no trabalho da faculdade, eles não esperavam que a ajuda fosse mais que acadêmica. Valentine Benatti se vê em um empasse ao lidar com James Collins, um universitário com energi...