Capítulo Dezessete

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VALENTINE AIMÉE BENATTI

Ajuda mútua é uma droga.

Segundo o dicionário, mutualidade significa reciprocidade. As partes envolvidas transferem algo na mesma forma, seja na quantidade ou intensidade. E na minha mutualidade com James Collins, isso não estava acontecendo.

Era estranho estar chateada com o fato de que irmos devagar. Ele queria tempo para se apaixonar e eu já estava apaixonada. Quando caí com o sentimento pesado no colo, nada pareceu justo. Então, com um dia contemplando ideias mirabolantes para James dar um passo à frente, eu percebi que era mais simples eu dar um passo para trás. Eu estava pronta para me des-apaixonar. Não completamente, apenas o suficiente.

Fugi para o quarto de James na madrugada e comecei com algumas ideias que poderiam me ajudar a evita-lo. Ideias que ele não aceitou. Distraiu minha mente com beijos e mãos bobas até calar minha maldita boca. Quando acordei e me peguei encarando o modo como seus lábios carnudos pendiam para um lado enquanto dormia... Ah, entrei em pane.

Fugi dele o resto do dia para evitar o assunto. Completamente egoísta, eu sei. Mas, no fim da noite, lá estava eu. Bebendo uma garrafa d'água, sentada no colo de James e vendo o céu brilhar com fogos de artifício.

"Uau, esse foi um dos grandes!" ele apontou para uma grande explosão em vermelho que os vizinhos tinham acabado de queimar.

Olhei para a sua mão, que também segurava a garrafa d'água e sorri ao lembrar a bronca. Ele havia cortado minhas bebidas há uma hora, quando disse que eu estava começando a embolar as palavras. Beatrice e Lori também disseram que iam encerrar o álcool pela noite e Gio continuou bebendo uma mistura de suco com Kyle.

James deixar a mesa e buscar as garrafas foi o suficiente para abrir espaço aos suspiros dos filhos de Betty. Rasgando elogios e perguntando como nos conhecemos, como se tivessem acabado de presenciar um programa de vestidos de noiva no discovery home&health.

Gio, o mais animado das casamenteiras, perguntou o porquê de estar agindo como uma completa babaca com o Canadá. Antes que pudesse negar, ele colocou todos os argumentos que eu ao menos notei. Percebi que me afastar de James não estava fazendo-me des-apaixonar, apenas machucando um dos homens mais gentis que já conheci.

James estava aprendendo a se apaixonar de verdade e eu estava agindo feito uma estúpida.

"Foi um dia de comemorações muito divertido, Baguete." Ele beijou minha orelha, cortando meu raciocínio lógico sobre as merdas do dia "Obrigado por me convidar e deixar que eu conhecesse os Benatti, mas se quiser que eu vá embora... Eu vou entender. Sem ressentimentos."

Por um momento, meu peito pesou com culpa. Com o medo da verdade que eu havia provocado. James se sentia indesejado e a culpa era totalmente minha. Gio estava certo, eu era uma completa babaca.

Procurei súplica em seus olhos, mas eles esboçavam apenas arrependimento. Ele estava arrependido por ser sincero, como se soubesse que eu o mandaria embora no momento em que ele oferecesse.

Realmente teria considerado expulsar o ser melancólico da minha casa, se eu não fosse sentir tanta falta de me esconder no seu quarto durante as madrugadas.

"James, eu jamais pediria isso a você."

O olhar de James ainda era no céu, longe dos meus olhos que já estavam rentes aos seus. Eu não o culpava por não me olhar enquanto falava, eu também não queria encará-lo. Seu queixo parecia um bom ponto cego para o momento. Quadrado com a sombra de uma barba que eu observei crescer aos poucos, antes de se extinguir em apenas uma mancha novamente.

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