Perambulando

5 0 0
                                    

— Quantos dias não troca de cueca?

— Troquei hoje!

— Onde? Na escola?

Me lembrei que, oficialmente teria dormido na casa dela.

Perambulando.

E o safadinho do outro eu... tivera a ousadia de ir dormir sem tomar um banho! E olha que o chuveiro da casa da vovó, com água tratada pela prefeitura é muito mais prático do que o de nossa casa, à base de balde com bico de regador.

Fui para o chuveiro, onde me deliciei por pelo menos vinte minutos, sendo então interrompido por ela, que abriu a porta com uma toalha na mão.

Assustei-me por sua ousadia em interferir em minha privacidade, protegendo meus genitais com ambas as mãos, protestando:

— Ei vovó! Eu estou pelado!

— Claro que está! — riu ela, colocando a toalha pendurada em um prego na parede. — Mas é que em sua mala de turista não veio uma toalha pra secar seu pintinho, que agora deve estar limpinho. Isto se esfregou direito. Com bucha e sabão.

— Eu tomo banho direito!

— É bom mesmo! Senão eu darei banho em você!

— Pode ir agora? Pra que eu possa me enxugar? É que eu não gosto que me vejam pelado!

— Bela coisa! — riu ela se retirando.

Me enxuguei muito bem e vesti, embora sem a cueca, o mesmo uniforme escolar que estava usando antes.

Segui para a varanda dos fundos da residência, levando comigo a toalha e a cueca "suja".

— Vovó, onde eu penduro a toalha?

Sem dizer, ela fez gestos apontando para um varal improvisado sob o telhado daquela varanda.

Pendurei a toalha e seguindo para o tanque, lavei esfregando bastante a cueca samba canção com água e sabão, pois a mesma estava de fato até amarelada de secar águas de rio em meu próprio corpo.

— Que bom! — riu vovó. — Aprender a lavar pelo menos as roupas íntimas ajudam bastante. Só não sei como você vai dormir agora! Pelado!?

— Não, vovó! Até a hora de dormir a cueca já secou!

— Não sei não!

— Onde está o vovô?

— Onde está o vovô? — repetiu ela, achando que eu deveria saber. Como eu saberia?

E como eu não respondia minha própria pergunta, ela mesmo completou:

— Enquanto os netinhos não podem trabalhar pra ajudar os vovôs, ele mesmo, embora já cansado, precisa continuar labutando.

— Labutando... — Achei engraçado a palavra, que, embora com minha mente avançada não conhecia. — E a que horas ele chega do... labutando?

— A que horas ele chegou do trabalho ontem, Regis?

— Como vou saber?

— Quem é que estava no portão na hora que ele chegou?

Só poderia ser eu! Ou... o outro eu.

— É que... eu nem sei que horas era!

— Pouco depois das seis horas.

E então, como teria acontecido no dia anterior, ainda nem era seis e meia daquela tarde, quando vovô, cansado, sujo, de chapéu de palha, com seu embornal de lado, adentrava ao portão de sua casa.

Através das Barreiras do tempoWhere stories live. Discover now