Muito prazer, Regis sou eu.

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Ele foi para sua escola e eu, como não tinha nada para fazer, pelo menos agora tinha um lugar para ficar: a casa de minha avó. E é por isso que eu precisava esclarecer minha visita a meus pais. Para não precisar mais ficar escondido, fingindo ir na escola.


Muito prazer: Regis sou eu.


Cinco horas da tarde já estava em minha casa, onde, para evitar o horário do rush no chuveiro, preparei meu banho, onde, ajudado por mamãe, consegui puxando a corda, levantar o chuveiro em sua devida posição e, só depois que ela me deixou só, me despi (não me sentia bem ao me despir na frente dela) e me deliciei sob tais águas morna, até não restar nenhuma gota dentro de tal balde com cano de regador.

Em poucos minutos, vindo da mesma escola com a bicicleta Phillips de papai, chegou meu irmão José.

— Por que vocês têm vindo separado da escola? — perguntou-nos desconfiada, mamãe. — Vocês brigaram?

— Eu não briguei com ninguém! — protestou José. — Ele é que não me espera!

Mal sabe meu irmão mais velho que o "ele" ao qual se refere ainda está para trás. Ou seja, quem é que não espera quem?

— É que a gente se desencontra na saída! — aleguei. — Além do mais, gosto de vir a pé.

Como em todas as tardes, papai chegou do trabalho pouco depois das dezoito horas e então, meu outro eu, que com certeza estava escondido por perto, não esperou nem um segundo a mais, adentrando normalmente pelo portão, onde, talvez por sua pouca idade, sem sentir nenhuma ansiedade, como se nada de diferente fosse acontecer a partir daquela sua chegada em nossa casa.

Eu, ao contrário dele, senti meu coração bater descompassado, sem ter a mínima noção do que iríamos justificar para nossos familiares que, com certeza perceberia que nada mais seria o mesmo a partir daquele minuto.

Quando ele passou direto por minha mãe, seguindo para o quarto para guardar seu material escolar, ela já sentiu um calafrio e insinuou eufórica:

—Léo! — era o apelido carinhoso do primogênito.

Ele era o único que ainda não chegara de seu trabalho na marcenaria do senhor João Carola.

Mas como ela confundiria Regis com Leonardo? Enquanto eu sou loiro de cabelos brancos, ele até parece de outra família, com sua pele quase morena e cabelos quase negros.

— Nã... nã... não é o Léo, mamãe! — neguei assustado. — Re...gis, volte aqui!

O menino, depois de jogar a bolsa escolar sobre a cama, voltou até a sala, se prostrando ao meu lado.

— Somos o mesmo, mamãe e papai! Não se assustem porque acho que conseguiremos explicar.

— Eu não consigo explicar coisa nenhuma! — protestou meu comparsa. — Nem sei como ele veio parar no meu lugar!

— O que é que está acontecendo? — especulou-nos papai. — Como é que têm dois de vocês?

— Este menininho bonito aqui do meu lado... — ironizei, embora com jeito nervoso, sem saber o que dizer. — É o filho que vocês têm aqui com vocês. Eu também sou o filho Regis de vocês! Na verdade, sou ele mesmo. Só que não sou dessa época! Consegue entender?

— Não! — negou mamãe, tremendo de nervosa.

— Por favor, não fique nervosa, mamãe! — pedi, tão perdido quanto eles. — Está tudo muito bem! Nada vai ser diferente!

Através das Barreiras do tempoWhere stories live. Discover now