Saí um pouco sem destino, caminhando como quem vai voltar para casa, sabendo que não poderia chegar.
Um quilômetro antes, parei em uma antiga casa, em um bairro vizinho ao da casa de meus pais. Bati palmas no portão e em menos de um minuto a porta da sala se abriu, ao qual uma senhora de seus quarenta anos de idade, com jeito muito calma disse:
— Regis... Entre!
Revelandosegredos.
Abri o portão e entrei, seguindo ao seu encontro:
— Bença, madrinha — cumprimentei-a, tomando-lhe sua mão e depois a abraçando e beijando sua face. Estava mesmo com muitas saudades dela, que não a via a quase dez anos, quando ela partiu desse mundo e eu sequer ficara sabendo.
— Deus o abençoe — riu ela. — O que deu em você?
— O quê? Vir aqui na hora da escola? É que eu não tive aulas hoje.
Na verdade nem era mentira. Eu não tive mesmo aulas. Nem no tal hoje e nem a milhares de dias, desde que me formei em telecomunicações e ministrava aulas na empresa multinacional onde trabalhei por quase trinta anos.
— Não! — riu ela calmamente como tudo o que fazia. — Me abraçar e beijar! Não me lembro que já fizera isto alguma vez.
— Desculpe — pedi singelo. — É uma forma de dizer, eu te amo.
— O que há com você? — tornou a rir ela.
— Estou crescendo e descobrindo o quanto as pessoas gostam de serem amadas. Ou não?
— Claro! O coração da madrinha jamais esquecerá o dia de hoje.
— Onde está o padrinho?
— Trabalhando.
— Trabalhando?! — estranhei. Ele não trabalhava em nenhuma empresa.
— Saiu pra rua com seu carrinho pra vender coisas.
Coisas significava: vassouras que ele mesmo fabricava, verduras, canecos que ele também fazia à base de latas de leite em pó vazia...
— Estou com saudade dele! Faz muito tempo que não o vejo.
— Como faz tempo? Ele esteve em sua casa domingo.
— É que... eu tinha saído e nem vi ele!
— Então ele é um tremendo mentiroso! Eu mandei um bolo de fubá que ele disse ter entregue pessoalmente para seu afilhado.
— Ah tá! — preciso ter cuidado com o que falo. — Me lembrei agora. Eu só sai depois que ele chegou.
— Concordo — riu minha madrinha desconfiada. — Pode ser à noitinha, quando ele veio embora e você veio com ele até aqui.
Vixi!
Meu padrinho teria partido desta vida no início da década de noventa e eu sequer morava nesta cidade, devido meu trabalho na divisa de Minas Gerais com São Paulo.
Como não tinha mesmo o que fazer, fiquei ali na casa de minha madrinha, conversando assunto que conquistam corações de adultos e tomando seu delicioso café com bolo e biscoitos caseiros, durante todo o período de aulas do verdadeiro Regis desse tempo.
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Através das Barreiras do tempo
AdventureA partir de um encontro inusitado com antigo amigo de sua infância, o senhor Regis começará a viver a maior aventura de sua vida. Um ancião ao qual ele jamais pensaria que reencontraria ainda neste mundo lhe concederá um passaporte para a mais espl...