Dois Recantos especiais

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— Não tem ninguém aí dentro!

— Não tem ninguém agora! Devem ter saído pra algum lugar. Mas moram doze pessoas nesta casa. Quer dizer... não sei se os dez filhos já nasceram. Acho que não.


Dois recantosespeciais.


Saindo pelo portão de arame farpado da chácara seguinte, surgiu uma mulher japonesa jovem, com um pano amarrando os cabelos e avental de como quem deixara a cozinha naquela hora.

— Quer ver como não sou impostor — disse ao maninho me aproximando da mulher. — Dona Aiako...

— Sou eu! Por quê? — insinuou a japonesa com largo sorriso.

— A senhora nem me conhece. Não é mesmo?

— Não estou lembrado! Você é filho de quem?

— A senhora não conhece minha mãe. Por enquanto.

— E você me conhece?

— Sim!

— E seu irmãozinho também! São gêmeos?

— Parecemos?

— Iguaizinhos em tudo! Menos os cabelos.

— É que o maninho gosta de ser soldadinho americano. Mas acho que papai exagera na máquina de fazer estragos.

— Gosto coisa nenhuma! — protestou ele. — Nunca mais vou cortar os cabelos assim!

— Na época do Tiro de Guerra você vai!

— Não vou pro Tiro de Guerra!

— Vai! — minha boca que não sabe ficar calada.

— De onde vocês me conhecem? — insistiu a japonesa. — Da feira?

— Serei seu vizinho.

— Ah é?! — estranhou ela. — Vai morar aonde?

— Nesta chácara aqui! — mostrei com o polegar a tal.

— Eles não estão vendendo esta chácara! — foi convicta ela.

— Por enquanto não! Só vou morar aqui quando eu crescer.

— Ah é! — riu ela. — Vai demorar um pouco.

— Sim, vai! Mas eu virei e a senhora será minha vizinha.

— Tá bom então! — tornou a rir. — Seja bem-vindo!

— Agora precisamos ir! A senhora é muito boa! Minha filha adora seus docinhos de feijão.

— Yaki manju?

— Não sei o nome! Mas ela adora!

— Sua filha? — riu ela. — Tá bom!

— Tchau!

— Até a sua mudança pra cá, então!

— Tá! Talvez eu volte aqui antes para uma visita.

— Pode vir mesmo! Me chame que será bem recebido!

— Sei disso! Tchau!

Regis apenas acenou como a se despedir também.

Ao passarmos em frente a casa em que meu padrinho moraria, ele convidou:

— Vamos entrar?

— Vamos nada! — neguei prontamente. — Você vai na escola. Além do mais, você nem conhece quem mora aqui. Nem eu conheço!

Através das Barreiras do tempoWhere stories live. Discover now