Machinho encardidinho

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Segui com ele por um longo corredor que nos levava à ala de INPS, onde ele perguntou à primeira enfermeira que encontrou, depois me levou a um dos quartos, o qual de longe avistei papai deitado, com os olhos cerrados e uma agulha de soro ligada em sua artéria do braço esquerdo.

O homem fez gesto para que eu me aproximasse do leito, o que fiz cautelosamente.

Ao estar próximo, papai abriu os olhos, sentiu pequena surpresa, deu pequeno sorriso e especulou com a voz cansada:

— Quem é esse doutorzinho pequeno que veio me curar?

— Sou eu, papai! — dei leve sorriso. — Seu machinho perigoso.

— E como eles deixaram tal machinho entrar aqui?

— Pela porta ué! — Ri. — Por onde mais?

— Esse peraltinha aí está lá fora faz um tempão — interferiu o homem. — Não queria ir embora, então me vi obrigado a trazê-lo aqui.

— E o que você veio fazer aqui, Regis?

— O que eu vim fazer aqui, papai? Vender uma dúzia de bananas é que não é! Lhe garanto!

— Ouça! Geralmente em hospitais não se pode entrar crianças! E como você é meu machinho inteligente, sabe muito bem o porquê!

— O senhor não está com saudades da gente?

— Claro! Mas não justifica corrermos o risco de tê-lo que interná-lo também!

— Estou todo encapado, papai! Até pareço o menino de plástico. Nenhuma bactéria conseguirá atravessar tais barreiras.

— Tá até engraçado assim! — riu de leve ele.

Ameacei tirar a máscara com intuito de beijar o rosto de meu pai, porém fui imediatamente interrompido pelo provedor, protestando:

— Nada disso, garoto! E se quiser pode até dar um pequeno abraço em seu pai, pois já estamos indo.

— Só ficamos um minuto! — fui incisivo.

— Com certeza já matou a saudade — virou-se para papai. — Senhor Antônio, avise esse jovenzinho aqui, para que não volte.

— Isso mesmo, Regis...

— Arthur, papai. Lembra?

— Pois é! Logo eu voltarei pra casa. Enquanto isso me espere por lá.

— Sim! E o senhor vai mesmo seguir as recomendações médicas. Não vai?

— Quais?

— Bebida alcoólica nunca mais! Ou esse fígado aí o levará ao cemitério.

— Como sabe? Você conversou com o médico?

— Não! Mas eu sei tudo! Não sou tão criança assim!

É®Ê

Pouco antes das onze horas da manhã seguinte, domingo, papai, depois de andar desde à Santa Casa, adentrou nossa sala como sendo um estranho, sem que ninguém, apesar de minhas constantes insistências de união familiar, lhes pelo menos perguntasse alguma coisa sobre sua saúde.

É®Ê

Mesmo depois do final das férias escolares, meu irmão José decidiu continuar trabalhando naquela olaria.

Começávamos muito cedo e por volta das onze horas deixávamos o serviço por conta de um banho e eles irem para sua obrigação principal: estudar.

Em uma destas tardes, por volta de quatro horas, os céus se fecharam e o dia praticamente se transformou em noite. Como eu era o único funcionário disponível da equipe, daquele trabalho sem trégua, corri para a olaria com intuito de proteger nossa produção do dia, empilhando-os e cobrindo com telhas.

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⏰ Last updated: Mar 15, 2019 ⏰

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Através das Barreiras do tempoWhere stories live. Discover now