Visita Inesperada

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(Pither🌞)

O dia amanheceu, e mesmo com a noite fria, o sol apareceu deslumbrante hoje. Eu estava com tanto sono, que ignorei os pássaros, e me cobri com o edredom até o rosto e dei adeus a claridade.
Eu sabia que já era tarde! Aposto que já se passavam das nove, quando me dei conta que meu ededrom não estava mais no meu rosto, e eu ouvia barulhinhos de alguém rabiscando o papel.
Abri os olhos devagar, pisquei algumas vezes, eu ainda estava sonolento. Quando vi Esther.
Ela estava sentada na cama ao meu lado, sua concentração eram algumas folhas de papel, que ela rabiscava sem parar com um lápis.
Seus olhos azuis me fitaram, fiquei sem graça de ter acordado depois dela, imaginando como estaria meu rosto logo cedo.
- Bom dia! Ela me disse sorrindo.
- Bom dia, que horas são? Perguntei indo me virar para o lado, mas ela me impediu.
- Nãoo! Não se mexa por favor! Olhei pra ela, meio sem entender.- Estou te desenhando, falta pouco!
- Você está fazendo o que? Perguntei ainda não acreditando no que tinha ouvido.
- Fica paradinho aí! Esther continuou com seus rabiscos, me olhava atentamente como se estudasse cada traço meu.
- Você não poderia me desenhar em condições melhores? Eu acabei de acordar! Falei imaginando quão inchado eu estava.
- Calma! Estou quase acabando!
Esther terminou, e virou a folha para mim. Eu levantei minha cabeça na mesma hora para olhar .
- Caramba! Se eu não visse você fazendo não acreditaria... 
Esther tinha me desenhado com total perfeição. Ela era uma artista e não sabia.
- Você gostou? Ela perguntou, esperançosa.

- Nossa Esther ficou perfeito! Sentei- me na cama, analisando os traços do meu rosto

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- Nossa Esther ficou perfeito! Sentei- me na cama, analisando os traços do meu rosto. Até minha expressão séria, ela não deixou passar. - Você é uma artista, e não sabe!
- O ângulo estava bom... Ela respondeu tímida. - E o modelo ajudou bastante também!
Desviei meu olhar do papel, e olhei pra ela. Esther abaixou seu olhar envergonhada, sorria delicadamente.
- Posso ficar com ele? Perguntei.
- Claro! É seu! Esther sorriu e assinou a folha, com seu nome e a data. Eu pulei da cama, me espreguiçando.
- Vou pro meu quarto, a gente se vê lá embaixo.
Ela assentiu e eu beijei sua testa, antes de sair do quarto. Quando fechei a porta papai estava indo em direção a escada, e me viu saindo.
- Pither?! Ele me chamou meio confuso. Eu parei no meio do caminho. - Você está saindo do quarto daquela moça?
- Claro Pai! Não poderia estar entrando, se estou conversando com o Senhor agora... Papai me olhou com cara de poucos amigos.
- Não faça me arrepender de ter aceitado essa moça em nossa casa!
- Aham! Sorri! - Como se você tivesse escolha...
Saí de sua direção, antes que papai me falasse outra besteira. Sempre usei o bom humor para contornar algumas enrascadas em que me metia.
Entrei no quarto, e tomei o meu delicioso banho da manhã. Na clínica eu só tinha paciente as duas da tarde, até lá muito tempo pra passar com Esther. Quando sai do banho, Naná me chamou na porta.
- Filho!
- Entra Naná! Respondi.
Naná entrou, e eu vesti minha calça preta da Adidas, enquanto procurava uma camiseta no armário.
- Pither é melhor você descer! Ela me olhava preocupada.
- O que foi dessa vez? Perguntei vestindo a camiseta.
- Seu Pai... Respondeu aflita.
- Deve ser outro dos seus chiliques! E saí do quarto revirando os olhos.
Quando desci as escadas, ele estava me esperando lá embaixo. Sem muito rodeios, papai me questionou.
- Pither! Cadê o seu carro, que não está garagem?
Naná, desceu logo em seguida com seus olhos meigos, demonstrando apoio.
- Ele não vai mais voltar Pai! Olhei com firmeza para ele.
- Por que? Papai se exaltou. - Você já ligou para a seguradora?
- Não! Ele não foi roubado... Ele me analisava impaciente. - Eu o vendi!
- Você o que?? Papai gritou na sala. Assustando Naná que colocou sua mão em meu ombro. Ela me protegia feito uma leoa.
- Eu vendi o Porsche ontem! Falei desviando meus olhos de Naná, para olha lo novamente.
Papai apertou seus olhos, enfurecido.
- Eu posso saber, porque o vendeu?
Mexi meu maxilar, nervoso com as perguntas de meu pai.
- Eu precisava de dinheiro!
Papai se aproximou de mim como se quisesse me estrangular.
- Como precisava de dinheiro?! Você sabe quanto vale aquele carro? Naná entrou no meio, afastando meu pai de mim.
- Calma senhor Álvaro! O Senhor está muito alterado!
Papai balançava a sua cabeça inconformado. Levantei meu rosto e avistei Esther me olhando no corredor de cima, perto da escada.
Voltei minha atenção para o meu pai, evitando que ele notasse a presença dela.
-Pither, por acaso você anda usando drogas?
Pra ser sincero se fosse em outros tempos eu tinha ficado Puto! Porque infelizmente meu pai, não conhece o próprio filho que tem. Suponhar que eu esteja usando drogas, é o mesmo que me considerar como qualquer um, sou um estranho pra ele. Mas isso não me afeta mais! Nem me surpreendi... Esperar o que de alguém que entrega o seu único filho a uma união sem amor! As vezes me sinto como aquelas moças do século XV, que seus pais a induziam a casamentos arranjados... Com a diferença que hoje estamos no século 21, sou um homem e não uso espartilhos.
Saí da sala sem me pronunciar. E... por incrível que pareça eu não o insultei! Não vale a pena! Ninguém nunca vai entender, porque eu faço isso por Esther... Nem mesmo eu!
Fui para a cozinha e antes pude ouvir ele me criticando para a Naná.
- Veja só no que ele se tornou! Um delinquente, Diana! Ele nem me respeita mais... Tudo isso porque você fica mimando ele o tempo todo!
Toda vez que eu contrariava meu Pai, ele sempre ia procurar alguém para culpar. E quase sempre era a Naná! Ele queria que depois da morte da minha mãe, todo mundo me desprezasse. Na opinião dele era o preço por eu ter causado aquele acidente.
Mas sete dias depois que eu acordei do coma, Naná estava ao meu lado! Foi o primeiro rosto, que eu vi! Dali então ela nunca mais me abandonou.
Eu lembro que no primeiro instante, a dor foi quase insuportável. Perder a minha própria mãe, naquela acidente foi como se ela levasse um pedaço de mim com ela. Depois que voltei do coma em que os médicos achavam que eu não ia sobreviver, percebi que nem pro funeral eu pude ir. Porque ela já tinha sido enterrada.
Dali então foi um constante remorso em minha vida, e aceitar a ausência do meu pai. Ele ficou semanas sem olhar pra mim! E quando falou comigo, foi pra me chamar de assassino! Isso doeu no fundo da minha alma...
Lembro-me que passei noites em que eu acordava gritando. E Naná aparecia no quarto, pra me dizer que era só " Um pesadelo!"
Mas eu via o acidente inteiro acontecer várias e várias vezes, e essa tortura me perseguiu por muito tempo. Até que decidi me inscrever na faculdade e estudar medicina, eu queria poder conhecer mais sobre a personalidade e a mente humana, pra poder controlar e guiar a mim mesmo antes de cuidar dos outros.
Na prática essa técnica não deu muito certo. Pois dias depois de eu ter entrado na faculdade, preferi me tornar um cafajeste! Sei lá, ficar em negação era mais fácil... Era como se eu tivesse desligado minhas emoções e me tornado um homem de gelo.
Sair com outras pessoas, beijar várias bocas e acordar sempre com uma mulher diferente, era como um antídoto. Eu precisava continuar de pé! As pessoas precisavam acreditar que eu estava superando... Mesmo que eu estivesse despedaçado por dentro.
Um dia eu voltei pra casa de férias. Naná quase não me reconheceu, eu já não era o menininho inocente que ela criou... Além de barba na cara, e uma tatuagem na barriga, eu tinha adquirido outro semblante! De um cara frio e sem amor!
Lembro que a beijei no rosto do mesmo jeito, o meu carinho por ela nunca mudou. Mais ela me conhecia, havia me criado e sabia que tinha algo errado comigo! Perguntou quem eu queria enganar! Mais eu somente ri. A minha carapuça não servia com ela, não tinha como enganar alguém que praticamente me viu nascer. E então me lembro como hoje, que ela me olhou no fundo dos meus olhos e disse - -Pither... Um dia alguém vai te abraçar tão forte que todos os pedaços do seu coração, vão ser restaurados e você simplesmente vai cicatrizar! Não vai ficar triste pra sempre, querido... Sabe disso né? Um dia essa dor vai ter que passar!
Ela estava certa! Sempre esteve! E esse abraço que ela mencionou, eu tinha acabado de receber.
Debrucei sobre o balcão da cozinha, com a testa sobre o braço e percebi que alguém se aproximou. Levantei minha cabeça devagar, era Esther! Ela não me disse nada, somente veio em minha direção e me abraçou.
Eu levantei da banqueta, e a abracei também. Ela passava sua mão direita pelas minhas costas como se me consolasse , sem eu dizer onde estava doendo. Coloquei meu rosto sobre o ombro dela, e fechei meus olhos, ela me abraçou fortemente, com sua outra mão na minha cintura. Se existisse perfeição aqui na terra, eu chamaria de Esther! Mas como só Deus é digno dessa proeza, prefiro acreditar que foi ele quem colocou ela no meu caminho. Eu encontrei Esther, porém ela me achou primeiro, pois eu estava perdido até então, e não sabia!
Depois de alguns minutos, ela deixou de me abraçar, e tocou meu rosto. Eu abri meus olhos e fitei os seus. Eles estavam ainda mais azuis, como de um anjo! Ela analisava meu rosto, como se procurasse respostas. Mal sabia ela, que tudo o que eu mais queria era beijar aquela boca linda e vermelha, e nunca mais parar. Meu coração batia tão forte, que eu sentia meu peito subir e descer com a minha respiração. Meus olhos desciam de seu olhar para a sua boca, várias vezes e eu queria saber que sabor tinham seus lábios. Após muita tentação, me contive! Ela não era para mim! Mesmo que eu a quisesse, e a desejasse como ninguém ainda nunca a desejou... Ela não poderia ser minha! Eu não merecia Esther! Não era bom o bastante pra ela... Por isso, desviei meus olhos do seus e me afastei um pouco dos seus braços. Se eu quisesse me manter firme, precisava fugir do seu toque. Esther tinha um poder de sedução tão grande que ela mesma não sabia que tinha! Seus olhos tinha um encanto profundo, que deixava qualquer homem alucinado por ela. Mas ela não notava, se achava absurdamente comum, mais eu via... E tenho certeza que outros também virão! Por isso tenho que estar sempre ao seu lado para protege-la desses abutres, que possam mágoa la.
Eu jamais me perdoaria se alguém partisse seu coração, e se um dia um homem fizesse isso, eu partiria a sua cara! Ela já sofreu demais pra ter que chorar por algum imbecil! Enquanto isso eu continuo a admirando sem toca-la... Igual um jardineiro com a rosa mais bonita do seu jardim! Sua beleza é só pra observar, nada mais!
- Seu Pai já foi! Como você está? Ela disse me olhando com delicadeza.
- Estou bem! Falei sem encara-la.
- Não parece estar! Ela tentou se aproximar outra vez de mim, e meu alerta vermelho acionou. Saí de sua direção, antes mesmo que ela pudesse pegar no meu braço. Estava evitando contato, seria mais difícil resistir se ela ficasse tocando em mim.
- Eu não queria que você nos visse! Olhei para os móveis, sem foco. - Meu pai me odeia!
- Não diz isso! Ela chegou mais perto de mim outra vez. - Os pais não odeiam os filhos!... As vezes eles só estão perdidos, e não sabem o que fazer!
Eu virei meu rosto pra ela, ainda pensativo. Como ela poderia deduzir isso, se nunca teve eles. E então ela respondeu meu pensamento.
- Eu não sei nada sobre convivência familiar! Passei minha vida inteira vivendo em um orfanato, e presa num porão por maldade de uma mulher! Mais não culpo meus pais por isso... E se um dia eu conhece los quero simplesmente abraça los, sem julgamento!
- Pra você é mais fácil agir assim! Seu coração é puro! Falei balançando minha cabeça concordando.
- O seu também! Só está magoado... Ela me disse com ternura.
- Não! Você não sabe nada sobre mim... Meu coração já nem existe mais!
Esther ficou de frente pra mim e me fez a encara-la nos olhos.
- Sua boca fala uma coisa e seus olhos diz outra! Meu coração acelerou. - Por que você mente Neto? Está enganando a si mesmo... Por que você não permite sentir? Tem tanto medo de se machucar assim? Deixa eu te ver, como você realmente é?!
Assenti sem deixar de encara-la.
- E então.... Dona sabe tudo! O que você vê?
Esther passou sua língua sobre os lábios como se sua boca ficasse seca. Ela não fraquejou nem por um minuto, continuou me olhando e disse.
- Eu vejo na minha frente alguém incrível! Que passou uma infância feliz, regada de amor. Até que a vida te esbofeteou... Levando alguém que você amava! Ninguém te ensinou a ser forte, isso você teve que aprender sozinho! Às vezes você se recusa a demonstrar fraqueza... Mas é normal! Ninguém é forte o tempo todo. Você tem medo que as pessoas possam te ver por dentro, e perceba o grande vazio que aí dentro se encontra... Não procure o caminho mais fácil... Deixa que as pessoas te vejam, isso não te deixa vulnerável! Isso mostra que você tem um coração, tão lindo e grandioso, quanto a pessoa que o carrega.
Engoli em seco duas vezes. Acho que meu maxilar também sentiu toda aquela tensão. Como ela me conhecia tão bem?... Isso era impossível!
- Como você sabe de mim? Se me conhece à tão pouco tempo...
Ela ergueu seus ombros, tímida.
- As vezes eu só tenho o dom de enxergar nas pessoas o que elas mesmas não conseguem ver!
Fiquei totalmente sem rumo naquela conversa, peguei uma xícara e apontei pra ela.
- Você quer café?
- Quero! Ela disse sorrindo.

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