— Amber! — ouvi meu pai me chamar.Grunhi na cama. Pensei seriamente em levantar e trancar a porta do meu quarto porque eu sabia que se demorasse mais meu pai iria invadir meu quarto e arrancar minhas cobertas, mas então lembrei-me de que estava acordando cedo porque eu tinha marcado um compromisso com Agnes. Grunhi, estava arrependida de ter marcado esse compromisso.
Eu estava super ansiosa por isso há alguns dias, mas perdi o interesse de maneira repentina — como em todas as vezes que eu marcava de fazer alguma coisa.Chutei as cobertas para fora da cama e decidi que estava na hora de levantar. Estremeci sentindo o frio do piso subir pelos meus pés, caminhei até minha janela e abri as cortinas. Esfreguei os olhos quando a claridade me deixou momentaneamente cega e mais uma vez me senti arrependida de sair da minha cama que me fazia companhia mais do que eu desejava.
— AMBER! — agora meu pai estava berrando.
— EU JÁ ACORDEI, PAI. — berrei a plenos pulmões.
Vesti meu roupão e calcei minhas pantufas, abri a porta e senti imediatamente o cheiro de panqueca invadir o ambiente, minha boca se encheu de saliva. Desci as escadas tentando pular dois degraus de cada vez, mas parei de tentar ao me imaginar rolando escada abaixo. Quando passei pela sala Bear veio em minha direção abanando o rabo. Peguei ele no colo e deixei o mesmo lamber todo o meu rosto, ele estava mais pesado do que eu me lembrava! Fui para a cozinha ainda com Bear no colo e cumprimentei meu pai.
— Bom dia — peguei um prato e o enchi com panquecas.
— Bom dia, filha. Coma rápido que logo Agnes chega aqui para te pegar. — ele sentou e praticamente sumiu atrás de sua montanha de panquecas.
Há algum tempo atrás eu teria dado risada desse fato e meu dia começaria mais alegre, mas fazia tempo que meus dias não começavam alegres. Eu percebia que meu pai me tratava como uma criança na maioria das vezes, eu gostava, sou uma pessoa carente, por mais que não goste de admitir.
E também esses seus gestos faziam com que eu me sentisse menos sozinha.
Sei que ele faz isso pra tentar suprir o fato de minha mãe ter morrido, mas eu não me sinto triste em relação a morte dela — ao menos é isso que eu repito para mim mesma todos os dias —, meu pai não me conta muito, mas sei que ela morreu em meu parto. Então eu não tenho lembrança alguma com ela. Não sei qual era a cor de seus cabelos ou de seus olhos, não sei se sua voz era macia e suave, não sei qual música ela cantaria baixinho no escuro com sua filha no colo tentando fazê-la dormir, ou qual seria nosso passatempo favorito. Seria plantar morangos no jardim? Acho que ela gostava de morangos. Leonard sempre foi um bom pai, não deixou muitas brechas para que eu sentisse tanta necessidade de ter uma mãe, aos olhos dele. Segurei o choro enquanto o observava distraído comendo suas panquecas, sentia falta de conversar com ele no café da manhã, mas eu simplesmente não consegui mais, me sentia um enorme fardo em suas costas.
Depois de engolirmos nossas panquecas, subi para o meu quarto para tentar me arrumar e ajeitar a bagunça.
Estava terminando de arrumar minha cama quando escutei Agnes dando oi para Bear. Agnes era minha melhor amiga desde sempre, não havia uma coisa sequer sobre a minha vida que ela não soubesse. Não, minto. Havia sim.
Muitas vezes recusei a presença do meu "namorado" pra ficar com ela, obviamente o Christian não gosta a nem um pouquinho disso, mas eu gostava.
Escutei seus saltos pipocando escada acima.
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Ponto de Equilíbrio
FantasíaAmber não sabe que rumo tomar em sua vida... não que isso fosse novidade, ela já havia perdido seu rumo há muito tempo. Ela achava que seus maiores problemas eram um pai triste por falta de amor, uma amiga superprotetora, um namorado o qual ela não...