Agora

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Quando recobrei a consciência, senti que estava sob uma superfície dura e gélida. Parecia que pequenas agulhas de gelo pinicavam meu corpo todo, estremeci. Sentia-me como se houvessem arrancado minha cabeça e a colocado em uma máquina de lavar roupa, tive ânsia.
Estava com medo de abrir os olhos e descobrir o que havia acontecido comigo, queria acreditar que tinha sido apenas um pesadelo e que eu estava em minha cama, mas a superfície gélida me trouxe novamente para a realidade. Resolvi abrir os olhos e minha dor de cabeça piorou significativamente com a abundância de claridade que me invadiu.

Observei o lugar, era um quarto.
Em suas paredes claras haviam enormes janelas, apenas consegui ver a fresta de uma delas, já que todas estavam escondidas atrás de pesadas cortinas.

Onde diabos eu estava?

Aquele quarto parecia ser um lugar a parte do mundo, jamais o caos do lado de fora se apossaria daquele local. A mobília era toda de cores pastéis, observei que ao meu lado estava situada uma enorme e convidativa cama. Devo ter caído dela em algum momento, sentei-me.

A porta do quarto foi escancarada e um sujeito entrou no aposento aos tropeços.

O homem — pelo que eu havia percebido — praguejou enquanto tentava recuperar o equilíbrio.
Parei de respirar e adotei uma postura tensa, eu não conhecia aquele ser.

Seus cabelos loiros cobriam seus olhos enquanto o mesmo olhava para o tapete de modo acusatório, então o sujeito olhou em minha direção. Foi a vez dele de segurar a respiração.

Ele era extremamente bonito, possuía feições angelicais, seu maxilar era quadrangular e bem marcado e seus olhos eram de um profundo azul.

Azul.

Minhas lembranças da noite passada me acertaram como um soco na boca do estômago, com um impulso e um provável pico de adrenalina, corri para a porta e passei por baixo do braço que o moço apoiava no batente da porta.

Levou um tempo para o mesmo processar o que havia acabado de ocorrer, mas num reflexo tão rápido quanto o meu, ele se pôs a correr atrás de mim pelo corredor que se alongava em minha frente.

Quase tropecei no carpete algumas vezes, mas continuei correndo. O corredor era claro como o quarto, mas era mais iluminado ainda, poucos metros a minha frente, havia uma bifurcação que levava para outro corredor, adentrei no mesmo com a melhor curva que consegui fazer.

O corredor inteiro era de vidro o que quase me fez parar de correr quando me dei conta de que estava correndo sob um abismo, com meu momento de desconcentração, voei gritando para o chão quando algo grande e forte se jogou em cima de mim.

Meu coração quase parou de bater quando fui prensada de cara com o aquele abismo horrível e escuro, era tão fundo que não dava para ver o que tinha em seu final, era tudo escuro a partir de certo ponto.  Eu não gostaria de morrer assim.

Tive a impressão de que iria desmaiar, então o peso extra saiu de cima de meu corpo e senti duas mãos fortes agarrarem minha cintura e me puxarem para cima, o sujeito loiro me virou de modo que eu pudesse ver seu rosto e minhas pernas fraquejaram, antes que eu atingisse o chão, ele me segurou e me puxou para seu colo.

Me debati em seu colo, mas o sujeito deu um jeito de segurar firmemente meus braços. Analisei a possibilidade de mordê-lo, mas eu estava tão mole que não conseguiria essa proeza nem se tentasse três vezes.

Ele começou a me carregar para o final do corredor e na esperança de me recuperar parcialmente, fechei os olhos, não queria ver mais nada.

– Para alguém que foi atacada tão brutalmente, você está ótima – sua voz era rouca, mas não era uma voz da qual eu me enjoaria de ouvir. Parecia veludo.

Ponto de EquilíbrioOnde histórias criam vida. Descubra agora