Ilusões

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— Amber! O que você está fazendo aqui?

Agnes se aproximou correndo e parou ao meu lado tocando meu ombro. Ela estava com suas roupas típicas de corrida, eu tinha me esquecido que todo dia ela corria no parque ao anoitecer.

— Eu resolvi sair para correr hoje. — abaixei e amarrei o cadarço que havia se soltado.

— Mas sozinha, meu bem? — ela olhou em volta, atenta.

— Sim, precisava um pouco disso — me levantei — Você não vai acreditar com quem eu acabei de trombar aqui.

— Com quem? — Agnes me olhou de maneira acusatória, elevando uma sobrancelha. Ela ficava linda assim, ela era linda que qualquer maneira.

— Lembra aquele cara da livraria? — enquanto eu ia falando, percebi que Agnes adotou uma postura mais atenta e começou olhar ao nosso redor. — Ele apareceu por aqui e eu levei um susto enorme! Saí correndo dele, mas nos trombamos de novo e depois que eu falei que sabia lutar boxe ele saiu correndo. Acho que ficou com medo — dei de ombros.

— Você está doida? Por que não gritou por alguém? — ela jogou as mãos para o alto. — Imagine o que ele não poderia ter feito aqui sozinho com você?

Desviei o olhar para seus tênis e os fiquei encarando, eles eram de um rosa chamativo que me fez torcer o nariz, eu odiava rosa desde que tropecei em uma casinha da Barbie totalmente rosa que eu havia ganhando no Natal quando tinha apenas seis anos e quebrei o braço em dois lugares. Passei cinco meses com o braço imobilizado. Agnes segurou meu maxilar e me forçou olhar para ela.

— Me prometa que se você ver ele de novo, vai sair apressada do lugar e não trocar uma palavra sequer com o indivíduo. — franzi a testa para ela porque o plano era inútil, ele poderia me seguir como fez hoje — Me prometa, Amber. Você não tem noção do que aconteceria comigo se eu perdesse você! Você é muito preciosa, não só para mim, mas para o mundo inteiro. — revirei os olhos diante da cena dramática, para o mundo? Senti vontade de rir.

— Eu prometo, Agnes. Juro de dedinho. — suspirei.

— Ótimo, agora vamos para casa. — e me arrastou pelo resto do caminho.

🌒

— Agnes comentou que você anda falando com estranhos que te olham como se fossem te assassinar. — meu pai sentou ao meu lado no sofá.

— Papo dela, o cara que falou comigo, eu apenas falei que eu sabia lutar boxe — coloquei um punhado de pipoca na boca e me deliciei. Eu tinha o costume de colocar sal e açúcar na pipoca. Então o sabor era sempre uma surpresa.

— Amber, esse mundo é parcialmente perigoso. Não gostei de saber disso, como vou confiar de deixar você sair sozinha por aí? — ele passou a mão no rosto, suspirando.

— Pai, eu não tive culpa alguma — olhei para ele de maneira nervosa. — E eu já sou bem grandinha para andar por aí sozinha e falar com quem eu bem entender. Aliás, estávamos em um lugar cheio, se fosse o contrário, eu não pensaria duas vezes antes de deixar ele falando sozinho e sair de lá!

Como se não fosse exatamente isso que eu havia feito, mas infelizmente vivíamos em um mundo em que a culpa sempre — de uma maneira ou outra — era da mulher.

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