Breu

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Engoli em seco, muitas emoções tomaram conta de mim, eu não conseguia nem descrever o que estava sentindo.

— Não te interessa — apertei o passo em direção ao estacionamento.

Realmente não sei se ele escutou, eu estava com tanto medo que não sabia nem se tinha falado aquilo mesmo.

— Oh, ela está brava! Aconteceu alguma coisa? Percebi que você estava chorando...

— O que você quer de mim? Dinheiro? — falei mais alto, o indivíduo estava me seguindo.

— Você não acha que o correto seria perguntar o que eu sou? Vou contar, eu não quero você, quero algo que está dentro de você. Algo muito poderoso que está bem aqui...

Enquanto falava, o mesmo me alcançou e parou na minha frente, fazendo com que eu também parasse. Ele estava a dois palmos de distância, mesmo assim não consegui visualizar seu rosto.

Incrédula, percebi que era como se ele não o tivesse e seu rosto fosse um breu, eu seria capaz de me perder completamente apenas olhando para ele. Onde deveria estar seu rosto, não havia nada, somente uma massa cinzenta.

Então ele posicionou sua mão direita em cima de meu coração e batucou seus dedos por um instante antes de se afastar.

— Você não tem ideia do poder que carrega junto ao teu peito. E eu preciso dele, como você é uma boa moça, vai me dar de bom grado, não? — creio que, se ele tivesse um rosto, agora estaria sorrindo.

Eu estava totalmente travada e sem reação.

— Então você vai ser grossa? — ele disse inclinando a cabeça e parecendo se divertir.

Não tinha o que falar, então resolvi fazer aquilo que geralmente se faz quando se está em uma situação dessas, ao menos eu penso que é isso que se faz. Corro. Eu corro desesperadamente em direção à avenida principal, espero que haja alguém lá.

Solto tudo que carregava no chão e corro arfando em direção as luzes que brilhavam mais ao longe, escutei o cara urrar e em seguida gritar algumas coisas que não consegui identificar, tropeço algumas vezes enquanto passo na frente de uma loja e olho rapidamente o reflexo na vitrine, estava pálida e com uma aparência assustada, meus fios loiros estavam completamente molhados e isso me deixava com frio, mas não havia sinal algum do cara atrás de mim.

Faltando apenas alguns metros para chegar na avenida principal, eu ouço alguns grunhidos estranhos e então algo agarra meu tornozelo e o puxa me fazendo cair de cara no chão e ralando completamente meus dois cotovelos, viro-me de barriga para cima rapidamente para ver o que me arrasta e gemo quando percebo ser uma sombra, UMA SOMBRA ESTAVA ME ARRASTANDO!

— ME SOLTA! — gritei esperando que alguém me ouvisse, com certeza não tinha ninguém por perto, era impossível que não tivessem me ouvido. Ninguém apareceu. Comecei a me debater a medida em que a sombra me arrastava para mais e mais perto do cara assustador que provavelmente queria me estripar e vender meus órgãos no mercado negro.

E ele estava cada vez mais próximo de mim, batucando os dedos uns nos outros esperando pacientemente a medida que, possivelmente, sua próxima fonte de dinheiro chegava. Esperneio e tento chutar o negócio preto que agarra meu outro tornozelo, obviamente sem sucesso resolvo desistir.
Sou jogada aos pés da criatura sem rosto que se ajoelha ao meu lado e segura meu rosto. Então era assim que tudo acabava. Minhas noites e meus dias longos de sofrimento, angústia, tristeza e inutilidade. Parecia-me reconfortante deixar tudo isso para trás.

— Tão linda... logo, logo você vai ser nossa, mas antes eu tenho que fazer uma coisinha. Eu juro que não vai doer... — diz acariciando minha bochecha e passando seus dedos esguios sobre meus lábios.

— Q-quem é você?

Ele se aproxima, como se fosse me beijar e então declara:
—  James, não que isso vá fazer alguma diferença agora. Eu esperava por esse momento a tempos, porém, seu guarda costas sempre estava com você, sua amiga ou seu querido papai. Assumo que isso tornou as coisas um tanto que complicadas, mas eu sempre tenho aquilo que desejo e olha só, você está sem os cães de guarda hoje! — Mas do que diabos ele estava falando?

De repente tudo veio a minha mente com um flash. No campus, naquele beco perto da lanchonete. James. Foi depois daquele dia que tudo começou. Ele havia mandando eu me cuidar, seria possível que aquele homem do campus tivesse alguma relação com esse monstro?
Não, era impossível. Eu não estava sentindo o que senti com James.

Esse tal James deve estar drogado, só pode ser isso.

— Agora sem mais delongas, vamos logo com isso.

Ele levanta a mão que não estava me acariciando e a penetra em meu peito, não sinto dor de início, apenas uma surpresa pavorosa, agora eu não sei se ele está drogado ou se eu estou alucinando. Ele está com a mão dentro de mim! Como isso é possível? Ele enrosca sua mão em meu órgão vital e o aperta, dessa vez eu urro de dor, sinto como se mil facas estivessem dilacerando meu coração ao mesmo tempo. Como se a vida fosse sugada de mim aos poucos, sinto cada parte de meu corpo ficando mais devagar. Fico sem ar de tanto gritar, ele afrouxa o aperto e começa a retirar meu órgão e dessa vez quem grita é ele, não consigo prestar atenção ao que está acontecendo, sinto que ele tira sua mão de meu peito, meu coração continua aqui dentro e agora já não dói mais, ele afasta a mão que repousava em meu rosto e declara em meu ouvido:

— Talvez eu tenha comemorado cedo demais, mas ainda nos veremos por aí Amber e então eu terei tudo o que preciso.

Eu estava livre de toda a dor? Era tão reconfortante pensar nisso, eu não iria mais sofrer.

E depois não escutei mais nada, não vi mais nada, apenas senti alguém me pegando no colo e tudo ficou escuro, um breu completo assim como o rosto de James.

Perdão pelo capítulo curtinho hehe.
Não esqueça do comentário e da estrelinha!
Com amor,
Lua.

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