Lembrar às vezes dói, mas é preciso
Eu Sou Sol.Capítulo 1
Ficar paraplégica não foi um dos meus pedidos. Na verdade, eu nem pedi para nascer.
Mas a vida é irônica: fui o espermatozoide mais rápido, o vencedor involuntário de uma corrida que me condenou a esta existência.As paredes do meu quarto, antes um refúgio de adolescente, agora parecem se fechar sobre mim, apertando.
Meus avós insistem para que eu saia daqui, que conheça pessoas - como se a solidão fosse uma escolha, e não uma sentença imposta por essas quatro paredes.
Se formos analisar, tudo é uma grande sentença.
Eles tentam me tirar deste quarto há mais ou menos um mês. Essa deficiência acaba comigo. Sinto dores terríveis à noite, sofro de insônia e, como bônus, agora tenho depressão.
A dor não vem só das pernas mortas. Vem dos órgãos aos poucos sendo esmagados pela imobilidade, das noites em claro ouvindo o tique-taque do relógio contar os segundos da minha agonia.
Minhas pernas, antes tão minhas, agora são um peso inerte, alheio ao frio do lençol ou ao calor do sol que entra pela janela.
Antigamente, eu era feliz. Não era a garota popular, mas era livre.
Lembro-me de correr descalça na grama molhada do quintal, o cheiro de terra subindo, o riso dos meus pais me seguindo.Tinha minhas próprias pernas. Não precisava de alguém para empurrar minha cadeira ou me carregar no colo só para me mover.
Depois do acidente, minha fala ficou um pouco embaralhada, mas nada que atrapalhe muito. Só que... eu não me sinto mais livre. Estou presa nesta cadeira.
Vivo com meus avós desde o acidente que matou meus pais e, de certa forma, me matou também. Eles se esforçam - vejo a preocupação em seus olhos cansados - mas o peso da minha presença parece esmagar a todos nós.
O Dia Que Me Roubou Tudo
Era uma quinta-feira ensolarada. 19 de julho. Meu avô faria 68 anos.
— Neste verão, eu e o vô vamos pescar tanto peixe que sua mãe vai ter que inventar receitas novas! — meu pai ria, abraçando a vara de pesca nova como um menino com presente de Natal.
— Tá esquecendo que o cozinheiro é você? — minha mãe disse com um leve sorriso nos lábios.
O último momento de felicidade:
Mamãe no banco do passageiro, o vestido vermelho que tanto amava
Eu atrás, abrindo a janela para sentir o vento
Papai cantando "Volare", desafinado
Foi quando decidimos pegar um atalho.
E então - o inferno.
Um caminhão invadindo nossa pista. O barulho horrível do freio rangendo no asfalto. Depois, o impacto.
O som de metal esmagando metal. Vidros estilhaçando como granadas.
O grito da minha mãe — "CUIDADO, GIOVANNI!"
Então, escuridão. Trevas.O Despertar no Inferno
Cheiro de antisséptico. Luzes brancas que doíam. Havia alguém segurando minha mão.
— Sol... você consegue me ouvir?
O médico falava devagar, como se eu fosse quebrar.
— Sua coluna vertebral sofreu uma lesão na altura da T12. Você terá... limitações de mobilidade.

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Eu Sou SoL
RomanceSoL, uma jovem de 17 anos, tornou-se paraplégica aos 16 e, desde então, encontra refúgio em seu quarto, isolando-se do mundo exterior. A ausência de afeto romântico e a inexperiência de um primeiro beijo pesam sobre ela. No entanto, o destino reserv...