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Leonor tinha tudo menos vontade de ir trabalhar naquele dia. Adorava a profissão que exercia, mas precisava urgentemente de uma pausa. O desgaste emocional dos últimos dois meses parecia estar a quebrar a barreira física.
Sabia que existiam muitos que davam tudo para ter um emprego e, por isso, sentia-se terrível cada vez que o fazia.

Ia a meio da rua no caminho para comboio, quando reconhece uma livraria mais à frente. Entra, pega no telemóvel e faz a chamada numa voz baixa, quase a sussurrar.

"Estou? Honeybear Nursery? Peço desculpa por ser tão em cima da hora, mas eu apanhei uma constipação e não consigo ir hoje. Pensei que melhorasse durante a noite, mas não aconteceu." Explica na língua inglesa. Uma educadora nunca poderia comparecer doente com o risco de contaminar as crianças. Era uma regra em que eram bastante rigorosos.

Esta era a segunda vez que se aproveitava disso. A primeira tinha sido com Bernardo, depois de uma noite que ainda sorria ao lembrar-se.

"Podemos ficar aqui para sempre?" O rapaz, com o cabelo a apontar para diversos lados e uma voz rouca sugere.

Leonor deita a cabeça no seu peito descoberto e desenha-lhe círculos enquanto observa a cidade de Manchester a acordar pela janela.

"Não me importava nem um pouco." Responde.

"Fica aqui. Fica comigo até mais tarde. Vamos tomar um brunch depois. Quero estar contigo." Bernardo insiste, apertando-a contra o seu corpo como se se a largasse por um pouco, ela lhe pudesse fugir por entre os braços.

"Seria incrível, mas sabes que não posso. Tenho um trabalho para comparecer. Nem todos temos uma manhã de folga por mês." Alerta-o, virando-se para cima, de modo a conseguir encarar o olhar pelo qual se apaixonara.

"Ligas." O futebolista afirma enquanto lhe afasta uma mecha de cabelo. "Dizes que adoeceste. Acordaste esta manhã a tossir e a espirrar, mas que, com a medicação certa, amanhã já estarás ótima para ensinar."

"Bernardo! Não se deve mentir, muito menos brincar com coisas que depois ainda acontecem." Leonor reclama, lançando-lhe um olhar severo que arranca gargalhadas ao jogador. O movimento do corpo dele ressoa no dela, num.

"Vá lá!" Pede enquanto esconde a cara no pescoço da namorada que enche de beijinhos. "Só hoje. Também não te está a apetecer ir e a estas horas já perdeste o comboio que costumas apanhar." Bernardo tenta persuadi-la.

Leonor olha para o relógio da sua mesa de cabeceira e, de facto, já devia ter saído de casa. Ia chegar, pelo menos, vinte minutos a meia hora atrasada. E aquele pedaço de paraíso que era estar ali com ele pedia-lhe que fizesse por se atrasar mais.

"Maldito sejas Bernardo Carvalho e Silva!" Leonor segura a cara do futebolista com um sorriso de orelha a orelha entre as suas mãos, abanando a sua própria cabeça.

"Amo-te." O moreno responde, antes de se perderem nos lábios um do outro.

Passado alguns momentos de carinho, Leonor levanta-se da cama com a camisa dele e liga para a escola.

Faz a chamada do corredor, enquanto o observa deitado de mãos atrás da cabeça a admirar a cidade a movimentar-se. Tinha ali o seu mundo em frente dos olhos.

Desliga e volta para a cama, onde se enrola num entrelaçado de corpos, lençóis e amor.

Only You | Bernardo SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora