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Bernardo vira os calções mais uma vez numa quarta tentativa de os desenrolar, mas sem sucesso.

Estava no meio da varanda com um alguidar de roupa para estender e ainda só tinha conseguido prender duas t-shirts e uns boxers. Por aquele ritmo, estaria ali a tarde toda.

Lembrou-se que Leonor fazia qualquer atividade doméstica parecer simples e, na verdade, realizava-as num ápice. Tinham combinado que ele ficava com a cozinha, fosse preparar ou limpar, tirando exceções de dias exaustivos de jogo ou treino.

Funcionavam em harmonia, como um violino nas mãos do mais experiente violinista.

Revira novamente os calções, mas ainda se dobram mais. Desiste e pendura-os como estão. Eventualmente, hão-de secar.

Estar ali, traz-lhe uma memória de momentos mais felizes.

"AI! O que é que estás a fazer?" Leonor grita, quando leva com um esguicho de água de repente.

A jovem estendia a roupa na varanda do apartamento que partilhava com Bernardo, quando o jogador aparece do nada com uma pistola de água na mão e dispara sobre a rapariga.

A reação de susto provoca o riso no jogador, que precisa de segurar a própria barriga.

"Ai de ti que esta roupa fique encharcada Bernardo Carvalho e Silva!" Avisa-o com toda a seriedade possível, embora o seu cabelo a pingar gotas para a cara dificultasse a tarefa de não se desmanchar a rir.

"Tentas ser séria e nem consegues!" Acusa-a, levantando a pequena "arma" na direção da namorada.

"Bernardo! Não! Estás a ouvir? Nem te atrevas!" Grita, colocando os braços esticados com as mãos à frente da cara para se tentar proteger. À sua volta não tinha nada em que pegar. Só vasos com uma planta, duas cadeiras e a mesinha que raramente usavam.

O moreno pressiona o botão e água chove sobre a rapariga à sua frente mais uma vez. Ela grita o seu nome, visivelmente chateada e, nos seus olhos, o rapaz reconhece a vingança que está por vir.

"Tu vais ver." Ameaça com um olhar determinado como o internacional português nunca viu.

Leonor recua até ao cesto da roupa e agarra discretamente na camisola favorita de Bernardo por trás das costas, mantendo-a oculta atrás de si.

"Experimenta novamente." Desafia-o com um sorriso malicioso.

"O que é que tu vais fazer?" O moreno interroga-a desconfiado, dando um passo atrás.

"Nada. Pensando bem, hoje está um pouco mais calor que o habitual. A água a refrescar até é agradável." Leonor clarifica, apelando à sua atriz interior para trespassar inocência e ingenuidade.

"Tens a certeza que é isso que queres?" Bernardo questiona, coçando o pescoço com uma expressão confusa.

"Absoluta. Manda!" A namorada incentiva-o, com um semblante que dava a adivinhar o que estaria por vir.

Assim que o jogador atira mais água, a rapariga protege-se com a camisola e a expressão na sua face é inestimável.

"Não! Oh, tu não fizeste isso!" Exclama, correndo até ela e roubando-lhe das mãos a t-shirt que agora pingava.

Bernardo atira a peça de roupa para as cadeiras e encara a namorada com um ar sério. "É assim que vamos jogar? Então tu já vais ver minha menina!" Declara, antes de partir para um ataque de cócegas que a deita ao chão e, com ela, a ele também.

"Para! Por favor!" Leonor súplica num ataque interminável de riso.

Porém, o português só termina a sua retaliação porque não resiste mais a estar tão perto e não enchê-la de beijos. Pelo pescoço, os ombros, no nariz, na testa, perto da orelha. Toda ela parecia um sonho ali deitado na sua varanda com gotas de água a escorrer.

Bernardo encara o chão onde estiveram, agora vazio. Com uma camada de pó a mais, por falta de tempo, ou talvez também jeito, para limpar.

💙

Nota: Este capítulo foi inspirado num outro da história Serendipity, também com o Bernardo, da CarlotaNunes. Duvido que ainda não a conheçam, mas, se for o caso, leiam porque cada detalhe é um prazer de ler e pedir por mais. Para além disso, a talentosa autora foi a magnífica criadora da capa deste livro e a quem agradeço o seu trabalho pela milionésima vez. 💕

Only You | Bernardo SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora