6. touch

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TW: esse capítulo pode conter acontecimentos e falas
para gatilho de trauma,
desencadeando memórias e sensações dolorosas ligadas a ele. 
se você precisa de ajuda, não hesite em entrar em contato comigo. 
disque 190.


MELISSA

Uma batida ecoou na minha cabeça e me fez colocar a cabeça pra fora do edredom.

Maryse Lightwood estava ali. Nunca tivemos uma ligação de mãe e filha, até porque ela não era a minha mãe, mas sempre tivemos repeito uma pela outra.

- Ainda dormindo tarde, Mel? - ela falava tentando ser fofa.

Digamos que, eu sei um segredo dela. Um segredo enorme. E em uma das nossas brigas, eu joguei isso na cara dela. Quando voltamos a conversar, ela ficou esse doce comigo.

- É bom te ver também, Maryse... - eu resmungava e deitava novamente. - O que você veio fazer aqui?

- Digamos que a Clave não considera o Instituto de Nova York um instituto que possa ser cuidado por um Lightwood jovem e 'inesperiente'. - ela soltava um suspiro.

- E por isso mandaram você? - eu perguntava e ela afirmava. - Quanta mudança! - ironizava.

Ela me olhou com uma certa raiva e se endireitou na cama. Sua postura era, irritantemente, reta e perfeita. Seu cabelo estava amarrado em um longo rabo e, como sempre, vestia um dos seus conjuntos de saia e blazer.

- Você irá ficar aqui com Alec, enquanto Isabelle, Jace e Alphen vão falar com Meeliorn. Os Seelies cortaram contato com a Clave...

Eu revirava os olhos e colocava meu rosto debaixo do travesseiro novamente, para abafar o som da voz de Maryse.

Depois que eu ouvi a sua voz de dissipar e o barulho de porta fechando ecoar pelo quarto, coloquei minha cabeça pra fora e me certifiquei que ela tinha realmente ido embora. E, pra minha alegria, era exatamente o que ela tinha feito.

Dei uma longa bufada e me levantei, vendo a hora. Não eram nem dez da manhã!

Levantei praguejando Maryse por ter arruinado o meu único dia de sono prolongado e fui em direção ao banheiro, fazer minha higiene matinal.

✸✸✸

Quando eu cheguei no final do corredor e que eu iria virar, senti uma coisa batendo no meu pé. Olhei para baixo e pude ver uma bolinha de papel.

Peguei a mesma e abri, vendo um desenho e a figura de Valentim Morgenstern estava representada em um belo desenho. Terminei a pequena curva que iria fazer e vi Clary, encolhida no canto da escadinha.

Por alguns minutos eu senti dó. Eu nunca vivi com minha mãe e nunca tive um amor maternal, mas ela já. E agora ela assistia a mãe na mão em um dos maiores assassinos do Mundo das Sombras. Fui até ela devagar e sentei na outra ponta da escada.

- Hey... - eu falava. Ela olhava para mim de canto de olho e secava algumas lágrimas. - Você quer conversar?

- Eu estou bem! - ela forçava um sorriso e eu revirava os olhos. - Eu só estava pensando na minha mãe, como ela deve estar...

- Clary, você não está bem. - fui direta com ela, que pareceu se assustar com minha reação. - Pare de mentir pra si mesma.

Ela relaxou os ombros e começou a desabafar comigo.

- Eu não sei o que fazer. Eu sou uma forasteira aqui. - ela me olhava. - Meu pai quer matar metade do mundo e com ele, quer levar minha mãe. - ela falava aquilo com um certo desespero. - Eu estou de mãos atadas e eu preciso salvar minha mãe, Melissa! Eu preciso!

Eu pude sentir compaixão por ela naquele momento. A vendo vulnerável daquele jeito, eu sentia que eu poderia dar uma brecha e ser amiga dela. E como amiga e experiente, eu tenho que ajudá-la nesse mundo tão... novo.

!TW!

- Eu não entendo essa sua necessidade, porque eu nunca tive uma presença de mãe. - eu soltava antes que eu pudesse perceber. - Ela morreu no momento em que eu nasci. Vivi anos e anos aturando a angustia de Jace e Micael, nosso pai.

- E-Eu não sabia... - ela começava a falar.

- Me deixe terminar. - eu a interrompia. Agora que eu tinha começado, eu não iria parar. Eu precisava contar o que eu sentia para alguém que não conhecesse minha família. - Eu fazia aula de ballet, meu pai falava que melhorava a flexibilidade. Quando eu errava, ele quebrava um dos meus dedos e depois fazia a iratze.

Ela arregalou os olhos. Eu senti um bolo se formar na minha garganta em pensar o que eu iria falar em seguida.

- Mas isso começou a piorar... - eu sentia arrepios no corpo e um pânico começava a bater. - Eu me lembro das noites em que eu passava chorando, imaginando como tinha sido a morte da minha mãe. Um dia, em uma dessas noites, Micael me viu. - eu já soluçava.

- Melissa... - Clary tentava me ajudar. - Não precisa, você já me ajudou.

Ela veio em um gesto de abraço mas eu me encolhi mais ainda. Eu não conseguia imaginar o toque de ninguém.
Eu sentia como se aquela noite se repetisse infinitamente, dia por dia.

- Ele me tocou, Clary! - eu soltei aquilo em meio a soluços. - Eu era só uma criança... Eu não tinha culpa...

Ela me olhava sem saber o que fazer perante aquela situação e eu sentia as mãos daquele cretino no meu corpo novamente.

- Até que enfim eu achei voc... - eu ouvi a voz de Alec, que apareceu na nossa frente. - Melissa?

✸✸✸

- Até quando isso aconteceu? - Alexander me perguntava, andando de um lado para o outro no quarto.

Eu estava sentada na cama e enrolada na minha coberta. Eu tinha contado para ele e Clary tinha saído para nos dar um momento a sós.

- Alec, chega... - eu falava. - Isso é passado. O que aconteceu foi só um surto que eu tive.

- Isso não é passado, isso é assédio e estupro. - ele aumentava o tom de voz. - Sorte dele que ele já tá morto a muito tempo!

Pela primeira vez, me permiti a rir. Estava sendo bom a sensação de ter compartilhado aquilo com alguém, mesmo que fosse Alec ou Clary.

- Eu amo você demais... - eu disse. - Muito obrigada por estar me ajudando. E, me desculpa por ter fingido esse tempo todo.

Ele veio até mim e me deu um beijo na testa. Eu realmente o amava como o irmão que Jace demorou a ser para mim.

O momento foi atrapalhado por um Alphen ofegante.

- Melissa! - Alphen suspirou de alívio quando me viu. Gente, o que tinha acontecido na reunião com Meeliorn? - Ah, pelo anjo.

Ele veio até mim e me abraçou, me dando um beijo no rosto.

- Temos que conversar... - ele se se afastou de mim, com cuidado. - A sós, é sério.

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