Fique

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- Eu cresci no Oregon. - Ela falou sorvendo um suco gelado no canudinho em uma lanchonete de esquina, sentada na frente de Ian, que criativamente, usava uma blusa xadrez verde.

- Sua família ainda está lá? - Ele quis saber, com uma caneca de café nas mãos.

- Deve estar, não sei. - Suspirou. - Fui morar em um lar temporário quando tinha seis anos. Minha mãe era usuária de crack. Perdeu minha guarda.

- Eu sinto muito. - Ian assustou-se, mas deixou-a falar enquanto todos se movimentavam ali.

- Eu mal lembro dela, então tudo bem. - Sorriu forçadamente. - Lembro dela usando droga, é a maior parte das lembranças. E lembro de sentir fome e frio. Depois, lembro das famílias. Morei com pelo menos 15 famílias temporárias até fazer 18 anos. - Tomou um pouco mais do suco. - Eu sempre quis sair do Oregon e fiz isso quando fiz 18. Fiz alguns cursos grátis promovidos pelo governo e arrumei um emprego como secretária em uma firma de advocacia. Douglas era o dono. - Lembrou-se. - Pode imaginar o quadro. Eu era uma menina boba e ele um cara de quase 50 anos com um escritório de advocacia bem sucedido. Ele não teve muito trabalho, na verdade.

- Vocês começaram a sair. - Ian imaginou.

- Sim. Eu era uma menina pobre, sem nada e Douglas tinha muitos luxos. Começamos a namorar. Com menos de seis meses, fui morar com ele e ele me tirou do escritório. Disse que eu podia trabalhar de casa. Deus, eu não precisava trabalhar, se não quisesse. Ele me deu aquela casa, colocou no meu nome. Para eu ter algo na vida. - Explicou ela chateada. - Ele era um cara legal, ou pelo menos parecia.

- Mas... - Ian forçou, sabendo que tinha algum porém.

- As brigas começaram. Eu não tinha bem para onde ir e comecei a ficar incomodada com isso. Eu não tinha amigos, ninguém e odiava a sensação de estar presa ali com ele, então resolvi que iria procurar um novo emprego, em um outro lugar. Outra firma. Ele não gostou. - Ela limpou a garganta com firmeza. - Discutimos e ele me bateu. Deu alguns tapas no meu rosto.

- Deus do céu! - Ian quase gritou ali. - Você foi à polícia?

- Pensei em ir. Claro que pensei. - Suspirou. - Não fui e não me orgulho disso. Ele pediu desculpas e recomeçamos, mas aí alguma coisa já tinha se quebrado. Ele começou a ser mais controlador. Colocou um motorista pra mim, mas eu sentia mais sendo vigiada. Não podia sair sozinha. Eu tinha tudo que queria, mas não tinha espaço. Tentei sair diversas vezes sozinha, e quando conseguia, era horrível. Ele se irritava e pode imaginar como isso acabava. Ele disse que se eu saísse, de alguma forma, iria me matar. Avisou que eu não poderia fugir, ele conhece muitas pessoas, conseguiria seguir meus passos.

- Então foi à polícia, não é? - Ian sugeriu, preocupado.

- Fui. - Passou a mão no rosto, com força. - Fui sim. Fui até à delegacia e me sentei lá e falei tudo. Falei tudo para o delegado. E sabe o que ele fez?

- Obviamente não prendeu o desgraçado.

- Perguntou se eu tinha provas do que estava falando. - Disse com amargor. - Que eu tinha que me manter calma, que só minha palavra não era o suficiente. Queria um exame de corpo delito, algo que pudesse provar alguma coisa.

- Katie...

- Fui para casa e telefonei para ele. Falei para Douglas que queria acabar. Coloquei minha vida em risco e disse que queria acabar tudo, fiz no impulso. Fiquei com tanto medo que peguei o que tinha de dinheiro em casa e... saí. Eu ia para a estação de trem, quando vi que haviam homens lá, que trabalham para Douglas. - Suspirou. - Eu fui para aquele bar, beber e tentar me despedir da vida, quando esbarrei com você.

Ian queria só falar algo, mas não sabia bem o quê.

- Olha, se puder me levar para alguma outra cidade, de lá eu posso...

- Não parece justo com você isso, Katie. - Ele falou sério. - Se Douglas é influente como parece ser...

- É um risco que tenho que correr. - Falou.

- Fique. - Ele falou sério, sem pensar nas palavras. - Se ele pode mesmo seguir seus passos, podemos fazer com que você não deixe nenhum passo. - Sugeriu. - Fique no Rancho.

- Com você? - Ela surpreendeu-se. - Ian, eu agradeço, mas eu não poderia aceitar nada assim. Não posso morar de favor com você e eu mal o conheço.

- Meu nome é Ian Hudson. Conheceu minha mãe e meu irmão hoje, eu não tenho pai. Não que vá conhecer pelo menos... - Disse levantando suspeitas. - Eu administro o Rancho Hudson, junto com meu amigo e sócio Lewis, cuido de alguns bichos e algumas plantações. Nada chique, mas dá pra viver. Disse que queria um emprego novo, eu preciso de alguém para me ajudar na fazenda. - Avisou. - Sou péssimo com trabalho administrativo. Você tem experiência com essa área. O rancho é propriedade privada e você pode ficar lá, o tempo que for necessário.

- Homens como Douglas não esquecem tão fácil, Ian, isso não é algo temporário.

- Então fique. Pra sempre se precisar. - Ele insistiu. - Eu estou lhe oferecendo um emprego.

- Mas está interessado em mim. - Ela percebeu.

- Você é uma mulher bonita, Katie, seria burro se não admitisse isso pra mim mesmo. - Concordou com ela. - Por hora, estou te oferecendo um emprego. Um lugar para morar. Pode ficar o quanto quiser e pode sair quando quiser. Posso não lhe pagar uma fortuna, mas eu te garanto que é um trabalho justo. Douglas não vai te achar lá, mas também, se provar que é boa no que faz, isso pode ser um recomeço para você. Se um dia estiver interessada, eu ficaria mais do que feliz em te pagar um jantar, mas isso não é uma condição, Katie. Não estou pedindo nada em troca.

Ela não tinha exatamente muitas opções na mesa, mas Ian, bom, ele era no mínimo intrigante. Ele estava ali, e nem a conhecia bem. Parecia um herói, com todo aquele porte físico enorme e másculo.

- Certo. - Ela concordou. - Certo, eu acho que podemos fazer isso. Obrigada, Ian.

Ele sorriu para ela, e suspirou.

-Sobre o jantar... - Katie falou, com algumas incertezas, pois ainda tinha medo, especialmente porque se sentia ainda ligada à Douglas. - Imagino que vamos ter muitos deles, morando juntos.

- Se quiser. - Ian gostou do tom, mas viu o medo nos olhos dela. - Podemos jantar todos os dias.

- Um passo por vez. - Ela pediu. - Podemos começar saindo daqui?

- Podemos. - Ele concordou com ela. - Vamos parar em um comércio no caminho.

- Por quê? - Ela ficou curiosa.

- Você precisa de roupas. - Ele sorriu. - As da minha mãe não lhe servem tão bem assim.

- Ian, meu dinheiro não...

- Não se preocupe, eu pago. - Ele insistiu. - Imagino que algumas jeans, algumas blusas e casacos e alguns vestidos, um bom par de botas e alguns conjuntos íntimos serão o suficiente por agora.

Ela ficou vermelha demais.

- Vou pedir para minha mãe providenciar também xampus, condicionadores, sabonetes, desodorantes e absorventes. Se quiser alguma maquiagem também, ou perfumes, talvez possa fazer uma lista que eu....

- Ian. Não. - Ela recusou. - Não posso aceitar tanto.

- Se vamos fazer isso.... não pode ser tão orgulhosa. - Ele falou sorrindo de leve. - E de qualquer forma, se não fizer, eu vou providenciar do mesmo jeito. E convenhamos, seu primeiro pagamento só sairá em um mês e imagino que prefira aceitar o que estou lhe dando do que sangrar pelo chão porque ficou com vergonha de aceitar algumas coisas...

- Certo. - Ela falou envergonhada e convencida. - Certo. Paramos no comércio.

- Boa menina. - Ele sorriu para ela. - Vou pagar a conta.

Sedução em MontanaOnde histórias criam vida. Descubra agora