III

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"Marquei uma reunião do conselho para semana que vem, às 17:00. Tente aparecer, dessa vez."

Enviei a mensagem para Edgar, sabendo que não teria resposta. Desde o dia em que havia socado seu rosto, há duas semanas atrás, as coisas estavam estranhas entre nós dois. Eu havia me mudado para o quarto de hóspedes da casa. Nos primeiros dias, Edgar bem que tentou se desculpar de todos os jeitos possíveis, tentando me paparicar comprando doces, vinho, me chamando para ir ao teatro e até passar um tempo em Fernando de Noronha, aproveitando o fim do verão.

Mas, quando ele viu que nada disso surtia efeito, pareceu desistir.

O que, para mim, estava ótimo.

Eu não sabia qual passo dar adiante. Na verdade, eu sabia, mas tinha medo de fazer isso. A ideia de entrar com divórcio era simplesmente cansativa demais, e me dava dor de cabeça só de pensar. Mas algo precisava ser feito, e logo.

Me inclinei na cadeira, suspirando. Passava das três da tarde e mesmo o ar condicionado não dava conta do calor que fazia. Estávamos no meio de março, perto do fim do verão, e a temperatura só dava trégua de madrugada, quando fazia muito frio. Tirei a gravata e o paletó, colocando-as no encosto da cadeira. Olhei para o alto e algo chamou minha atenção: havia uma TV no meu escritório na escola, que aparentemente mostrava algo que havia acontecido noite passada. Peguei o controle da TV e tirei-a do mudo.

- A cidade ainda está perplexa com o acontecido da noite passada - a reporter de blazer escuro e cabelo amarrado falava, em tom sério. - Cientistas de todo o Brasil - e de todo o mundo - estão neste momento vindo para o Rio de Janeiro investigar o misterioso facho de luz violeta que iluminou o céu da cidade no começo da noite de ontem.

A imagem então foi cortada para uma série de vídeos amadores feitos por câmeras de celulares, onde se via nitidamente um grande clarão de luz roxa seguindo em direção ao céu, ofuscando todas as luzes em volta como um grande raio da largura de um prédio.

- Ainda não há confirmação, mas a presidente pediu ajuda da NASA - a reporter apareceu novamente. - Tudo indica que o facho de luz misterioso teve origem na floresta da Tijuca, e que pôde ser observado da estação espacial internacional. O parque, como podem observar - a câmera focou para além da reporter - está totalmente cercado e bloqueado pelo exército.

Alguém bateu na porta e eu coloquei a TV no mudo novamente.

- Entre - pedi.

A porta se abriu e Tatiana colocou a cabeça para dentro, seu cabelo loiro fazendo uma cascata atrás de si.

- Ícaro, a dona Laura...

Meu rosto se iluminou.

- Sim, claro! Mande-a entrar.

Menos de um minuto depois, Laura entrou. Usava os cabelos brancos preso, e um vestido azul escuro que ia até o meio das pernas. A cor combinava com os brincos, mas eu percebi que ela parecia mais cansada, a pele escura com um tom opaco, acinzentado. Levantei-me na hora e estendi a mão.

- Senhora Weiss.

- Por favor, só Laura - ela disse, apertando a minha mão e sentando-se.

- Aceita um café? Um chá gelado? Anda tão quente esses dias...

- Não, obrigado - ela agradeceu com um sorriso. - Não posso me demorar.

- Eu entendo. - Cruzei os dedos sobre a mesa do escritório. - Senh... Laura - me corrigi, - eu a chamei aqui para saber o que está acontecendo com Adam.

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