VIII

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- Senhor, já estamos fechando.

O homem levantou a cabeça e olhou para mim. Seus olhos estavam vermelhos e tinham dificuldade de manter o foco. Ele segurava o copo de uísque de forma relaxada, e o cabelo escuro estava um pouco despenteado. Já o havia visto algumas vezes antes, sempre sozinho e sempre bebendo o mesmo uísque.

- Que horas são? - ele perguntou. Sua voz estava arrastada. - Meu celular está sem bateria - ele apontou para o iPhone desligado que estava sobre a mesa.

- Bem - eu apontei para o bar vazio, - já está tarde o suficiente para que todos fossem embora... menos o senhor.

- Ah, nossa... - ele pareceu surpreso. Notei que suas bochechas estavam vermelhas. - É melhor eu ir.

Ele se levantou com aquele cuidado especial que os bêbados sempre parecem ter. Usava uma camisa regata branca e o paletó estava sobre a bolsa do outro lado da mesa. Peguei suas coisas enquanto ele se apoiava no encosto da cadeira.

- Quer que eu te chame um táxi? - perguntei, colocando a mão em seu ombro. - Um Uber, não sei...

Aquilo era quase rotineiro para mim. Tenho certeza de que se eu começasse a cobrar para tomar conta dos bêbados que ficavam no bar depois da hora, eu teria uma margem de lucro muito maior. O homem pareceu cambalear um pouco e eu o segurei para evitar que ele caísse no chão.

- Na verdade... - ele parecia ofegante. - Eu estava pensando em ficar por aqui.

Levantei a sobrancelha, confuso.

- Isso é um bar, senhor, não um albergue.

- Eu sei - a mão do homem foi até meu braço, apertando. - Mas é que eu... te achei tão bonito, fiquei na esperança de que... você sabe...

Nossa.

Fiquei estático por alguns segundos enquanto encarava seus olhos, e foi só então que notei o quanto ele era bonito. A mão que estava em seu ombro desceu para o braço enquanto a outra foi para a sua cintura. Seu corpo parecia forte, mas não malhado. Ele também tinha a barba por fazer.

Automaticamente me inclinei para frente, para perto dele. Sentia o cheiro da bebida no seu hálito, e sua pele estava quente; mesmo sob o tecido da camisa, eu conseguia sentir o calor. Ele também inclinou-se para frente, e sua barba curta roçou no meu pescoço, fazendo eu me arrepiar inteiro.

- Passei noites aqui esperando uma chance de ficar sozinho com você - ele falou no pé do meu ouvido. - Sempre te observando com essa cara fechada trabalhando atrás do balcão. Gosto de homens assim. Qual é o seu nome?

- Meu nome é Thiago - respondi.

O homem colocou a mão entre as minhas pernas e apertou. Senti seu rosto se abrir em um sorriso. Fiquei quieto, sem saber o que responder. A verdade é que depois de uns anos sempre acontecia de eu terminar a noite com algum cliente na minha cama, mesmo não fazendo ideia dos nomes deles. A maioria saía pela manhã, antes de eu acordar. Alguns ficavam pouco mais do que isso, mas nunca ficavam por muito tempo.

Não era algo do qual eu sentia orgulho, mas de todos os arrependimentos da minha vida, esse não era um que me preocupava. Mas naquele dia... senti a vontade recuar como uma onda. Tirei a mão da cintura do homem e dei um passo para trás, fazendo com que sua mão saísse da minha virilha. Ele me olhou, confuso, não sabendo o que falar.

- Eu... te ajudo a chamar um Uber.

Meia hora depois eu estacionava a minha moto na frente de casa. Fazia frio para o fim de março, e m arrepiei sob a jaqueta. Desliguei a moto, peguei as chaves do portão de casa que estavam no bolso e abri o portão. Fumaça branca saía de minha boca por causa do frio. Destranquei o portão e entrei, trancando-a logo em seguida.

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