Suicídio de um mendigo

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Deitado no asfalto
À meia noite
Eu espero o primeiro carro passar
Eu espero a morte chegar
O mundo nunca foi um bom lugar

Eu só sei que aqui eu não quero estar,
A vagar por qualquer viaduto,
Inveja de quem tem um lar,
De quem tem alguém pra amar

A minh'alma não pode respirar
Dentro dum corpo que luta pra não falhar
Que luta pra controlar
A fome que não posso saciar

Quem passa por mim desvia o olhar
Quem passa por mim olha apenas
pra julgar
E ressaltar que sou um verme da rua

Com isto logo hei de acabar,
É melhor do que esperar
Que o frio o faça
Depois no jornal eu não quero estar
Na mídia, um caso de estatística e dó;

Não vou continuar a dar nó
Dias após dias estando por um fio
Dias após dias flutuando no abismo
Desejando a paz no caos sem fim
Por que a vida dói tanto assim?

Não tenho medo de morrer
Há muito deixei de viver
Minh'alma se esvaiu no asfalto da rua
E logo vem vindo um carro,
A morte é tão mansa quanto o silêncio da noite.

DesvanecendoOnde histórias criam vida. Descubra agora