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Nas primeiras semanas tentei conversar com Rúbia. Para a minha surpresa o número dela constou como inexistente. Sakura que voltara ao país alegou ter perdido contato com a amiga. Decidi esperar para ver se ela mudaria de ideia.

No fundo eu estava louco para revê-la, só não queria sufocá-la e deixá-la ter o tempo que quisesse. Enquanto isso, comecei a acompanhar meus irmãos no psicólogo mas nunca participei de nenhuma sessão.

Graças a Deus eles estavam se recuperando bem. Embora, uma máfia nunca se dissolve completamente, estávamos cientes de outros membros espalhados pela cidade. Era só questão de tempo para prendê-los também.

Aquela carta de Nathan, compartilhei com meus amigos. Lamentamos profundamente pela escolha dele e até organizamos o local do enterro para demonstrar que não o odiávamos.
Foi um abalou para todos nós mas isso não impediu de reconhecermos o arrependimento dele.

Nossas vidas ficaram com uma lacuna...uma mudança que jamais esperávamos. Sempre que nos reuníamos olhávamos para a mesa que outrora completa, faltava uma cadeira.

Aquela dor excruciante foi diminuindo. Eu queria bloquear tudo o que estava me fazendo sofrer quando decidi me conformar com as perdas. No entanto, fiquei mais isolado. Isolei minhas emoções. Isolei meus pensamentos. E todos notaram isso.

Como eu tinha férias vencidas, planejei tirar um tempo só pra mim. Conversar mais com Deus. Curar meu psicológico e coração. Quem sabe eu me esquecesse mais de Rúbia.
Afinal, já tinha um mês que ela não retornou minhas mensagens.

....

- Aqui é tão bom. - Sussurro, encarando a imensidão verde. Aluguei por alguns dias um chalé no interior da cidade. Estava gostando muito. Em uma semana coloquei minha lista de leitura em dia. Conheci pessoas hospitaleiras e agradáveis. A dona, inclusive era uma cristã fervorosa e mesmo sem eu ter dito nada sobre minha vida, em um assunto aleatório, disse que Deus estava  curando minha alma porque ela já estava atrofiada de tristeza.

As palavras haviam desaparecido da minha mente. Permaneci imóvel esperando que ela dissesse mais alguma coisa. Porém, dona Tânia começou a cantarolar uma canção sobre Graça.

Lembro de ter pedido licença e me trancar no quarto, chorando igual criança. A intensidade da dor veio de uma vez. Não sei se foi minha imaginação pregando peça mas senti vívidamente uma mão pousar no meu ombro...e a presença era reconfortante.

Queria ficar por ali mais tempo mas precisava partir para outro lugar. Aproveitaria ao máximo os dias sobrando no calendário.

....

"Quando você volta? Tenho notícias."

Franzo o cenho ante a mensagem de Sakura. Aposto que fuçou novamente no celular de Aaron. Os dois começaram a namorar recentemente, o que não foi surpresa pra ninguém. Eles não conseguiam esconder que gostavam um do outro.

"Sobre o que?"

"Rúbia me ligou e disse estar voltando. Ela chega no aeroporto amanhã ás dez horas."

"Hum."

"Como assim só hum? Eu falei que ia buscá-la só para fazê-la esperar. Você quem vai lá."

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