Capítulo 4

184 21 1
                                    

— Valerie!

Ajoelhada no chão, prendendo um feixe de feno da cor do mel, ela ouviu uma voz masculina forte acima dela. Ele se lembra. Ela ficou quieta, congelada, incapaz de olhar para cima.

— Valerie?

Ela lentamente ergueu a cabeça – apenas para ver Henry Lazar, que segurava um desgastado jarro de água.

— Você está bem?

— Sim.

— Pensei que tivesse ficado surda de tanto trabalhar.

Suas sobrancelhas escuras se ergueram em curvas com a pergunta.

— Ah! Não — ela hesitou, abalada.

Ela ignorou a água e pegou a enorme marreta de cobre que ele segurava na outra mão e levantou-a até o rosto. O metal era fresco e delicioso.

Olhou ao redor; o movimento da colheita havia abrandado na névoa dourada da poeira. Tentou se mexer em um ângulo mais favorável para enxergar melhor. O problema, no entanto, foi que Henry se movimentou, bloqueando Peter de sua visão.

Valerie sentiu o calor penetrar na marreta, e logo ela já não prestava mais. Quando a devolveu, Henry piscou para ela e riu. Valerie colocou a mão no rosto – ela saiu preta. Havia um círculo de fuligem em cada uma de suas bochechas.

— Você é como uma boneca de porcelana durona.

Apesar das palavras, ela gostou de ouvir aquilo.

Valerie dispensou o lenço dele e limpou o rosto em sua manga. Sabia que a água era apenas uma desculpa para Henry estar nos campos, para ser incluído no dia. Ele ficava de fora de um monte de coisas por causa da posição de sua família na cidade; era difícil para ele, ela sabia, estar em uma classe à parte. Porém, ela olhou para as botas de couro novas dele, tão reluzentes que soltavam reflexos, e perdeu qualquer solidariedade que tivesse por ele. Comprar botas como aquelas quando as pessoas ao redor não tinham o que comer parecia muita insensibilidade.

— Sei que são idiotas — ele disse, com um sorriso. Valerie percebeu que não havia sido sutil. — É constrangedor. Mas foi um presente da minha Avó.

Ainda não está bem, ela pensou, sentindo-se agressiva. Tentou ver se Peter notara que ela falava com Henry. Mas ele não parecia ter nenhum interesse; Valerie poderia dizer que ele não havia olhado sequer uma vez.

Henry resmungou que precisava oferecer água para os outros. Todas as jovens em torno, que relaxaram o trabalho para observar Henry, rapidamente retomaram a atividade de prender o feno a seus pés. Quando ele continuou abaixo da fileira, porém, Valerie pôde sentir os olhos persistentes nela por mais tempo que deveriam.

Henry sabia que Valerie estava em um de seus dias de humor contrariado. Ela queria ficar sozinha. Ao se afastar, no entanto, não pôde deixar de observá-la. Circulavam boatos, rumores de que ela havia visto o Lobo quando criança, que isso a mudara e que ela nunca voltaria a ser a mesma. Quando alguém perguntava, ela não dizia nada. Mas era um lugarejo, e não havia segredos.

Ele sempre soube que ela era diferente, mas ele sempre se sentiu um pouco diferente também. Henry pensava que talvez eles pudessem ser diferentes juntos.

***

O sol do meio-dia brilhou abaixo do centro do céu; ele já tinha tostado os campos, que cheiravam a queimado. Abrigados do calor cruel, os trabalhadores cuidavam do almoço sob um bosque na beirada dos campos – como sempre, os homens em um grupo e as mulheres reunidas em outro.

— Olhem para mim! — Roxanne girou, as sementes de feno caindo em volta, como confetes. — Eu me sinto como uma vaca.

— Você está coberta de coisas. — Rose franziu a testa, arrancando pedaços de feno de seu cabelo.

A Garota Da Capa Vermelha Onde histórias criam vida. Descubra agora